"EU QUERO UM RELACIONAMENTO ABERTO E MEU MARIDO NÃO QUER"
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"EU QUERO UM RELACIONAMENTO ABERTO E MEU MARIDO NÃO QUER"


L. me enviou este email que eu respondo abaixo:

"Querida Lola, chamo-a de querida, pois é assim que sinto você em relação a mim depois do guest post que li e que tanto me identifiquei a respeito do relacionamento aberto (RA), sendo mesmo pra mim uma espécie de tábua de salvação, ao perceber que não estou ficando louca! Espero que vc possa me dar uma luz! 
Sou filha de uma família maravilhosa com valores pautados na união e amor ao próximo, tendo como base a religião espírita. Embora tenha a consciência dos meus compromissos espirituais, estes não foram suficientes para me fazerem “superar” as minhas tendências de querer estar com outras pessoas, mesmo sendo casada. 
Conheci meu marido quando eu era adolescente, e hoje tenho um relacionamento duradouro de quinze anos, e dois filhos lindos. 
Há mais ou menos 10 anos aconteceu o indesejável: me apaixonei por um homem casado. Era uma atração terrível, daquelas que a gente sente à primeira vista! Resisti, embora sofrendo, e quis me separar do meu marido para viver este relacionamento. Mas engravidei do meu segundo filho e tudo se acalmou. Esta situação ocorreu mais duas vezes, criando um caos total dentro do meu casamento. 
Eu sempre me sentia a vilã da história, pois eu queria a separação por não ter vivido minha adolescência, e por ter dúvidas se realmente meu marido era a pessoa que eu sempre quis. Ele é um homem bom, ótimo pai, marido e amigo (amigo limitado, pois quando se trata deste assunto, ele perde totalmente o equilíbrio!) e louco por mim, chegando a ser mesmo quase uma obsessão. 
Volta e meia, esta situação de eu me interessar por outro homem se repetia, e eu sempre fui muito sincera, contava todos os detalhes pois privo muito pela honestidade. A situação explodia, nossas vidas viravam um tsunami, a ponto de afetar toda a estrutura da nossa família. Depois tudo se acalmava, e eu me arrependia e jurava que não iria mais sentir atração por outros, e o círculo vicioso se repetia. 
Detalhe: meu esposo é tranquilo, calmo, muito dependente de mim, tem um grande complexo de inferioridade e isso aumentou depois que entrei na faculdade; chegou mesmo numa dessas situações a pensar em se matar, em me ameaçar, me agredir de todas as formas, principalmente psicologicamente. Há momentos em que eu acabo me sentindo obrigada a estar casada com ele, embora quando estamos bem não sinta isso. 
Em relação a ele, já ocorreram algumas situações em que despertaram muito o meu ciúme, e eu brigava. Porém, de uns tempos pra cá, decidi que não queria mais isso e propus de realizarmos as nossas fantasias sexuais, já que estas envolvem outras pessoas. Pois bem, quando se trata de realizar a dele ok, mas quando falo da minha em transar com outro cara, ele muda totalmente e nem quer mais tocar no assunto. 
Atualmente estou passando pela mesma situação: estou apaixonada por um vizinho, casado, e em crise no casamento, e estamos muito envolvidos. Jamais me imaginei nesta situação, com um cara casado, mas aconteceu! Diferente das outras vezes que eu me envolvia apenas emocionalmente com outras pessoas que eu sequer beijava, e sempre corria e abria o jogo pro meu marido, desta vez tenho me encontrado com frequência com este vizinho. Já decidimos até transar, e eu não contei nada, e mais, até menti, já que meu marido percebe que o cara me olha diferente, morre de ciúmes e já me perguntou se nos encontrávamos.  
Sempre conversamos muito, pois eu sempre prezei pelo diálogo no nosso casamento, e ele chegou até mesmo a falar que eu poderia ir e me encontrar com outras pessoas e que ele não queria saber, mas depois ele volta atrás! Não quero terminar meu casamento, tenho muitas inseguranças em relação a isso e muitas delas estão atreladas também à minha religião e à minha família. 
Propus o relacionamento aberto a ele, mas não entra em sua cabeça! Ele não consegue conceber a ideia de pensar em mim com outro cara. Disse que já colocou a situação pra outras pessoas, sem contar que era ele, e é claro, ninguém concorda com esta forma de se relacionar. Nesse meu processo de autodescoberta, percebi que não me satisfaço com uma pessoa só, ainda que eu o ame muito. Tenho necessidade de estar com outras pessoas, de vivenciar outras paixões, sem que pra isso eu não tenha que estar separada. 
Nosso casamento é lindo, temos uma história de muita luta que acho que pouquíssimas pessoas têm, não quero jogar tudo isso fora, embora existam momentos em que tenho vontade de  me afastar, dar um tempo, e que ele não aceita de forma nenhuma! Meu desejo aumenta cada vez mais em relação ao meu vizinho, tenho tentado me controlar muito, mas há momentos em que me revolto com tanta pressão. Não sou vítima, nem nenhuma pobre coitada, mas estou perdida, não sei o que fazer. Sei que se lutar contra isso conseguirei esquecer o rapaz, mas isso vai se repetir com outra pessoa e a sensação de frustração é horrível. Me ajuda Lola, não sei o que fazer!

