AMOR E REVOLUÇÃO, NOVELA PRA CUTUCAR FERIDAS
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AMOR E REVOLUÇÃO, NOVELA PRA CUTUCAR FERIDAS


Cena do primeiro capítulo, nos porões da ditadura

Fazia muito tempo que eu não via uma novela. A penúltima que acompanhei foi Mulheres Apaixonadas, em 2003, na Globo. Ela era bastante ruinzinha, mas eu fazia mestrado e passava a semana em Floripa, sozinha, e chegava uma hora que eu precisava desligar o cérebro de tanta leitura e ver algo que não me pedisse raciocínio. A última mesmo foi A Escrava Isaura, na Record, entre 2004 e 05. Essa eu gostei muito, principalmente pelo Leôncio feito pelo Leopoldo Pacheco, simplesmente genial, que dava de dez em qualquer Rubem de Falco. Eu lembro bem do Leopoldo porque os olhos dele literalmente brilhavam de maldade. Um vilão inesquecível. (Aliás, como a Globo tem desperdiçado esse grande ator, hein?).
Eu vi muita novela durante minha infância (naquela época, existia novela das dez, que eram as melhores, sempre: Saramandaia, O Bem-Amado, Sinal de Alerta, Gabriela) e adolescência (Roque Santeiro e esqueci as outras). Depois parei. É tudo muito parecido, e não me agrada a ideia de ter que ligar a TV no mesmo horário todo dia. Com a internet, então, ficou raríssimo eu ver TV. Tanto que a antena aqui de casa está quebrada e ainda não compramos outra (eu quero comprar uma melhorzinha, externa, mas só quando fizermos uma outra reforma na casa, o que vai ficar pro semestre que vem).
No entanto, muita gente me perguntou: “Você não vai ver a nova novela do SBT, Amor e Revolução?”. Não estava com tanta vontade, mas ontem à noite decidi dar uma olhadinha (perdi o começo) no primeiro capítulo e gostei pacas. Acho uma novela importante, que todo mundo deveria assistir. A direita, pra ficar babando de ódio e arremessando a dentadura contra a televisão. A esquerda, pra gente ganhar ânimo pra exigir que os assassinos e torturadores do regime militar sejam punidos.
É incrível como uma novela (ou série) bem feita possa dar uma elevada na moral, né? A direita rábida anda dizendo que Amor e Revolução é um presente do Silvio Santos ao PT. Mas, no fundo, esse pessoal que adora os EUA considera que tudo que é feito no Brasil -- com exceção da Globo -- é péssimo, e odeia os outros canais, principalmente a Record e, agora, o SBT, com todas as suas forças. Hum, eu nunca vi uma novela da Globo por morrer de amores pelo Roberto Marinho, nosso Cidadão Kane (e isso não é um elogio). Os reaças iriam chiar ainda mais se a Record tivesse feito Amor e Revolução (li que o autor da Escrava Isaura de 04, Tiago Santiago, é o mesmo autor desta novela agora. Ótimo! O cara sabe o que faz. E, pela foto, ele é jovem e bonito. Só um bônus). E o que eles diriam se a Globo fizesse uma novela assim? Opa, a Globo já fez! Não foi uma novela, mas uma excelente minissérie de vinte capítulos, Anos Rebeldes, exibida no segundo semestre de 92. Quem viu a série se lembra da fascinante personagem da Claudia Abreu, uma jovem rica que se joga na luta armada, e é assassinada pelos militares. Era difícil não se identificar com ela, não torcer por ela, não chorar com a sua morte. A série foi tão influente que a minha teoria é que, sem ela, não teríamos tido os caras-pintadas (eu fui uma! Das mais velhinhas, mas fui, com muito orgulho) indo pras ruas pedir a saída do Collor. Aquela série encheu muitos jovens de um espírito revolucionário que eles não conheciam. Foi um marco.
E a novela do SBT tem toda a chance de repetir o feito. Claro, nenhum programa tem a mesma repercussão que a Globo tinha naquela época, quando ainda conseguia 70, 80 pontos de Ibope (hoje é difícil chegar a 30). E o SBT não tem, nem de longe, um time de atores como os da Globo (nem como os da Record). Mas Amor e Revolução é o tipo de novela que vale pela história, com h minúsculo e maiúsculo. E porque vai se falar muito na novela, espero. Porque cria polêmica, porque discute o nosso passado não muito distante, e porque deixa muito, muito zangado aquele pessoal que prega que vivíamos bem na época da ditadura e que chama golpe de Revolução e comemora aniversário no 1o de abril (dia da mentira). Seria lindo se fosse só o Bolsonaro que fizesse isso, mas infelizmente, tem muito mais demente por aí. Tanto que, imagino, todo mundo, você inclus@, conhece pelo menos uma pessoa que profere essas baboseiras sem ruborizar.
O primeiro capítulo de Amor (que promete a exibição do primeiro beijo gay na telenovela brasileira, pra fazer a direita querer linchar o Silvio Santos mesmo), ontem, foi cheio de ação. Vários tiroteios, perseguições da polícia aos comunistas, intrigas, conversas políticas, cena de sexo num rio (com a Lúcia Veríssimo), a UNE pegando fogo. Deu pra ver que teremos um par à la Romeu e Julieta, entre uma ativista (Graziella Schmitt, fraquinha, coitada, mas é difícil ser a mocinha da história) e um militar (Claudio Lins, um pouco mais à vontade). Falou-se bastante do apoio dos EUA ao golpe. Houve um flerte com o formidável filme argentino A História Oficial, num tema que não costuma ser explorado (vários militares "adotaram" os filhos dos guerrilheiros que mataram). Foi uma boa apresentação dos personagens, embalada por uma trilha sonora de primeiríssimo time. Como essa trilha é importante pra nossa identificação com os heróis do período!
No final de cada capítulo, a exemplo de novelas da Globo, Amor e Revolução vai trazer depoimentos reais de gente que participou dos anos de chumbo. A primeira foi Amelinha, uma comunista que foi presa e torturada. Ela conta que seus filhos de 4 e 5 anos foram levados para vê-la na cadeia, onde ela estava cheia de hematomas. É horrível ouvir detalhes de tortura, é horrível ouvir uma mãe narrar que a filha lhe perguntou “Por que você está azul?”, é horrível ouvir essa mãe dizendo que seus filhos sofreram ampla tortura psicológica (o menino regrediu anos e recusou-se a crescer, a menina cresceu rápido demais – a puberdade chegou pra ela aos sete anos, por causa dos traumas. Mas é tudo necessário. Acho que a gente definitivamente precisa expor as feridas. Como disse Amelinha no final do seu relato emocionante, “Não se consolida uma democracia com cadáveres insepultos”. Os reaças indignados que se revirem nos seus túmulos. Nós vamos à luta.




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