GUEST POST: OPTAR PELA CESARIANA NÃO FOI MINHA ESCOLHA
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GUEST POST: OPTAR PELA CESARIANA NÃO FOI MINHA ESCOLHA


Painel de uma das marchas pelo direito ao parto natural domiciliar


Foi só na semana passada que publiquei o guest post da Camila sobre o direito de ter parto natural em casa. Mas como o tema continua merecendo atenção, ainda mais depois que centenas de mulheres (e homens) marcharam por todo o Brasil para ter esse direito ao parto domiciliar, decidi publicar outro post. Este é da Carol Passuello. Conheci a Carol quando dei uma entrevista muito legal pro seu blog (pra mim, entrevista legal é a que tem perguntas interessantes).
Carol é mãe dos gêmeos Leonardo e Rafael, nascidos de uma cesariana eletiva que até pouco tempo era tratada como um escolha legítima e sem interferências externas. Neste guest post ela fala um pouco de como se deu conta que desde pequena foi levada a acreditar que não era capaz de parir seus próprios filhos, por conta de histórias de humilhação e dor que envolvem o parto normal, que apresentam mulheres como sobreviventes, e de um sistema que não respeita a mulher que pare e o filho que nasce. Ela acredita que partos hospitalares, em sua grande maioria, são violências contra a mulher. Mais do que defender um ou outro tipo de parto, ela defende o acesso à informação e o tratamento digno. Ela conta sua experiência neste vídeo.

Até bem pouco tempo atrás julgava minhas escolhas como legítimas. Até bem pouco tempo atrás não via a cortina blackout que insistia em cobrir minha visão. Até bem pouco tempo atrás eu achava que minha opção pela cesariana tinha sido decidida apenas por mim. Tolinha.
Numa espécie de catarse, minha matrix se desvelou: inconsciente repleto de histórias horrendas de mulheres sobreviventes a partos degradantes, médicos todo-poderosos e detentores do saber absoluto inseridos em um sistema capitalista, mulheres desempoderadas, sem voz e sem propriedade sobre o próprio corpo. Qual a saída possível? Como lutar? Pra quê?
Lutar para que nossas filhas vivam momentos mais respeitosos e os filhos de nossos filhos nasçam com amor. E ao contrário do que parece não, não sou uma hippie, bruxa ou bicho-grilo e também não sou defensora ferrenha do parto domiciliar. Sou defensora do direito à informação e do empoderamento feminino e contra os maus tratos obstétricos, que são muitos. Duvida?
A começar pela indicação desnecessária de cesarianas, que fazem com o que o Brasil alcance alarmantes 80% de cirurgias, quando a OMS recomenda que as taxas estejam em, no máximo, 20%. Colaboram (e muito) para esses índices situações tidas como indicativas para cesáreas e que na verdade não são: falta de dilatação, bacia estreita, bolsa rota, trabalho de parto demorado, bebê que passou da hora, cordão enrolado, gestante que não entrou em trabalho de parto, gestante que não teve dilatação. Bolsa rota (ou estourada) e circular de cordão (quando o cordão umbilical está enrolado no pescoço do bebê) são fatos tomados como certos de indicação de cirurgia por médicos cesaristas, mas não o são na realidade! Mais informações sobre esses mitos aqui.
E por que médicos fazem isso? Porque não têm interesse em respeitar o corpo da mulher. Não têm interesse financeiro, correm mais riscos se mantiverem os partos em vias naturais. Riscos de processos, riscos de perder os fins de semana, riscos de perder pacientes. Médicos que não aprendem sobre fisiologia, aprendem burocracia. São incentivados pelas maternidades com carros, viagens e muita grana para baterem recordes de agendamentos. Maternidades à serviço do sistema, que compram equipamentos caríssimos para terem o título de  "tecnologia de ponta para o tratamento em UTI neonatal" e para custear equipamentos mantém bebês internados sem necessidade, longe das mães. Maternidades longe da grana particular atendendo um sistema público, onde -- historicamente há séculos e séculos -- não há o menor interesse em manter a mulher sob o espectro do respeito. Um sistema onde violentar uma mulher é normal e fantasiado de ético.
Em partos ditos normais é comum enfermeiras subirem em cima da barriga da parturiente para empurrar o nenê, mães serem chamadas de mãezinhas e escutarem “não gritou para fazer agora fica quieta”, procedimentos como episiotomia, tricotomia, enema, fórceps de alívio e ocitocina sintética serem aplicados sem o consentimento das mulheres. No meio disso tudo, mulheres passivas e assustadas. Dominadas pela fantasia do médico todo poderoso. E diante de tanta humilhação, projetam na cesárea a dignidade, mesmo que essa cobre o alto preço de privar a mulher de parir seu filho. E de poder escolher de forma legítima.
Essa é minha história. Quer contar a sua? Participe de nosso manifesto enviando um vídeo até amanhã para [email protected] contando sua história e seu ponto de vista e uma-se a nós pelo direito de escolha e pelo acesso à informação. Juntas podemos muito.




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