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GUEST POST: O MACHISMO QUE ESTÁ EM NÓS
A R. me enviou este relato sobre os nosso próprios preconceitos:
Às vezes nós somos machistas e nem percebemos, não é?
Eu mesma fui assim mesmo bradando aos quatro ventos que era mulher e independente, mas veja só minha história...
Quando tinha 18 anos engravidei. Amei aquele bebê desde que soube, não sei explicar por que pois eu odiava crianças, vai saber. Contei para o pai do meu filho, que iria fazer 18 anos dali a 5 meses. Ele ficou chocado e sem reação. Dei uma semana pra ele pensar. Minha proposta: você acaba a relação, diz que eu te traí e ninguém fica sabendo que o filho é seu, você não se ferra. Veja só, eu me achei independente e dona de mim com essa absurda proposta machista...
No fim ele que me amava topou ter o bebê ao meu lado. Esperamos até o quarto mês pois ele sabia que os pais (evangélicos, classe média alta) iriam sugerir o aborto, afinal a namorada do irmão dele foi "aconselhada" a fazer um. Pois bem, quando contamos a verdade meu pai quase morreu, passou a noite sem falar comigo, então fui dormir. Acordei com ele balançando a minha rede com uma sacola enorme de coisas de bebê. Meu pai, que "prendia suas cabras e soltava seus bodes", como se diz aqui no nordeste, apesar do choque, já amava aquele bebê.
Então foi a vez da família do meu namorado: a mãe ligou pra minha casa, e pediu para falar com o meu pai e disse que iria me processar por abuso de menor, que eu era "rodada" e queria dar o golpe do baú. Eu e o namorado iríamos ter uma festa "só pra constar" pra família. Eu não queria casamento porra nenhuma! Só queria ter meu filho! Mas fazer o quê, né? Mulher que tem filho solteira não é digna...
Dois dias antes do "casamento", descubro que o noivo foi obrigado a fugir! Vestido, festa, tudo adiado! Deixei essa história pra lá e vivi minha gravidez com muita vergonha, pois poxa vida, eu era mãe solteira! Quando estava perto de ter o bebê o moço veio pedir pelo amor de deus ao meu pai que deixasse ele passar o tempo que fosse comigo. Meu pai que queria as filhas casando virgens aceitou aquele homem na casa dele, e o tratou como filho.
Meu filho nasceu, a família dele pediu pra vê-lo, relutei mas acabei voltando a andar naquela casa de "cristãos". Nunca fui tratada como esposa, era apenas a mãe do bebê. Meu namorado pediu pra eu suportar e me sujeitei àquilo pois achava que era o correto uma mulher obedecer ao marido, fazer tudo por ele.
Com o tempo cuidar de um bebê mesmo com meus pais ajudando foi ficando pesado para o pai saído da adolescência. Ele queria ser jovem, eu também, mas eu era mulher, ele homem, eu já sabia que iria ficar com o peso maior. Passados alguns anos ele decidiu simplesmente morar fora e foi para a Europa. E eu fiquei. Sozinha.
O tempo passou. Desisti de encontrar alguém pois sempre que começava um relacionamento e dizia que tinha filho vinha a conversa: Ah, eu não sou homem para você, você merece mais! Aham, sei. Parei de procurar, desisti mesmo. Um dia por acaso conheci alguém que me encantou, mas decidi que iria espantá-lo, afinal, quando soubesse do filho...
Assim que começamos a conversa eu falei: tenho um filho. E ele: "Legal Eu também!" Falei dos outros antes dele para espantá-lo e ele dizia: "E daí? Também tive outras mulheres". Eu sou cheia de amigos homens e ele achou ótimo, me apresentou os dele, adorou aquela mulher que se entrosa e até hoje sou xodó de muitos.
Eu adorava uma farra, deixei claro, e ele amou uma companheira de putarias! Namoramos, casamos e há 8 anos estamos juntos, mas eu ainda insistia em ser machista. Quando eu tinha cinco anos de casada eu já estava numa posição na empresa que me dava status, e ele ganhava a metade do que eu ganhava. Eu fazia faculdade e ele nunca gostou muito de estudar. Eu nunca precisei arrumar casa, cuidar dos gatos, limpar nada, lavar, passar...
Ele fazia tudo sorrindo, com brilho nos olhos, e não havia um dia que não me chamasse de linda e dissesse que amava, me ajudava com meu filho que agora era dele, me ajudava com a faculdade, ouvia e me aconselhava sobre problemas com trabalho, me tratava feito uma rainha.
Mesmo assim eu achava ruim, massacrei o coitado, acabei com a autoestima dele pois "o homem tem que prover o lar". Um dia ele cansou e decidiu ir embora. Quando eu percebi parecia tarde demais, eu tinha em casa o homem perfeito e o perdi! Então chamei o meu marido para uma conversa, a mais longa, tensa e emocionante da minha vida. Eu percebi naquele momento que agi como muitos homens fazem tratando suas esposas como escravas e acabando com a autoestima delas. Eu fui machista com o meu marido. Eu me tornei um monstro. Mas eu queria mudar e ele me amava, sorte minha! Conseguimos nos acertar.
Ainda ganho mais do que ele, mas aprendi que ninguém é escravo de ninguém, que homens e mulheres são iguais mesmo diferentes, e que não existe essa de homem da casa ou mulher do lar, existem dois seres que se amam e compartilham desse amor de formas diferentes. Meu marido ainda me ajuda (e muito) com as tarefas do lar, ele gosta e leva numa boa quando dizem que é a mulher da relação, e diz que é uma honra ser mulher! Brinca com nossas diferenças, diz "Se eu sangrasse por sete dias e não morresse eu seria demais!"
Não se importa em lavar suas cuecas e as minhas calcinhas. Volto da faculdade e tem uma jantinha no capricho, ele gosta de me mimar. Também faço meus mimos pra ele. Foi difícil aceitar a questão financeira, o machismo está enraizado até em nós e não percebemos isso. Foi difícil aceitar que o homem lave, passe, limpe e cozinhe melhor do que você. Essa é a questão. Se não deixarmos primeiro o machismo que está em nós. do que adianta o homem não ser machista?
Ensinar a justiça e a igualdade pro meu filho é uma luta diária, os mais novos parecem que estão retrocedendo, mas eu tento. Quero ele diferente e sem amarras, como o meu marido é. A nossa luta por um mundo menos repressor ainda está longe de acabar, mas primeiro devemos nos auto analisar: até que ponto esse mundo não é feito por nós mesmas?
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