A TPM FAZ O MEU PERFIL, E FEMINISTA FAZ A MINHA CAVEIRA
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A TPM FAZ O MEU PERFIL, E FEMINISTA FAZ A MINHA CAVEIRA


Gente, talvez vocês já tenham visto, talvez não. Ontem saiu uma entrevista que dei pra querida Marcela por telefone e email. Foi uma espécie de perfil que ela publicou no site da revista TPM. Acho que ficou muito legal. Tinha uns errinhos e tal, mas eu apontei pra ela e ela prontamente os corrigiu. Um deles foi chamar o maridão de Carlos. Isso foi estranho, porque toda vez que alguém erra o nome dele, fala Luis. Sério mesmo, toda santa vez! Luis é o irmão dele, mas quem erra o nome do Silvio não sabe disso. Bom, Carlos foi a primeira vez. E ainda bem que não disseram que o nome era Mário, se não lá ia eu ouvir 346 piadinhas daquelas que rimam Mário com armário.
Adorei ter falado com a Marcela, que foi uma simpatia só. E certamente esta foi a mais completa de todas as quinze entrevistas que dei este ano. Só posso agradecer!

Mas uma coisa me irritou um pouco. Não tem nada a ver com a Marcela ou com a TPM, mas com a recepção da entrevista. É que tem feminista que se sentiu incomodada com a entrevista. Não interessa quem é, não quero citar nomes, pode muito bem ter sido mais de uma. Então. Uma ou outra não gostou que eu me declare feminista desde os oito anos de idade. Porque feminismo é uma prática política, e criança não faz política, e ninguém tem a menor ideia de opressão quando pequena, e que eu vivo falando do meu feminismo precoce. Minha nossa senhora do chuveiro elétrico, dai-me resistência! Eu não digo que sou feminista desde que me conheço por gente pra me exibir ou pra querer ser uma feminista alpha female melhor que as outras, até porque não estou competindo com ninguém. Não meço feminismos (“o meu é maior que o seu!” -– que papo mais fálico, pelamor!). Não julgo se a pessoa que se diz feminista é ou não uma (na definição genial de um troll) ingrata com o patriarcado. Nem fico avaliando se a pessoa pode ou não ter se descoberto feminista quando diz que se descobriu feminista. Eu digo que sou feminista desde a mais tenra idade porque esta foi a minha realidade (até rimou). Eu me recordo de pouca coisa de quando eu era criança (porque pra mim faz um tempão), mas do meu feminismo eu me lembro muito bem. E não foi uma ou outra frase num diário. Até os 14 anos eu já tinha escrito quatro livros. É, livros. Não publicados, óbvio (isso foi só quando eu fiz 19, um livro de poesia). Durante parte da minha infância esteve na moda um troço chamado The Nothing Book (o livro do nada). Eram livros bonitos, capa grossa, grandões, só que com nada dentro. Era um livro vazio que a pessoa preenchia. E foi isso que eu fiz, com montes de desenhos, colagens, textos, opiniões... Tenho vários registros de textos sobre o poder das mulheres, contra a opressão, pela liberdade, inclusive falando de revolução sexual. Claro que meu feminismo mudou bastante -– na verdade, só criou um discurso mais coerente quando comecei o blog, quase quatro anos atrás. Mas quando eu era criancinha eu já tinha pais feministas que me influenciavam; eu sabia o que era feminismo (direitos iguais, isso me bastava), lia a revista americana Ms., conhecia chavões feministas como “If a man's home is his castle, let him clean it” (se o lar de um homem é seu castelo, deixe que ele o limpe), ou “A woman needs a man like a fish needs a bicycle” (uma mulher precisa de um homem tanto quanto um peixe de uma bicicleta). Ter tido essa experiência não me faz melhor que ninguém. Mas é a minha experiência. E não vou ficar com vergonha de contá-la só porque não foi a de todas as feministas.
Tá, mas isso não é nada. O que me deixou chateada foi um tweet (que não foi enviado pra mim, mas era sobre mim, junto com vários outros dizendo que o que eu falo e faço representam um desserviço pro feminismo): “Você pode ser feminista de esquerda contra o mito da beleza, mas pentear o cabelo não custa nada. Just sayin'.
Esse tipo de coisa eu ouço todo dia. Mas ouço de gente de direita, de fãs do CQC, de pessoas que odeiam feministas. Dos trolls de sempre. Isso vindo de uma feminista me choca um pouco, porque, ahn, julgar uma mulher pela sua aparência é uma das coisas que gostaríamos de evitar. Quer dizer, a feminista que diz algo assim é inteligente. Ela sabe que tal ofensa será usada contra ela, se é que já não foi quinhentas vezes. É como uma mulher chamar outra de vadia. Você não está xingando uma mulher, está xingando todas. Inclusive você mesma.
É tanta patrulhinha inútil, tanta agressão gratuita, que eu fico pensando: será inveja? Mas inveja de quê? Tem espaço pra todas. A internet é enorme, ué.
E eu adoro meu cabelo nessa foto! Gosto muito mais do que quando o cabelo fica todo certinho. Não é tão comum ficar assim, encaracoladinho, em camadas. Acontece às vezes, pouco depois de ser lavado. Muita gente cisma com o meu cabelo por essa foto, e eu acho tão estranho isso. Como se só existisse uma forma certa pro cabelo! Como se cabelo não tão liso estivesse despenteado, ou sujo. Como se eu devesse me conformar com um padrão de beleza específico até pra tirar uma mera foto, mesmo quando eu prefiro meu cabelo de outro jeito!
O que é mais chato é que a feminista que preferiu se concentrar no meu cabelo (lindão, and proud of it) ou em me encaixar num esquema pré-modulado de como deve ser a descoberta do feminismo, provavelmente não prestou atenção no meu recadinho, que foi: “Sejam mais críticas com o mundo e menos críticas com vocês mesmas e com outras mulheres. Já temos um mundo bastante hostil em relação a nós, um mundo que, apesar de estar em franca mudança, ainda é muito desigual. Então definitivamente não precisamos de mais inimigas”.
É no que eu acredito. Desde que me conheço por gente. E já naquela época meu cabelo era tão rebelde quanto eu sempre fui.




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