Minha resposta: Pelo jeito, L, vc, assim como tantas outras pessoas, não é alguém que se dá bem com a monogamia. Vc precisa de outras pessoas para amar emocional e fisicamente, e não há nada de errado nisso, desde que o seu parceiro concorde. Não sei se você já leu O Livro do Amor, da Regina Navarro Lins. É excelente. Ela é entusiasta de relacionamentos abertos, e diz que é uma imposição desumana exigir que a gente só tenha interesse sexual (e afetivo) e se relacione com uma só pessoa por anos a fio. 
Acredito plenamente que o seu marido tenha perguntado a outras pessoas sobre relacionamento aberto e que a maior parte tenha virado o nariz. É um assunto que provoca muita discussão, repulsa até. Mas isso é a maior hipocrisia, porque, como sabemos, um monte de gente trai. Um montão de homens e mulheres têm ou já tiveram amantes. E acho que o RA pode ser uma possibilidade pra impedir que essa traição aconteça. Afinal, se o parceirx sabe, não é traição, é?
Mas isso não resolve o seu problema. Seu marido não concorda com RA. E, pelo que vc descreve, ele é muito ciumento, o que é um perigo. Cuidado com a obsessão dele por vc! Isso quase sempre é um péssimo indício, ainda mais se vc descreve vagamente algumas "agressões". Esses "crimes passionais" -- que eu prefiro chamar de feminicídios -- são quase sempre causados por parceiros e ex-parceiros que são ciumentos demais. Espero de coração que seu marido não seja assim.
L, não sei o que te sugerir. Vc ama seu marido, mas ele não quer ceder em algo que é importante pra vc. Não sei se resta outra alternativa que não seja terminar a relação. Isso, claro, depois de muita conversa, mas isso vcs já vem fazendo. Saiba apenas que, no seu próximo relacionamento, vc terá que encontrar um homem que aceite RA, senão você terá os mesmos problemas. E saiba que encontrar homens assim não é fácil. Geralmente eles gostam muito da ideia de relacionamentos abertos pra eles, mas pras parceiras é diferente. E claro que isso é machismo, inclusive porque é baseado em crenças idiotas de que só homem gosta de sexo, que homem precisa de variedade, e que mulher precisa ser sempre vigiada (não se sabe porquê, já que não gostamos de sexo mesmo). 
Sobre como o conceito de RA entra em choque com a sua religião, isso é algo que vc precisa trabalhar. Lembre-se que sua vida sexual só diz respeito a vc (e, talvez, a seu parceiro ou parceiros). Vc não tem que prestar contas pra ninguém de algo que vc não considera errado. Vc não está cometendo nenhum crime. Só está querendo ter um relacionamento menos engessado. Num mundo ideal, daria pra vc ter um relacionamento aberto e continuar feliz com sua família. 
Boa sorte!




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