AMOR E REVOLUÇÃO, MAIS ACERTOS QUE ERROS
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AMOR E REVOLUÇÃO, MAIS ACERTOS QUE ERROS


O chato de acompanhar uma novela é que a gente fica meio escrava da TV, precisa ver quase todo dia. E o chato de ver uma novela que não é da Globo é que você fica sem todo o aparato “jornalístico” que te conta tudo o que está acontecendo e vai acontecer, que cria o hype. Mas, enfim, venho assistindo Amor e Revolução, no SBT, há meses. Desde abril. E não sei quando vai acabar. Janeiro? A emissora já anuncia a próxima novela -– que não vou ver, lógico. Só vi esta (e acho que A&R e O Aprendiz foram os únicos programas que vi na TV este ano) por causa do tema. Afinal, vi a minissérie da Globo Anos Rebeldes, em 1992 (mantenho que sem ela não teria acontecido os caras pintadas, e sem eles, não teria acontecido o impeachment do Collor). Se A&R fosse feita e transmitida pela Globo, todo mundo estaria falando nela. A gente estaria exigindo a punição dos militares torturadores, fazendo estardalhaço pela Comissão da Verdade... Esse pessoal impune tem muita sorte da novela nunca ter passado dos 5% de ibope.
De minha parte, amei a novela. Podem falar o que quiserem, que alguns atores deixaram a desejar, que os diálogos eram fracos, que as cenas de ação eram de quinta... É novela, pô! Pra mim tanto faz se é novela da Globo, do SBT ou da Record. Não espero realismo nem de novela, nem de filme de Hollywood. Eu “suspend my disbelief” e vou fundo. E a história de A&R foi mais ou menos verdadeira. Quero dizer, houve uma ditadura militar sanguinária no Brasil (não uma ditabranda, como quis reescrever um jornal). Houve tortura. Houve guerrilheiros que lutaram contra ela. Certo, esses guerrilheiros certamente não estavam lutando em abril de 1964, ao contrário do que a novela mostrou. Mas A&R foi totalmente de esquerda. Os vilões foram os militares e torturadores do Dops.Como sempre, vilão é o papel mais suculento das tramas, e em A&R quem brilhou foi o Nico Puig, como o Major Filinto. Aliás, gostei também de seu pai, o general Guerra (Reinaldo Gonzaga). Só não me perdoo por ter passado a novela inteira achando que quem fazia a mãe do major e também do mocinho bobalhão da história era a Nívea Maria (não era, era a Glauce Graieb). A novela teve várias crises longe das câmeras, nos bastidores mesmo. Primeiro cometeu-se a besteira extraordinária de picotar os depoimentos de personagens reais no final de cada capítulo. Mais pra frente, simplesmente tiraram esses depoimentos, que eram fenomenais. Alegaram terem tirado porque só gente de esquerda aceitou depor. O pessoal de direita não teve coragem de dar as caras e defender suas atrocidades. Olha, dane-se. Se eles foram convidados a gravar depoimentos e se recusaram, problema deles. Não tem que haver equilíbrio ideológico em obra nenhuma, ainda mais quando falamos de uma ditadura militar.Depois a novela ficou mais light, menos política. Parece que muita gente reclamou das cenas de tortura (definitivamente exageradas, mas realistas) nas primeiras semanas de novela. Aí o autor Tiago Santiago decidiu cortar todas as cenas de tortura, até chegar ao final ridículo em que os investigadores do Dops giravam a vítima de um lado pro outro. Havia outros momentos absurdos, como o fato de todo mundo em fuga se esconder da polícia sempre nos mesmos lugares: na igreja, na cantina, no teatro, e no apartamento da família Paixão (um lugar um tanto estranho, considerando que a filha, mocinha da novela, era uma militante política, e o pai, um jornalista contra o regime). Também não é segredo pra ninguém que o maior sucesso da novela foi ter protagonizado o primeiro beijo lésbico. O autor se entusiasmou com a audiência, disse que haveria também um beijo gay (entre o diretor de teatro e