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Vivendo do passado - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 05/02
A fim de ressaltar méritos de seu governo, presidente esconde problemas e não enfrenta desafios que já pesam sobre o país
A acreditar no discurso oficial, o Brasil caminha a passos firmes e largos para se tornar o paraíso na Terra; tudo de bom que aqui existe foi criado a partir de 2003, com a chegada do PT ao Planalto, graças à clarividência dos presidentes Lula e Dilma Rousseff.
Segundo essa narrativa, a economia vai bem, e o povo, ainda melhor. Centenas de bilhões de reais são investidos para garantir saúde, educação, segurança e emprego a todos os brasileiros; a população não precisa se preocupar com a crise, pois o governo já tomou as medidas necessárias e tem tudo sob seu controle.
Este, em suma, é o cenário descrito na mensagem de Dilma ao Congresso, entregue nesta segunda-feira pelo novo ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante.
Diante de tais palavras, não restaria aos parlamentares mais que ouvir e aplaudir, de preferência sem atrapalhar com projetos ameaçadores para as contas públicas.
Compreende-se que este governo --assim como todos os outros-- queira realçar suas ações bem-sucedidas, tais como os inegáveis avanços sociais. Houve, de fato, forte geração de empregos, redução da desigualdade e melhorias propiciadas por programas nas áreas da educação e da saúde.
O que incomoda, para dizer o mínimo, é a falta de autocrítica e sobretudo de sinceridade quanto aos inegáveis problemas e desafios que o país precisará enfrentar no futuro próximo.
A presidente Dilma Rousseff perdeu uma oportunidade de descer do palanque e apresentar um diagnóstico honesto do quadro atual. Ao continuar dourando a pílula, reforça a percepção crescente de que é cada vez maior a distância entre a propaganda e a realidade.
O desempenho da economia, por exemplo, continua decepcionante, a despeito da retomada internacional. A produção industrial caiu 3,5% em dezembro, na comparação com o mês anterior, e encerrou 2013 com alta de apenas 1,2%.
As projeções apontam para alta do PIB de apenas 2% neste ano. Há perda de credibilidade no combate à inflação e na gestão das contas públicas --em 2013, os gastos do governo tiveram alta de 7,3% acima da inflação, embora os investimentos tenham crescido 0,5%. Os juros sobem e vão terminar 2014 no mesmo nível de quatro anos antes.
Persiste, ademais, a piora na balança comercial, com um deficit de US$ 4 bilhões em janeiro, o maior da série histórica. A situação é clara: a economia internacional está se reconfigurando de forma menos favorável ao Brasil e algumas das fontes internas de dinamismo dos últimos anos perdem força.
Enquanto isso, o governo insiste em jactar-se dos avanços passados e atribuir à crise internacional a culpa pelas mazelas de fabricação interna, que ficam cada vez mais evidentes. Não percebe que o futuro, para o qual não tem respostas nem planos, já bate à porta.
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