A ENTREVISTA MAIS TENDENCIOSA QUE RESPONDI ATÉ HOJE
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A ENTREVISTA MAIS TENDENCIOSA QUE RESPONDI ATÉ HOJE


Eu de costas na Marcha das Vadias de Recife, no final de maio

Em abril, uma jornalista da UOL me procurou pra uma entrevista. Sua pauta, em suas palavras? "Estou fazendo uma matéria analisando se a militância atual é legítima, funciona ou se é sinônimo de modinha". 
Quer dizer, com uma introdução dessas, o melhor que eu deveria ter feito era nem responder. Mas eu disse que ela poderia mandar as perguntas por email, já pensando que responderia todas do jeito mais breve possível. 
Seguiu-se a entrevista mais tendenciosa que já dei. Acho que não foi publicada, que não saiu a matéria, por isso a publico aqui agora. 
Fico na dúvida se a jornalista acha que os protestos de agora são legítimos ou se ainda são modinha...

- Seus créditos e formação?
Tenho mestrado e doutorado em Literatura em Língua Inglesa pela Universidade Federal de Santa Catarina, e há três anos sou professora da Universidade Federal do Ceará. Sou autora de um dos maiores blogs feministas do Brasil, o www.escrevalolescreva.blogspot.com.br, com média de 300 mil visitas por mês.

- Por que decidiu fazer o blog?
Fiz o blog porque queria total liberdade para escrever o que eu quisesse. Meu blog é feminista porque eu sou feminista, mas também é um blog pessoal, onde publico de tudo, inclusive guest posts sobre os mais variados assuntos.

- Os protestos e a militância virtual têm trazido visibilidade para questões importantes. Mas, sob o ponto de vista prático, você acha que a militância e o panfletarismo nas redes sociais e nos blogs é mesmo eficaz? Por quê?
Sim, a militância é muito eficaz. O ativismo nas redes não substitui de forma alguma o ativismo do dia a dia, nas ruas, nas reuniões. São complementares. A internet proporciona uma maneira rápida e eficiente de união, de mobilização. E ativistas de grupos historicamente oprimidos agora têm voz. Enquanto, na grande mídia, apenas 8% dos artigos de opinião sejam assinados por mulheres, na internet mulheres, lésbicas, gays, negros, e transexuais podem ter voz. E é uma voz que faz barulho. 
Outro dia a Secretária Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres elogiou o feminismo da internet: “Não tem revolta como teve na Índia. Mas existe um outro tipo de mobilização no Brasil que tem funcionado, que são as redes sociais”. Concordo que tem funcionado.

- Um movimento bem articulado na internet poderia derrubar uma figura como Feliciano?
Bom, estamos tentando derrubá-lo. Há abaixo-assinados com milhares de assinaturas exigindo a destituição de Marco Feliciano da presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, e continua havendo protestos no Congresso e nas ruas. Se não conseguirmos derrubá-lo, certamente não será por falta de tentativa.

- Você acha que hoje os jovens estão mesmo se mostrando mais interessados em política como demonstram na internet ou o ativismo virou modinha?
Acho que jovens sempre se interessaram muito por política. Concordo totalmente com uma frase do Mark Twain, que diz: "Não existe visão mais triste que um jovem pessimista". Se uma pessoa não tem o sonho de mudar o mundo na juventude, vai ter quando? Então há muitos jovens idealistas, hoje e sempre. O ativismo não é uma modinha. É uma realidade, um sonho, uma forma de luta.

- Esse ativismo virtual tem mesmo conteúdo, base, fundamento? Você não acha meio paradoxal que muitos jovens defendam os direitos dos índios (adicionando, inclusive, o Guarani Kaiowá ao nome) na internet enquanto fazem faculdade e se sustentam com o apoio financeiro dos pais? Outro exemplo: neofeministas que mal começaram a vida (não tiveram filhos, não precisaram deixá-los sob os cuidados de alguém para trabalhar, não tiveram grandes perdas nem ganho, sem repertório) defendendo os direitos das mulheres.
Pra mim e pra quem luta para mudar o mundo, é óbvio que o ativismo virtual tem conteúdo, base e fundamento. Mas há pessoas conservadoras que consideram qualquer tipo de ativismo inútil, coisa de quem não tem o que fazer. O pior é que essas pessoas conservadoras que não desejam mexer uma palha para mudar o mundo não o fazem porque acham que o mundo está ótimo. Pelo contrário, não o fazem -- nem toleram que pessoas idealistas o façam -- porque pensam que o mundo está perdido mesmo. 
Não acho paradoxal que jovens defendam os direitos dos índios e cursem faculdade, ou que feministas jovens sem grande experiência de vida defendam os direitos das mulheres. Ninguém precisa ser índio ou largar a vida que leva e ir morar com os índios para defender os direitos dos índios. A mesma coisa com feminismo. Não existe uma cartilha para ser feminista. Basta ter um mínimo de idealismo e o desejo por direitos iguais.

- Você acha que há uma banalização dos protestos, de forma geral? Quais suas sugestões?
Não acho que haja uma banalização dos protestos, de jeito nenhum. Talvez haja uma proliferação de protestos, e isso é excelente. Quer dizer que há mais pessoas lutando por causas que consideram importantes. Mais gente acreditando que um outro mundo é possível.




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