o carcerário, que chegaram a formar um par, com direito a algumas discussões interessantes partindo do filho carcerário, pedindo pro seu pai militar aceitá-lo como ele é). Aconteceu alguma coisa que não saberemos (ordens de cima, do dono do emissora? Censura da grossa? Rejeição do público?), mas de repente toda essa subtrama gay foi relegada a segundo plano. O produtor de teatro praticamente sumiu. Seu beijo nunca foi mostrado. E todo o desenvolvimento do casal lésbico foi só falado, nunca mais exposto. O autor chegou a anunciar um segundo beijo lésbico, que pelo jeito foi gravado -- e nunca foi ao ar. Como muitas tramas na novela (principalmente a dos padres), a da advogada Marcela (Luciana Vendramini), lésbica assumida, precisando fingir pros seus pais que ela iria se casar com um homem também virou mote cômico. Até aí ainda vai. O problema foi quando ela decidiu transar com um jornalista, partindo o coração de sua paixão, Marina (que demorou um tempão pra aceitar que estava apaixonada por uma mulher).O que eu vi nesta semana e na última foi um total retrocesso: Marcela se deixando seduzir por Mário, que a vê como virgem (porque ela nunca foi pra cama com um homem!); ela fora da personagem, frágil e insegura. Só aí que eu me toquei: a noite de sexo entre Marcela e Mário servirá para que ela engravide. O final feliz obviamente será entre ela e Marina, a dona do jornal (e a atriz mais bonita da novela, Giselle Tigre), que juntas criarão um bebê.Ótimo, legal, mas convenhamos: havia mil e uma formas de obter o mesmo resultado (uma gravidez) sem toda essa ladainha de “você não fez sexo até transar com um homem, mocinha”. E eu tô chutando tudo isso. Li também que é o público que vai decidir com quem Marcela vai ficar. Putz, um autor de novela não tem que ser democrático! Ele criou esse universo ficcional; cabe a ele decidir o que será do casal lésbico. Deixar a decisão pros espectadores é como fazer plebiscito pra maioria decidir se vai ou não conceder os mesmos direitos constitucionais a uma minoria. Toda essa confusão de Marcela, lésbica durante toda sua vida, apaixonada por Marina desde o início da novela, de repente querer transar com um pamonha feito o Mário foi um belo derrapão na última fase, sem dúvida. Porém, o saldo geral é extremamente positivo. Foi uma novela feminista e de esquerda. Muitas mulheres fortes e decididas na trama, a começar pela heroína, que fez treinamento de guerrilha em Cuba e é anos-luz mais inteligente e preparada pra luta que seu par romântico.Lúcia Veríssimo foi outra que interpretou uma guerrilheira, com direito a uma coluna feminista num jornal! Um rapaz lindo com metade da sua idade se apaixona por ela, e ela trai seu marido, o também guerrilheiro Batistelli (Licurgo Spinola), que é comunista mas machista, explicando-lhe: “Meu corpo não é de ninguém. Ou melhor, ele é meu. Só meu”.Outra adepta do amor livre é a atriz Stela (Joana Limaverde), que vive brigando com o namorado por não aceitar ser só dele. Lá no meio da trama ela faz um aborto, que rende inúmeros bons debates, e surprise surprise, sua personagem não é punida por isso! E, ainda no primeiro semestre, uma estudante (que logo também entraria pra luta armada) é beijada à força por um rapaz. Contrariando todos os clichês de que a donzela será domada, ela morde a língua dele e lhe diz: “Assim você aprende a nunca mais tentar calar minha boca com um beijo”. E por aí vai. Amor e Revolução é uma prova de que a televisão pode influenciar corações e mentes de forma positiva. Eu ficarei com saudades. Mas, por favor, não permitam que a novela tenha um final tão infeliz, esse da lésbica assumida ficar com um homem só porque é isso que a sociedade espera das lésbicas -- que sejam salvas.




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