A NOVA LOLINHA
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A NOVA LOLINHA


Meu aprendizado foi num ônibus de Floripa pra Joinville, há uns dois anos, quando um velho sentou do meu lado, pegou a minha mão, pegou na minha perna, deu em cima de mim na cara dura, e tudo que eu fiz foi pensar “Como que eu faço pra mudar de assento sem ofendê-lo?”. Fiquei revoltada com a minha passividade, e pensei: “Assim tá muito fácil pra eles”. E desde aquele dia decidi que não ficaria mais tão quietinha. Narrei isso tudo aqui.
E hoje aconteceu. Foi num ônibus, indo pra casa da minha aluna. Um velho sentou do meu lado. Ele era gordinho, eu também, então era inevitável que a gente encostasse um no outro. O problema é que ele tava bêbado. Até com cheiro de bêbado. E imediatamente se pôs a conversar comigo. Alguma coisa sobre emagrecer. Falou da filha, que era gorda, referindo-se também a minha forma física. O meu cérebro duelava entre dizer algo e me fingir de morta, mas aí lembrei da minha decisão no passado e disse:
- Não é lindo como, por eu ser mulher, e mulher ser propriedade pública nesta sociedade, até um completo estranho como o senhor pode comentar o que quiser sobre o meu corpo?
- Hã? Como assim?
Eu repeti. Todo mundo no ônibus lotado olhando, até porque não falo baixinho. O velho disse que não queria ofender, e agora meteu a neta na jogada. Ela também era gorda, fazer o quê? Não captei tudo que ele dizia, porque bêbado come muita sílaba e se atropela. Mas perguntei:
- Por que o peso das mulheres é tão importante pro senhor?
Ele explicou que era porque, no fundo, ele gostava de mulheres mais encorpadas. E eu:
- Ah, então mulher é tudo símbolo sexual pro senhor?
Ele se enrolou pra responder, falou qualquer coisa, e, desesperado pra que eu concordasse com ele, ainda jogava um “Tô certo?” no fim das frases. Um bêbado patriarcal! Até que me esgotei com aquele monólogo e respondi:
- Tá certo. Homens têm sempre razão.
- Ai! Por que você tá falando assim?
- Porque eu canso. Não é nada pessoal, o senhor não é diferente da maioria. Mas eu sou feminista desde criancinha, e não quero mais aguentar tudo calada.
Ele pediu desculpas, insistiu pra que eu apertasse a sua mão, elogiou a minha segurança, e disse algo como “Acho que pisei no calo errado hoje”. Quer dizer, tô resumindo.
E foi só, porque chegou minha hora de descer (a viagem é curtinha). Mas eu me lembrei do Peter Finch no ótimo Rede de Intrigas (1976), em que ele, como âncora de noticiário, mandava os espectadores abrirem a janela e gritarem “I'm mad as hell and I'm not gonna take this anymore!” (algo como “Estou zangado/a pra caramba e não vou mais aturar isso!” - veja o clipe aqui). É assim que eu tô me sentindo. A nova Lolinha não vai mais levar desaforo pra casa.
Claro que, assim que relatei tudo isso pro maridão, ele disse: “Você vai de ônibus. Eu vou a pé”.




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