8) VIAGEM AO SUL DO SUL: UM PARAÍSO CHAMADO IBIRAQUERA
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8) VIAGEM AO SUL DO SUL: UM PARAÍSO CHAMADO IBIRAQUERA


Vista aérea de Ibiraquera, SC. À esquerda da faixa de areia a lagoa, à direita o mar. Um espetáculo.

Esta é a última parte da minha saga de viagem ao sul do Sul, que eu e o maridão fizemos em 2003. Leia as outras partes antes: 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7. Sei que vocês não se animaram ao ponto de deixar comentários, mas acreditem: na época, quando essas crônicas saíram no jornal, um monte de moça mandou email pedindo o maridão emprestado! Eu não emprestei. Pô, se pelo menos oferecessem dinheiro...

ANDANDO SOBRE AS ÁGUAS

Seguimos a recomendação do argentino de Capão e fomos pra Ibiraquera. O nome é difícil, mas, apesar da pronúncia triste, da estrada de terra e da placa quase escondida na BR, conseguimos chegar. Ibiraquera fica entre Imbituba e Garopaba, bastante perto da Praia do Rosa. Suponho que as duas cidades fiquem brigando, disputando a propriedade do paraíso (Ibiraquera ainda pertence à Imbituba, segundo fontes seguras, e deve se emancipar logo). Bom, a beleza de Ibiraquera é indescritível, mas vou tentar descrevê-la. De um lado há mar aberto, bom pra surfistas, péssimo pra Lolinhas indefesas. Do outro, há uma lagoa rasa e grande, e mar e lagoa se juntam. Quem vai lá fica andando de um lado pro outro – do mar pra lagoa, da lagoa pro mar. E a impressão que dá é que estamos caminhando sobre as águas. Fora isso, o lugar tem inúmeras garças, gaivotas, e outros pássaros cujo nome desconheço (como já disse o poeta, sou passarinho, não ornitólogo). Eles ficam bem pertinho da gente, pescando. Tanta proximidade levou o maridão a fazer mais um de seus trocadilhos infames. Citando "Garota de Ipanema", ele declamou: "Olha que coisa mais linda, mais cheia de garças". Nessa hora, não me contive e o derrubei.
A gente nunca tinha ouvido falar de Ibiraquera. Lá tem as duas espécies típicas de qualquer praia catarinense: gaúchos e paulistas. O maridão até sugeriu vender uma camiseta com os dizeres "Sou paulista sim, por quê? Nunca viu?". O derrubei de novo. O dono da pousada onde ficamos era um gaúcho de 22 anos, acredite se quiser, tão jovem e já tão dono de uma pousada... Era também uma simpatia. Dava dó vê-lo preparar bolos à noite, deixando-os prontos pro café da manhã. Mas ele parecia gostar do que fazia. Revelou-se um profundo conhecedor de muitas praias por todo o Brasil, e contou pra gente que optou por Ibiraquera pela beleza e pelo espírito de descoberta. Ele e outros membros da associação de moradores não querem asfalto de jeito nenhum. Sinceramente: e precisa?

MESTRE BIGODINHO ATACA NOVAMENTE

Durante toda a viagem ao sul do Sul, choveu apenas um dia em mais de duas semanas. O resto do tempo foi aquele sol escaldante e maravilhoso que nos forçava a passar bronzeador a toda hora. O maridão, acho que já contei pra você, é tão branco, mas tão branco, que ele mesmo se apelidou de "Sueco Anão". Não me lembro assim de memória do fator de bronzeador que ele usa, mas beira os três dígitos, pra você ter uma idéia. Bem, eu, pra apimentar a rotina do casamento, com um olhar lânguido e insinuante ofereci pra ele: "Quer que eu passe o bronzeador nas suas costas e, quem sabe, em outras partes mais interessantes da sua anatomia?". Ao que ele respondeu, muito sério: "Pode passar nas minhas costas e só. E não faz hora". (Ele, dois segundos mais tarde:) "Ahh! Você tá desperdiçando bronzeador!". Logo, depois de várias tentativas frustradas de transformar uma simples passada de bronzeador num intenso momento erótico, cada um acabou passando em si próprio.
Naquele paraíso chamado Ibiraquera, eu e o maridão nos preparávamos para ir à praia. Ele havia separado a camiseta que, após essas crônicas, já está famosa em todo o Sul do país, quiçá no mundo (haaaa! Desculpe, não pude resistir) – sabe, aquela que diz "Capoeira" e "Mestre Bigodinho". Poucas camisetas na história da humanidade destoaram tanto assim do dono. Observe o diálogo que se seguiu.
Ele: "Já que minha camiseta foi amplamente ridicularizada, eu vou entrar na água com ela".
Eu: "Ótimo, Mestre Bigodinho. Vamos ser a atração turística da praia".
Ele: "Entrar de camiseta na água é bom pra mim. Não posso me queimar".
Eu: "Tudo bem, eu entendo. Mas, se você vai usar a camiseta por cima, por que você tá passando bronzeador nas costas agora?".
Ele: "Ué, pro bronzeador estar lá quando eu tirar a camiseta".
Eu: "Sim. Vai estar lá, Mestre. Na camiseta, não nas costas. E aí?".
Ele: "Aí eu esfrego a camiseta nas costas".
Eu: "Espero viver pra ver isso".
Moral da história: cada um tem o Mestre Bigodinho que merece.


DRIBLANDO O TEMPO
Gostamos tanto de Ibiraquera que decidimos ficar mais um dia. Só que choveu durante boa parte do dia seguinte. Era uma chuvinha insistente que fazia o maridão preferir dormir a tarde toda, enquanto eu olhava pela janela e imaginava a praia deserta lá fora. Tentei argumentar com minha cara-metade.
Eu: "Amor, você sabe que nós, seres humanos, somos os únicos animais que podem driblar as condições do tempo. Portanto...".
Ele: "E os argentinos? O argentino de Capão da Canoa não conseguiu fazer nada contra o vento da cidade".
Eu: "Tá, tem razão. Nós, seres humanos, com exceção dos argentinos, que muita gente nem enquadra na categoria de seres humanos mesmo, somos os únicos animais que..."
Ele: "E o joão-de-barro?".
Eu: "Tudo bem, nós, seres humanos, com exceção dos argentinos, somos os únicos animais, fora o joão-de-barro, que..."
Ele: "Seu argumento tá meio claudicante, mas termina, vai".
Eu: "O que eu quero dizer é: você não acha que uma chuvinha à toa vai estragar nosso último dia de viagem, né?".
Ele: "Entendo seu raciocínio – 'Pô, por que paguei mais uma diária?!".
Eu: "Tem isso. Ah, vamos sair, vai! A praia tá logo ali!".
Ele: "Nós, maratonistas, nunca recusamos uma aventura. Aposto como tá passando uma bem legal na Sessão da Tarde".
Eu: "Olha o lado bom. Você vive reclamando do sol. Agora não tem sol. Você não vai se queimar".
Ele: "Você é chegada aos extremos, hein? Antes você queria me torrar, agora quer me afogar?!".
Finalmente, após minha irrefutável lógica intelectual e alguns petelecos, fui capaz de convencer o maridão que aquela chuvinha não iria afogá-lo. Foi outra briga convencê-lo que levar o guarda-chuva seria ridículo. Fomos andando pelas ruelas enlameadas, ele vestido de Mestre Bigodinho, até que chegamos à praia. Não tinha quase ninguém, só uns poucos pescadores e centenas de pássaros. Foi uma delícia caminhar sobre as águas, e só fomos embora quando um caranguejo beliscou o dedão do maridão. Coitado do caranguejo! Que mau gosto!




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