AS OPINIÕES DE UM JORNALISTA FAMOSO – PARTE 2
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AS OPINIÕES DE UM JORNALISTA FAMOSO – PARTE 2


Dustin Hoffman e Robert Redford interpretam os jornalistas no filme de 76

Bob Woodward está preparando seu quarto livro sobre a Guerra do Iraque, e ele é um exemplo perfeito de como a imprensa se transporta pra outro patamar, como se não fizesse parte do jogo, sem reconhecer sua responsabilidade. Cinco anos atrás, a mídia americana inteira apoiou a guerra. A população deu o apoio. Não dá pra culpar apenas o governo e fingir que não é com eles. Hillary apoiou a guerra (e foi uma covarde por isso, ao contrário de Obama, que teve coragem de remar contra a opinião pública), mas do jeito que falam, parece que foi só ela. Quem a critica hoje por ter apoiado a guerra também apoiou a guerra. Logo, o que vemos é um jogo de empurra: a mídia critica o governo pela guerra, apagando o passado que a inclui, e o povo (quem não estiver entretido demais com noticiários sobre a Britney Spears) critica a mídia, esquecendo-se que caiu como um patinho.

Woodward, por sinal, não crê que o motivo da guerra foi o petróleo, e sim a determinação do presidente. Ele conta que Bush se zangou com ele durante uma entrevista: “Você não entende! Eu tenho uma missão de liberar o povo oprimido!”. Bush usa a palavra duty (missão, tarefa, obrigação) que, pra Woodward, é a palavra mais importante para um presidente, e equivale à determinação. Pra mim, isso é fanatismo dos mais perigosos. O jornalista perguntou a Bush se ele havia consultado seu pai (o bushento) antes de invadir o Iraque. E ele disse que não! Preferiu consultar um “pai maior”. Eu já falei antes, mas preciso repetir: e o resto do mundo tem medo dos iranianos usarem armas nucleares?!

O próprio vocabulário usado por Woodward (e por toda a mídia) é incrível, e esse é um dos motivos que rio ao ouvir falar de neutralidade e objetividade jornalística. Como se as palavras fossem puras! Por exemplo, ele conta que, no início da guerra (que ele considera o acontecimento atual mais importante no mundo), havia cem ataques por dia no Iraque, que é do tamanho da Califórnia. Isso dá quatro atos de violência por hora. Mas sabe de quais “ataques” e “atos de violência” ele tá falando? Dos “terroristas” contra o exército americano! (“terroristas” que só recebem essa denominação por estarem lutando do lado errado, senão seriam “freedom fighters”). Segundo essa lógica, o exército americano, que invadiu um outro país e que representa a maior potência militar da história, não comete violência.

Claro, Woodward não é o único. Quase todos os americanos que conheço são incapazes de se colocarem na pele dos iraquianos (ou de qualquer outra nacionalidade). Eles agora acham a guerra errada, mas a contagem de corpos é geralmente o último argumento, e mesmo quando utilizado, contabilizam-se apenas os soldados americanos mortos. Esse sim é um desperdício de vidas. As vidas dos iraquianos não valem nada.

Uma pessoa no público apontou que, em todas as guerras, a economia americana prospera, e quis saber o que Woodward acha desta guerra em particular. Ele disse que seguramente a guerra gerou empregos, e que a economia americana estaria pior sem ela. Pior do que está, dá pra acreditar? Mas acrescentou rapidamente que essa não deve ser uma boa desculpa pra promover guerras. Sim, certamente governo, mídia e povo americano não levam em consideração o impulso dado à economia interna quando lançam uma nova guerra.

Por isso tenho pouca fé no próximo presidente dos EUA, seja lá quem for. Óbvio que prefiro um primeiro presidente negro ou uma primeira presidente mulher, e um democrata, que costuma ter um pouquinho mais de escrúpulos que os republicanos. Mas não se iludam: qualquer um vai colocar sempre os interesses dos EUA acima de todo o resto. Até aí, normal. O presidente brasileiro deve colocar os interesses brasileiros acima de tudo. O que varia é o método usado pra “colocar esses interesses”. Invadir a Bolívia porque o Evo Morales nacionalizou as empresas de gás, como a mídia brasileira queria que o Lula fizesse? Não tenha dúvida que os EUA teriam invadido (podia ser sob o comando do Obama, Hillary, McCain, qualquer um. Foi contra os interesses americanos, dançou). Quando eles não invadem, põem a CIA pra trabalhar localmente, treinando, financiando e agrupando os “nativos” que, por coincidência, têm os mesmos interesses dos EUA (como aconteceu no golpe militar contra o Chávez, só pra ficar num caso recente).

O que Woodward passou, a meu ver, foi uma mensagem positiva do atual presidente: determinado, centrado, que responde quinhentas perguntas, todas diretamente. Uma mensagem que uma pacifista anti-imperialista como eu não pode aceitar, se bem que não quero matar o mensageiro. Ah sim, antes do começo da palestra, Woodward pediu pra levantar a mão quem iria votar na Hillary. Poucos, ou melhor, a essa altura, poucas. Em McCain: poucos, mas é incrível que existam, ainda mais num ambiente universitário. Obama? Todo mundo. E isso que havia poucos negros na platéia, e muita gente mais velha. Nessa hora vi que a Hillary não tem a menor chance.

Larry King: “Nosso convidado é Bob Woodward. Bob, o que você tem a dizer às pessoas que acham que você se vendeu?”

Woodward, segurando o livro Eu Cheguei Perto do Presidente, Você Não: “Planejamos lançar uma segunda edição”.

A primeira parte está aqui.





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