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“Deus-mercado” exige mais juros
Por Altamiro BorgesO Conselho de Política Monetária (Copom) do Banco Central anuncia amanhã a nova taxa básica de juros, a Selic. Os “especialistas do mercado” – na verdade, representantes dos banqueiros e rentistas – já prevêem um novo aumento. Garantem que os juros subirão de 12,25% para 12,50% ao ano. Será a quarta elevação consecutiva no governo Dilma.
Como nas vezes anteriores, a pressão do “deus-mercado” é violenta. Diariamente, jornalões e redes de TV disparam que a medida amarga é indispensável para conter o fantasma da inflação. Nem mesmo os últimos índices de preços, que confirmam a queda inflacionária, servem para mudar o discurso repetitivo e terrorista dos agiotas financeiros.
Governo Dilma se curva à pressãoCaso este novo e injustificado aperto monetário se confirme amanhã, o Brasil pisa novamente no breque do crescimento da sua economia – com efeitos destrutivos sobre a geração de emprego e renda. A previsão oficial já é a de que o PIB cresça abaixo dos 4% neste ano. Cada ponto a menos no crescimento representa cerca de 400 mil empregos gerados a menos no país.
Sem personalidade e ousadia, o governo Dilma continua se curvando à pressão do “deus-mercado”, amplificada pelo “deus-mídia”. Em doses “homeopáticas”, segundo a ótica dos gulosos rentistas, o Banco Central (BC) já adotou várias medidas de contenção do crescimento da economia – além dos sucessivos e mortíferos aumentos da taxa de juros.
Restrição do crédito e do consumoNa semana passada, o BC modificou a Circular nº 3.549, de novembro de 2007, relativa ao uso do crédito consignado. Ele reduziu o uso do cartão de crédito nas compras com prazos longos. A medida restritiva atinge principalmente os aposentados e os servidores públicos – que tinham a garantia suplementar do governo para o crédito consignado.
A medida, que se soma a várias outras de restrição ao consumo adotadas neste princípio do governo Dilma, agradou os que vivem da especulação com títulos públicos. “A reação do mercado futuro de juros, num primeiro momento, foi positiva, em vista de que haverá redução do crédito às famílias”, comemorou o editorial do Estadão.
Impactos na América LatinaCom a retomada, mesmo “suave”, das políticas macroeconômicas ortodoxas, os impactos no crescimento já se fazem sentir. Estudo da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal), divulgado na semana passada, indica que, ao contrário do que ocorreu nos últimos três anos, o Brasil crescerá em 2011 menos do que a média da região.
Com expansão de apenas 4% do PIB, o país, responsável por quase 42% da soma das 33 economias do continente, puxará para baixo o desempenho regional. Ele deverá ficar em 4,7%, contra 5,9% em 2010, quando o Brasil cresceu 7,5%. Na América do Sul, o crescimento médio deve ser de 5,1%, ante 6,4% no ano passado.
Sinais preocupantes no horizontePara Osvaldo Kacef, chefe da Divisão de Desenvolvimento da Cepal, os sinais de retração da economia já são visíveis. Ele critica a alta taxa de juros, “atrativa aos capitais externo”; o câmbio valorizado, “um veneno de efeito lento”; e a “primarização” das exportações (a participação dos manufaturados caiu de 55,1% em 2005 para 39,4%).
Mas, apesar dos estragos já causados, os agiotas querem mais. Eles são insaciáveis e, por isso, exigem mais aperto na reunião do Copom. Já a mídia rentista bate bumbo. Editorial da Folha de domingo (17) revela toda a pressão do “mercado financeiro” contra o desenvolvimento do país, em especial contra a melhoria de vida dos trabalhadores.
Salário mínimo no alvoMesmo reconhecendo que “o governo conseguirá domar a economia em 2011”, sem dar o braço a torcer de que a “explosão inflacionária” era puro blefe, o jornal faz previsões catastróficas sobre o futuro. Para justificar mais juros e menos crédito, ele culpa o aumento de 14% no salário mínimo em 2012, conforme o acordo firmado entre governo e centrais sindicais. Para a mídia rentista, este reajuste fará a inflação explodir, gerando indexação dos preços.
“O nível de emprego ainda será historicamente elevado. O aumento da renda das famílias pressionará ainda mais a alta inflação no setor de serviços, que não é afetado imediatamente pela restrição de crédito imposta de modo gradual pelo Banco Central”, esbraveja a Folha, num discurso repugnante contra a geração de emprego e renda.
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