ANTICONCEPCIONAIS, LAQUEADURA, CESARIANAS E O DIREITO SOBRE O CORPO DA MULHER
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ANTICONCEPCIONAIS, LAQUEADURA, CESARIANAS E O DIREITO SOBRE O CORPO DA MULHER


Neste guest post de uma leitora muito querida, Babs fala de assuntos importantes que eu conheço pouco, como fazer laqueadura (ligar as trompas para não poder mais engravidar), a tentativa de vários métodos anticoncepcionais, e a experiência de fazer três cesarianas. Pra quem não sabe, o Brasil é campeão mundial de cesarianas. A Organização Mundial de Saúde recomenda que cesáreas sejam realizadas apenas numa gravidez complicada, ou seja, em cerca de 15% dos partos. No Brasil, esse número chega a 43%. E entre as mulheres que têm plano de saúde, a incríveis 80%.

Quando eu comecei a pensar em fazer laqueadura, já estava grávida do meu terceiro bebê. Como ia ser cesariana mesmo - infelizmente isso já estava definido -, pedi para a médica aproveitar e fazer. Ela disse que ia ver no Conselho Regional de Medicina se podia. Eu tinha 22 anos. Ela me enrolou o suficiente para não dar o prazo mínimo legal para eu pedir a laqueadura, e perdi essa oportunidade.
Nunca me dei bem com nenhum método. Camisinha fura, tentei diversas pílulas, tomáveis e injetáveis. As pílulas me deram varizes, quilos e depressão. Tentei o DIU, mas quando estava colocando tive síncope vagal, minha pressão baixou assustadoramente. A médica (outra) disse que só tentaria de novo num hospital e com monitoramento. E mesmo assim o DIU tinha suas restrições, o importado que tem menos efeitos colaterais é bem caro.
Aí começou minha via crucis para tentar fazer a laqueadura. Por ter feito três cesarianas acabei deselvolvendo uma hérnia. Não cicatrizei direito, doía demais. E como ia ter que operar comecei a correr atrás disso, da tal "permissão legal" para a laqueadura. Já tinha 25 anos, portanto a idade pelamordedeus não seria problema. Custei a achar um médico que fizesse, e tive que colher permissões. Permissão do macho dominante, é óbvio, né? Mulher não tem direito sobre seu corpo, a lei exige que o marido autorize. Tive que pegar o aval de uma psiquiatra, porque pra não querer mais filhos só sendo muito louca. E por fim o aval do médico que ia fazer. E tinha que esperar o prazo de uns dois meses, para ver se eu não mudava de idéia.
Meu plano de saúde se recusou a pagar a operação de hérnia, porque eu ia fazer a laqueadura junto. Já é um absurdo o plano não cobrir esse procedimento, ainda por cima negar enquanto o custo para eles ia ser zero. Ia ser durante outro procedimento! Mas acabei conseguindo. Claro que paguei a parte da laqueadura por fora, quase uns dois mil reais.
Essa experiência me fez chegar a algumas conclusões. Como uma mulher que faz pelo SUS consegue? Eu consegui, finalmente, mas pagando. E mesmo pagando foi bem difícil. Imagina pelo SUS.
Um dos comentários mais cretinos que ouvi veio de um sujeito que disse que "não sabia como meu marido permitia que eu fizesse a laqueadura, porque aí eu ia poder chifrá-lo a vontade". Pode isso?
Também dói
o meu ouvido quando escuto que só engravida quem quer, pois os métodos estão aí. Os métodos existem, mas nem todas têm condição física de usar, ou condição financeira ou mesmo instrução. Uma amiga minha que é enfermeira me conta um caso: ela foi fazer um atendimento numa casa bem pobre onde moravam duas irmãs. As pobres coitadas colocavam a pílula no filtro de água, porque aí "todo mundo ia ficar protegido". Para você ver...
Como meu primeiro parto foi uma cesariana, o segundo muito próximo do primeiro, e no terceiro meu útero já estava muito fino e ameaçava romper, meus três partos acabaram sendo cesárea. Mas certamente é verdade que muitos médicos marcam cesárea porque é mais lucrativo e conveniente. Um parto normal é mais barato, o SUS nem ao menos cobre a anestesia, e tem a questão do horário imprevisível. E há muitos mitos acerca da cesárea. O primeiro é que não dói. Dói bastante, sim. Tanto na hora do parto, quando eles puxam o bebê, quanto principalmente depois. A recuperação é muito dolorida; afinal, é uma cirurgia, e das bem invasivas. E se não recuperar direito pode acontecer o que aconteceu comigo, aderências e uma hérnia, ambas bem doloridas. A verdade é que sinto muita dor até hoje. E tem também a anestesia, que é um horror. No meu terceiro parto fiz uma raquidiana que não pegou direito, senti muuuita dor. Senti o parto, e mal a minha filha foi tirada me deram um remédio que vi a sala ficar colorida e derreter. Num parto normal a mãe já sai andando, o útero recupera bem mais rápido. Sem falar que é bom para o bebê, a passagem vaginal ajuda o bebê a expelir os líquidos, coisa que a cesárea não faz. Por isso o risco de aspiração com cesariana é bem maior, é um risco de vida até. A idéia que a mídia faz é que cesariana é chique, e ajuda a conservar a mulher "apertadinha". Pura balela: o corpo feminino é preparado para passar por isso e se ajustar.
Mas se tem algo que eu gostaria de fazer muita gente entender, principalmente os que são contra a legalização do aborto, é isso. Como eu disse, tentei vários métodos, e meu corpo rejeitou. E francamente quando se está casada é bem difícil usar só a camisinha, que também pode falhar bastante. É só estourar ou não colocar direito. Dizer que não se pode abortar porque "só engravida quem quer" é besteira. Nenhum método é 100% eficaz, a não ser a esterilização cirúrgica, e olhe lá... E mesmo não querendo engravidar, olha como foi difícil conseguir a laqueadura. Onde entra a mulher que só engravida se quiser? Cadê os anticoncepcionais acessíveis? Assim dá mesmo a impressão de que “todo esperma é sagrado"...




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