VÍDEO OFENSIVO OU ENGRAÇADO?
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VÍDEO OFENSIVO OU ENGRAÇADO?


Uma leitora, a Yasodhara, perguntou: "Há atualmente uma briga muito grande entre feministas e o pessoal que fez este vídeo. O que vc acha, que ele incita ou não a violência contra a mulher? Você acha que humor tem limite?".
Nunca tinha ouvido falar no vídeo. Mas fui atrás e vi três episódios: neste, a protagonista, Amanda, dá dicas de como esconder a violência doméstica (com maquiagem); neste outro, ela ensina como lidar com a traição do seu amado (algo como “não importa se ele venha caído de bêbado e carregado por duas piranhas, é pra sua cama que ele volta quase todas as noites” — eu trocaria a palavra “piranhas” por outra menos ofensiva), e neste, como fingir orgasmo. Amanda é uma gracinha. Voz e ar de sonsa, jeitinho sapeca, e só fala besteira — como pulula nos comentários (masculinos) do YouTube, a mulher perfeita (eu sei, eu sei que faz mal à saúde ler comentários do YouTube).
Bom, falando por mim, não em nome do feminismo, eu, só euzinha, já falei que não falo em nome de ninguém?, achei os vídeos engraçados. Na vida real, conheço gente que pensa assim, e muitos falam igualzinho a Amanda. Não creio que o primeiro vídeo seja uma incitação à violência. Pelo contrário, é uma crítica a quem acha que mulher que apanha deve aguentar calada, e que o mais importante é segurar o marido. Mas o detalhe das mãos (“evite sempre os ossinhos”) eu achei um pouco demais. Não por ser didático. Por ser realista mesmo.
O problema com toda ironia é o de sempre: quem acha que Amanda está coberta de razão, e que no fundo ela é uma pessoa sábia, não entenderá a piada. Difícil alguém daqui deste bloguinho não sacar a ironia do vídeo. Quer dizer, como levar a sério uma “dica” como a do final do primeiro vídeo? (“Lembrem-se: mulher que apanha do marido fica solteira. Mas mulher que cai da escada ou bate com a cara no armário da cozinha fica casada, e pra sempre”). É muito evidente que pessoas que pensam como Amanda são retrógradas, estão erradas, vivem no século retrasado e votam no Serra (desculpe, não resisti a esse último pedacinho).
Se humor tem limite? Eu até concordo com Mark Twain, que disse que humor é tragédia, mais tempo (“humor is tragedy plus time”). Em outras palavras, fazer uma sátira do atentado às Torres Gêmeas no dia 12 de setembro de 2001 não seria uma boa ideia. Mas, quem sabe, uns anos depois, dá pra tirar sarro de tudo.
Acontece que algumas tragédias nunca saem de moda. É o caso da violência contra as mulheres. Nenhuma piada sobre estupro é engraçada. Não existe isso. Estupro, ou a ameaça de estupro, é parte integral das nossas vidas. Só alguém que não vê estupro como uma tragédia pode fazer ou rir de piadinhas de estupro.
Se bem que, depois de escrever isso, lembrei de Lolita. O romance do Nabokov definitivamente pode ser visto como uma história de abuso sexual infantil. E, ainda assim, toda vez que releio essa obra-prima eu rio alto. Então passo a bola pra vocês, leitor@s: humor tem limite?




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