"FIZ CIRURGIA BARIÁTRICA E NÃO ESTOU BEM"
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"FIZ CIRURGIA BARIÁTRICA E NÃO ESTOU BEM"


Relato da A.:

Primeiramente, gostaria de dizer o quanto admiro a sua luta no feminismo. E admiro mais ainda a sua humildade em rever seus conceitos e práticas e admitir que errou, como todos erramos muitas vezes, como vc fez no post "Praticamos nossos preconceitos contra quem?"
Vou deixar o meu relato, porque acredito que possa ajudar as pessoas que passaram ou pensam em passar pelo mesmo que eu passei.
Hoje eu tenho 23 anos e, há 8 meses, passei por uma cirurgia bariátrica.
Sempre fui gordinha. Venho de família italiana com mulheres muito obesas. Tenho só duas primas magras, consideradas as mais maravilhosas do mundo pela família, e sempre fui marginalizada e discriminada dentro da minha própria casa, comparada com essas primas e ridicularizada. Só os meus pais não tinham esse comportamento comigo e, por medo de me magoar, hoje vejo que foram até displicentes com a questão da minha obesidade.
Fato é que, aos 22 anos, depois de uma depressão severa e passando pela fase do TCC, cheguei aos 107 quilos. Para os meus 1,62m, estava MUITO acima do peso. Depois dos 17 anos, quando passei a viver sozinha em São Paulo, a obesidade deixou de ser uma grande questão pra mim, talvez por isso eu tenha engordado tanto. Hoje eu percebo que ainda era uma grande questão, mas que eu fazia questão de negar. Vivia bem, me aceitava bem, fingia não ouvir os xingamentos, não sentir o preconceito, mas isso só na superfície. Quando contei às minhas amigas que faria a cirurgia, elas ficaram chocadas e me dizem isso até hoje, porque elas me achavam a gordinha mais incrível do mundo, com a autoestima lá em cima, pegando os caras e etc. 
Bom, fiz a cirurgia e já eliminei 35 quilos, estou quase magra. Minha cirurgia correu muito bem, até os médicos ficaram impressionados. E eu estava muito ciente da minha decisão (demorei 2 anos pra decidir, de fato), então a cabeça estava boa. Passava bem, comia muito pouco e tranquilamente e não tinha grandes problemas. 
Fato é que, de dois meses pra cá, as coisas não estão tão tranquilas assim. Por fatores que ainda não sabemos se físicos ou psicológicos (grandes chances de que sejam psicológicos) passei a ter fortes dores sempre que como, nunca mais tive prazer em sentar pra comer, eliminei quase tudo do meu cardápio. Atualmente, a única coisa que me faz bem é sopa. Passei duas semanas sem comer praticamente nada. Andava emagrecendo 2 quilos por semana, desenvolvi uma anemia fortíssima e tenho que tomar remédio na veia por sete semanas, no hospital, mais injeções muito doloridas para tentar controlar. 
Na semana passada, por causa dos medicamentos, descobri que tinha ganhado 200 gramas, quase morri. Aí sim não queria comer. Sempre que alguém chega pra me fazer um elogio, respondo dizendo que "Não, imagina, ainda faltam 20 quilos". Dez extremamente desnecessários, segundo o meu médico. Meu maior medo é não atingir essa meta que eu mesma me impus, ser tachada como um fracasso por todo mundo, depois de ter feito tudo isso. Mas essa foi a única decisão na minha vida que eu tomei por mim, sem pensar em ninguém. Nesses últimos dias, tenho andado deprimida, a falta de comida faz abaixar as taxas de serotonina e todos os hormônios responsáveis por fazer com que a gente se sinta bem e feliz. Tenho um corpo ótimo, posso comprar todas as roupas que eu sempre quis e isso me deixa feliz.
Mas me entristece não poder apreciar um hambúrguer com os meus amigos no final de semana, me entristece vomitar no meio da rua por comer quatro macarrões e largar o prato todo na mesa, me entristecem as dores e a distorção que eu vejo no espelho. Meus amigos do interior vieram me visitar no final de semana e disseram que nunca me viram tão pra baixo. Isso é muito triste. Me entristece, principalmente, por ser feminista. Por passar a vida lutando contra o discurso machista dominante e no fim me ver tragada por ele. Me entristece continuar sendo tratada como lixo por homens machistas e por essa sociedade misógina.
No fim, o que eu queria dizer é que eu não me arrependo de ter tomado essa decisão por mim. Mas que nem tudo é mar de rosas. Queria dizer pra quem se sente bem com o seu corpo, sendo gordinha ou magrinha, que siga assim. Aos poucos, nós vamos quebrar esse paradigma. Nenhum direito de minoria é conquistado senão com muita luta e com muita lágrima, mas um dia vem.

Meus comentários: Querida A., acho que entendo o que você está sentindo. E creio que não é incomum com quem faz cirurgia de redução do estômago. Por um lado, é realmente muito tentador pra quem sempre foi gordx, pra quem já fez de tudo pra emagrecer, se submeter a uma cirurgia dessas e conseguir realmente perder peso. Por outro, toda a sua relação com a comida muda, e há riscos de óbito (entre 0,5% e 1%). Sem falar que há muitos casos em que a pessoa reganha o peso.
A última vez que fui ver minha gastro (que é muito boazinha, ao contrário da minha ginecologista; a gastro nunca me dá bronca ou faz previsões alarmistas), ela perguntou se eu gostaria de colocar uma banda gástrica (anel) durante uns seis meses. Eu respondi que não, que preferiria tentar emagrecer adotando hábitos mais saudáveis. Tenho o dobro da sua idade, A., e, infelizmente, agora a obesidade começou a pesar. Depois de décadas sem qualquer problema, agora estou com gordura no fígado, princípio de diabetes, e alguma restrição de mobilidade (subir e descer degraus de ônibus, por exemplo, é um sufoco). Esteticamente, já me acostumei a ser gorda. Mas tenho que emagrecer por causa da saúde. Sem neuroses, sem pressa. 
Tô tentando. Desde agosto, incorporei o tal suco verde a minha dieta. Todo dia eu faço um suco muito bom (maridão adora) no liquidificador, com montes de frutas e verduras. Não coo nem coloco açúcar ou adoçante. Pra quem não tomava café da manhã (meu caso), o suco está mudando meu pique. É uma refeição e me passa uma sensação de saciedade. Às vezes tenho uma recaída com chocolate (tipo essas duas últimas semanas), e ainda não estou me exercitando. Mas certamente me alimento melhor. 
Como não me peso, não tenho ideia se já emagreci ou não. O que me interessa é ver se minha taxa de glicose (que tinha passado pra 120 pela primeira vez na vida) baixou. Vou fazer novos exames de sangue em breve, e ficarei revoltadíssima se os índices não tiverem baixado. Putz, todo o chocolate que deixei de comer não causa alteração?
Enfim, euestou revoltada. Porque fui super saudável, apesar de gorda, durante grande parte da minha vida. E foi só ficar mais velhinha que, puf, surgiram vários problemas. O que eu queria era poder continuar comendo o que eu gosto, ser saudável como sempre fui, e viver até os 150 anos. Só! É pedir demais?
Boa sorte, A.! Não fique obcecada com seu peso. Ignore os homens machistas, e preocupe-se apenas com a sua saúde.




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