“MEU PRESIDENTE É NEGRO”
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“MEU PRESIDENTE É NEGRO”


Esta é uma semana em que eu adoraria estar de volta aos EUA, comemorando a vitória do Obama, porque sei que o clima lá deve ser de grande alegria. Em junho, fui ao primeiro comício que o Obama realizou em Michigan durante esta longa campanha, e o clima de esperança já era contagiante, mesmo numa cidade como Detroit, que vem sofrendo uma feroz crise econômica há décadas (quando as montadoras automobilísticas partiram pra países em desenvolvimento para poderem lucrar mais). Em setembro, um mês depois de eu voltar pro Brasil, ele realizou um comício ainda maior a três quarteirões de onde eu morava. Deve ter sido o máximo.
Quase 85% da população de Detroit é negra. E, como as estatísticas apontam que 95% dos negros americanos votaram no Obama, é só fazer as contas pra calcular o nível de euforia. Martin Luther King foi assassinado há quarenta anos. Nos anos 70 houve algumas revoltas, mas é difícil saber se a situação pros negros melhorou. Claro, meio século atrás seria impensável que americanos brancos elegessem um presidente negro. Mas é quando acontece uma tragédia como o Katrina em Nova Orleans (outra cidade com imensa maioria negra) que a gente vê como a discriminação racial ainda existe nos EUA. E em muitos casos ela é como a nossa no Brasil: bem econômica (mas menos cordial). Basta ver como os negros americanos, que representam apenas 13% da população, ganham muito menos que os brancos, têm menos acesso à saúde e à educação, e lotam as cadeias numa proporção muito maior. O sucesso do Obama, infelizmente, não é a regra. É uma exceção mesmo. Só espero que seja o primeiro de vários casos.
Outro dia conversei com uma brasileira que morou no sul dos EUA e disse que estava torcendo pelo republicano McCain porque os negros de lá haviam sido preconceituosos com ela, branca. Tentei me lembrar de algum momento do meu “ano americano” em que os negros não me trataram bem. Não consegui. O que me lembro é de homens negros que respeitosamente me diziam “Good morning”, ou de grupos que adoravam conversar nos ônibus, e não tinham o menor problema em integrar quem quer que fosse nos papos. Lógico que, de modo geral, os homens eram mais simpáticos e amigáveis que as mulheres. E lógico que ajuda se você também é simpática e brasileira, já que todo mundo, em qualquer lugar do planeta, abre um sorriso pra brasileiro. Lembro também de conversar com homens negros que estavam cansados do way of life americano e sonhavam em se mudar pra Costa Rica ou Brasil. Será que ainda pensam assim agora?
Gosto do Obama por vários motivos, e apenas um tem a ver com a cor da sua pele. A celebração mundial pela sua vitória é porque ela significa o fim de um governo hediondo como o do Bush, e também por representar mudança e alternância de poder. Mas penso que ninguém tem tantos motivos pra comemorar como os negros americanos. A eleição de Obama é um sinal, pela primeira vez em tantas décadas, que “yes we can” (sim, nós podemos, slogan da campanha). Acho que a gente nem precisa ser negra pra entender o êxtase de jovens negros gritando “Meu presidente é negro!”. Parabéns, negros americanos. Vocês são poucos, mas podem voar. Tomara.




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