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BLOGUEIRAS E TROLLS
Tá, isso é antigo na blogosfera americana, aconteceu no ano passado, mas o que posso fazer se sou lerdinha e só fiquei sabendo agora? Tenho que contar. Observe bem essa foto. É de uma reunião que o ex-presidente Clinton teve com um grupo de blogueiros americanos. Em frente dele há uma moça jovem, percebeu? O nome dela é Jessica Valenti, e ela é a principal editora de um dos maiores blogs feministas da internet, o Feministing, que recebe cerca de 25 mil visitas por dia. Ok, agora que você já sabe, olhe pra foto de novo. Vou ajudar pra que você veja melhor. E aí, deu pra notar? “Notar o quê, criatura?”, você pode perguntar. Ué, notar que 1) a Jessica é praticamente irmã gêmea da Monica Lewinski; 2) ela está usando uma blusa insinuante, que realça seus seios; 3) ela está fazendo pose pra seduzir o Bill, e 4) o ex-presidente tá mais corado que o normal, provavelmente porque reparou nos atributos da moça assanhada. Gente, é sério! Dezenas de blogs atacaram Jessica por causa desta mesma foto que você está vendo aqui. Até alguns blogs de mulheres gritaram que uma feminista de verdade não deveria jogar seus peitos assim, pra cima de um político poderoso. E como que ela podia ficar exibindo os peitos dessa forma despudorada? Pois é, feministas têm seios! Ela deveria tê-los guardado em casa antes de dirigir-se à reunião, ora!
Em abril do ano passado, a mesma Jessica escreveu um artigo bem interessante pro The Guardian: “Como a Internet se Transformou num Paraíso Machista” (em inglês), em que ela fala sobre como, no começo da web, existia a utopia de que a internet seria um lugar livre e aberto em que as pessoas trocariam idéias sem ódio. Infelizmente, hoje a internet é um passeio pros bullies, que podem insultar anonimamente todas as minorias – aquelas que eles não teriam coragem de ofender na vida real. E quem paga mais o pato? As mulheres, claro. Uma pesquisa indica que, ainda que uma mulher não tenha um blog, se ela sequer fizer comentários em blogs alheios usando um nome feminino, tem 25 mais chances de ser ofendida que um usuário com nome masculino. Isso independente dos comentários que fizer. Ou seja, ela será atacada simplesmente por ser mulher. E os ataques dirigidos a mulheres também são diferentes dos ataques aos homens. Homens não são chamados de vadia, prostituta, mal-amada, e feia. Nem ameaçados de estupro. Até agora, por sorte, ser hostilizada desse jeito não faz parte da minha experiência internética. Mas eu fico pensando quem são os trolls que usam a web para ofender mulheres. Podem ser outras mulheres, escondidas atrás do anonimato? Até podem. Mas por que fariam isso? Eu entendo que uma mulher possa “xingar” outra de gorda. Mas será que ela realmente conseguiria escrever pra outra: “Tomara que você seja estuprada e retalhem o seu rosto, sua vadia!”? Acho bem difícil. Eu tendo a achar que a maior parte dos trolls é composta por rapazes com muito tempo livre. Meninos que odeiam que as gostosonas da escola não lhe dêem atenção, ou que têm raiva de suas mães por mandarem neles. Não sei. De todo modo, é por isso que não compartilho da opinião esperançosa que li nos comentários de mais de um blog (brasileiros e americanos) de que, quando as pessoas com mais de 40 anos morrerem, o mundo será lindo, porque as novas gerações de homens e mulheres não são preconceituosas. Hã? Então os trolls que escrevem atrocidades têm todos mais de 40 anos? Ou no fundo os meninos-trolls racistas, homofóbicos e misóginos não pensam assim de verdade, e só estão de brincadeira? O New York Times acabou de publicar um artigo imenso sobre os trolls, em que compara alguns sites abertos para anônimos a portas de banheiros públicos – todo mundo pode entrar e deixar a besteira que quiser. Ah, então é como trote? (outra doença social que nunca entendi). Eu tenho a impressão, também, que os bullies e, por consequência, os trolls, são piores nos EUA que no Brasil, já que os americanos são mais competitivos e bélicos que praticamente qualquer outra nacionalidade no mundo (tanto que não temos palavras em português para esses termos, bullies e trolls). Mas pra mim não resta dúvida que, tanto na internet quanto na vida real, as mulheres levam a pior como as vítimas preferenciais dos trolls.
Pra combater isso (espero), blogueiras brasileiras estão organizando um Luluzinha Camp, que vai se realizar em São Paulo no dia 23 de agosto. Fico feliz com a idéia e adoraria participar, mas não vou poder, já que acabei de voltar de viagem. Torço pra que seja um sucesso e a primeira de muitas reuniões (e que elas não percam tempo falando apenas de maquiagem). Porque o caso Jessica pode nos ensinar algumas lições de como é duro uma mulher ser levada a sério.
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