Mais sutil, o título em inglês de “Chefão” é “The Godfather”, que significa “o padrinho”. E é isso que Don Corleone é para sua comunidade, ou pelo menos para seus protegidos. É também um pai carinhoso e um mafioso bastante violento da década de 40. A história é aproximadamente essa. Há vários detalhes, montes de personagens, e o foco muda o tempo todo – ora o chefão é o protagonista, ora seu filho caçula. Por que então essa simples trama se transformou num dos maiores clássicos do cinema?
“Chefão” não é considerado apenas o melhor filme sobre máfia já feito, mas também um dos melhores filmes, ponto. Entra sempre na lista dos mais importantes, se bem que muita gente, eu inclusa, fica em dúvida se “Chefão II” não seria superior ao primeiro. A super crítica Pauline Kael demorou, mas acabou colocando o épico no panteão das obras-primas mais influentes do cinema. Além do mais, “Chefão” fez uma dinheirama, quebrou todos os recordes de bilheteria na época, foi um dos pioneiros a gerar continuações, lançou novos astros, e amealhou três Oscars (ao contrário de hoje, a concorrência era acirrada em 72, e “Chefão” concorreu com maravilhas como “Cabaret”).
Os bastidores do filme são igualmente fascinantes. Mario Puzo escreveu uma saga que foi se estabelecendo devagarzinho na lista dos bestsellers. Mas, quando o estúdio comprou os direitos do livro, “Chefão” não era nada fora literatura para se ler nas férias, e a intenção hollywoodiana era produzir um caça-níqueis de baixo orçamento. Por isso, chamou Coppola, que até então havia dirigido três filmes, nenhum deles significativo. Por isso e porque um dos produtores, Robert Evans, concluíra que todos os filmes de gangsters tinham sido feitos por judeus, e ele queria alguém que “cheirasse a espaguete”, ou seja, um ítalo-americano fácil de controlar. Coppola, fácil de controlar! Há! O jovem diretor era tão pouco respeitado no set que uma anedota conta que ele estava no banheiro quando entraram duas pessoas da equipe, comentando que ele era um incompetente, um amador. Coppola, envergonhado, ficou quietinho no cubículo.
É certo que o mérito da obra é dele, que conseguiu que o estúdio abrisse um pouco mais a carteira (mesmo assim, “Chefão” não foi nenhuma superprodução: custou US$ 6 milhões) e insistiu em fazer um filme de época (os produtores pretendiam “atualizar” a história, colocando hippies e tudo o mais). E, principalmente, foi capaz de contratar os atores que quis. Não que tenha sido fácil. Para interpretar Don Corleone, ele queria um dos dois maiores atores de todos os tempos, Laurence Olivier ou Marlon Brando. Olivier não podia, estava doente; Brando queria, mas ninguém o queria nem morto. Hollywood o via como veneno de bilheteria. Além disso, ele era jovem demais para o papel. Brando teve de passar por um teste, onde pôs graxa nos cabelos e Kleenex na boca pra fazer com que Don Corleone parecesse um buldogue. E Al Pacino? Ele era um zé-ninguém na ocasião. Evans o chamava de “aquele anão”. Mas hoje não dá pra pensar em outro pro personagem.
Apesar de tudo, “Chefão” deu certo. Serviu para mudar a cara do cinema e transformar a década de 70 numa das melhores da sétima-arte. Mais tarde, Coppola filmaria “Apocalypse Now” pra provar que não acreditava mesmo na América, o ingrato.
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