A orgia do troca-troca partidário
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A orgia do troca-troca partidário


Por Altamiro Borges

A partir desta quinta-feira (18) estará aberta a nova temporada do troca-troca partidário – que fragiliza os partidos e a democracia no país. Com a autorização da Justiça Eleitoral, a “janela” da infidelidade durará 30 dias. Os parlamentares poderão “pular a cerca” sem qualquer risco de punição nesta verdadeira orgia oportunista – em que cada um procura satisfazer os seus interesses pessoais. A edição brasileira do jornal espanhol El País fez um levantamento que aponta que até 80 deputados federais e senadores poderão trocar de sigla – com a mesma facilidade com que se troca de camisa. Ainda não dá para prever qual será o impacto na correlação de forças do Congresso Nacional, que tem a composição mais conservadora e fisiológica desde o fim da ditadura militar.

No ano passado, 35 parlamentares já mudaram de legenda com base numa brecha da legislação. Destes, 21 foram para o Partido da Mulher Brasileira (PMB) – que não tem mulheres – e seis foram para a Rede Sustentabilidade da ex-petista, ex-verde e ex-socialista Marina Silva. O troca-troca foi facilitado por uma resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que autorizou a mudança para partidos recém-criados. Quem mudasse de sigla fora desta regra poderia até perder o mandato, conforme a legislação anterior. Agora, porém, não haverá qualquer limitação. A orgia está liberada. O jornal espanhol consultou 12 líderes e vice-líderes de partidos e chegou à estimativa de que entre 50 e 80 parlamentares deverão mudar de legenda nas próximas cinco semanas.

“Diversos são os interesses dos que mudam de legenda em ano de eleição. ‘Entre os que mudarão de partido estão os que querem concorrer eles mesmos nas eleições municipais deste ano e os que mudam para apoiar o seu grupo político’, explicou o deputado federal Júlio Delgado (PSB-MG). Ele próprio admite que não deixou o PSB porque conseguiu emplacar um aliado seu como o candidato do partido na sua base eleitoral, caso contrário cogitaria fazer essa migração. Outra razão para ‘virar a casa’ seria o controle do fundo partidário em seu Estado. Alguns, como o senador Romário Faria (PSB-RJ), devem trocar de legenda exatamente porque não tem mais o comando regional. No caso dele, que já recebeu o convite de sete legendas, também conta a possibilidade de concorrer à prefeitura do Rio com o apoio de um grupo político maior do que o atual”, relata o jornal El País.

Pelo levantamento, o PMDB deverá ser a sigla com a maior perda de parlamentares nesta nova temporada de traições. “Alguns líderes dessa legenda estimam que entre sete e nove peemedebistas devem sair do partido por razões locais, ou seja, porque não controlam o partido em suas cidades e não conseguiram apoio nos pleitos municipais. Se isso ocorrer, e os quadros não forem repostos, o partido corre o risco de deixar de ser o maior da Câmara. Hoje, o PMDB tem 67 deputados e o PT, o segundo maior, tem 59... ‘Devemos ter uma perda considerável, mais de 10% de nossa bancada. E será difícil repor os quadros porque o PMDB hoje não tem nenhum atrativo’, analisou o deputado federal Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA)”.

“Já o PT, que tem sido varrido pela Operação Lava Jato, dificilmente perderá algum quadro nas próximas semanas. ‘Quem queria sair, já saiu. Imagino que não teremos mais perdas’, afirmou o deputado federal Pepe Vargas (PT-RS). No ano passado, quatro deputados e uma senadora deixaram o PT. O mineiro Weliton Prado e os paranaenses Toninho Wandscheer e Assis do Couto se filiaram ao PMB. O fluminense Alessandro Molon foi para a Rede. E a paulista Marta Suplicy para o PMDB. Caso esse otimismo de Vargas se concretize, o PT será, ao menos até o fim das eleições municipais de outubro, o maior partido da Câmara... As bancadas da oposição também já estimam perder alguns de seus membros. O PSDB deve perder dois quadros. O DEM, mais dois. E o Solidariedade, outros três”.

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