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Picadinho com farofa de partidos - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 08/09
Criação do Solidariedade e da Rede vai levar quase ao fim o processo de esquartejamento partidário
O SOLIDARIEDADE é um novo empreendimento partidário, capitaneado ao menos de público pelo deputado federal Paulo Pereira da Silva, o "Paulinho da Força" (Sindical), ora no PDT. Tenta obter registro para participar das eleições de 2014.
A fim de constituir capital político relevante, o Solidariedade faz uma espécie de coleta. Pede deputados federais em troca de tempo de TV (coligação) e controle das seções estaduais. Bate à porta de PSDB, PMDB e PSB, segundo reportagem de sexta-feira do jornal "Valor Econômico".
A criação do Solidariedade dá continuidade ao picadinho partidário que se intensifica desde 2000, fragmentação incentivada pela decisão judicial que proibira o troca-troca de partidos, em 2007.
Almas cândidas, com firme fé em reformas políticas, deveriam prestar atenção em mais esse caso de consequências impremeditadas de boas intenções. A decisão contra o troca-troca incentivou a criação de partidos-canoa, que juntam turmas de parlamentares que querem trocar de barco sem perder o mandato.
A depender do rapa que promove nos demais partidos, o Solidariedade pode vir a ser a quarta ou a quinta maior agremiação do país.
Atentem para a palavra "maior". Depois de PT e PMDB, os quatro maiores partidos têm cada um cerca de 8% do total de deputados federais (entre 7% e 9,5%, para ser mais preciso).
"O número de cadeiras da Câmara controladas pelos quatro maiores partidos decresce desde 1998. A fatia dos 6 ou 8 maiores partidos também cai. Os deputados mais e mais migram para a periferia partidária", escrevia-se nestas colunas em abril.
Mais amador que o Solidariedade, ou menos profissional, por assim dizer, o Rede, de Marina Silva, também tenta se classificar para as eleições de 2014.
Caso tenham sucesso, Solidariedade e Rede vão quase concluir o processo de desmembramento do "sistema partidário" que parecia se constituir no final dos anos 1990. Isto é, PT de um lado, PMDB como infiel da balança e PSDB-PFL (DEM) do outro lado. De partidos "maiores", com mais de 15% dos deputados, sobram apenas PT e PMDB.
Muito deputado migrou para legendas menores sem cara nem alma a fim de fugir de seus partidões de direita e se beneficiar de favores dos governos petistas. Outros tantos migraram, via troca-troca ou partidos-canoa, a fim de resolver disputas societárias em seus empreendimentos políticos regionais.
Parece, enfim, que não é necessário um "partidão" de 60 ou 80 deputados a fim de rentabilizar o negócio político. Basta não fazer parte de um partido demasiadamente pequeno, embora ainda exista muita gente miúda na farofa das legendas nanicas. Com uns 25 ou 30 deputados, já há escala suficiente para "dialogar" com governo ou com financiadores privados.
"Agregar e representar interesses socioeconômicos" não é lá bem tarefa de quase nenhum desses empreendimentos partidários. Essa função teórica ou mítica dos partidos cabe mais às "bancadas" suprapartidárias ("ruralista", "social", "da bola", "da bala", "ambientalista").
Não, o PSDB não morreu; pelo menos até 2014, ainda é competitivo na corrida por cargos do Executivo. Sim, o PMDB ainda tem poder de mercado. Mas o picadinho pode esquartejar também esse esquema.
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