FOFOCAS QUENTINHAS SOBRE OS CINEASTAS DOS ANOS 70 – PARTE 1
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FOFOCAS QUENTINHAS SOBRE OS CINEASTAS DOS ANOS 70 – PARTE 1


Acabei de encontrar no Google, totalmente sem querer, este artigo meu que saiu publicado no jornal A Notícia em 1999. Eu que sou a autora não tinha mais o artigo, porque meu computador deu pane em meados de 2000 e perdi tudo que tinha antes disso. Bom, na realidade, como você vai ver se ler o texto, o artigo não é exatamente meu. Eu só sentei e re-contei as anedotas mais legais que peguei do grande livro Easy Riders, Raging Bulls, que é uma delícia do começo ao fim. Não dá pra entender por que demoram dez anos pra traduzir pro português um livro incrível desses. A tradução tá marcada pra sair este ano, pela Editora Intrínseca. Mês passado aluguei um documentário americano de 2003 com o mesmo nome, que traz todas as celebridades falando pra câmera, e clipes de muitos filmes, e acredite – o livro é muito superior. Isso porque o autor, Peter Biskind (foto), não só realizou um excelente trabalho de pesquisa, como escreve muitíssimo bem. Bom, como agora estamos na véspera do quarto e último Indiana Jones, vale a pena ler mais sobre como surgiu a parceria Lucas/Spierlberg, e mais um monte de coisas sobre os diretores americanos mais brilhantes dos anos 70. E veja todos os filmes citados, quase todos parte essencial da história do cinema. Divirta-se com o Biskind. (Só que como o artigo é muito longo, vou apresentá-lo em duas partes. A segunda está aqui).


OS ANOS DOURADOS DO CINEMA

Ano passado [1998] foi lançado o fantástico Easy Riders, Raging Bulls (algo como "Touros Indomáveis Sem Destino", em uma tradução livre), de Peter Biskind. O livro é um prato cheio para qualquer um que ame o cinema e, principalmente, uma de suas décadas mais douradas: os anos 70.

Easy Riders, que deve ter uma tradução para o português em breve [ainda não saiu! A tradução sai agora, em 2008], conta detalhes e fofocas de filmes que marcaram história. Traça um painel bastante completo do que era trabalhar com cinema, e, para isso, menciona uma gama de personagens, e não apenas os mais conhecidos. Além de atores e diretores, Biskind trata também de roteiristas, produtores, fotógrafos, figurinistas, editores, e, claro, ex-esposas. O retrato é várias vezes cruel, mas sem dúvida fascinante.

Quase todos os filmes mencionados aqui são clássicos. Muitos deles figuram em listas dos melhores de todos os tempos. São fundamentais para entender o que é a sétima arte, e fazem parte de qualquer filmoteca básica. Se você correr, ainda poderá encontrar alguns nas locadoras [o DVD ainda não havia se popularizado]. Estão velhinhos, vão sujar o cabeçote de seu vídeo, mas certamente valem a pena. Confira algumas das anedotas e curiosidades que aparecem no livro.

Robert Benton, então jornalista, hoje mais conhecido como o diretor de Kramer vs. Kramer e O Indomável - Assim é sua Vida, escreveu o roteiro de Bonnie & Clyde, Uma Rajada de Balas com um colega. Nenhum estúdio queria chegar perto de uma história que, além de endeusar dois criminosos, envolvia um triângulo amoroso (depois retirado do roteiro). Mas, um belo dia, Warren Beatty ligou para Benton, pedindo para ler. Recolheu o roteiro na mesma noite e, meia hora depois, ligou novamente, comunicando-lhe que gostaria de fazer o filme. Benton perguntou em que página Beatty estava, ouviu que na 25, e pediu para que telefonasse de volta após passar a página 40. Beatty ligou e virou produtor. Quando Bonnie & Clyde estava quase pronto, só precisando ser encurtado uns 15 minutos, Beatty foi mostrá-lo ao chefão do estúdio, Jack Warner. Warner havia desenvolvido um método peculiar para julgar se um filme lhe agradava ou não. Se ele precisasse se levantar para ir ao banheiro, o filme era ruim. Ele descreveu Bonnie & Clyde como "interminável, um filme de três mijadas". Beatty não sabia se ria ou chorava.

George Lucas, hoje o famoso diretor de Guerra nas Estrelas e o bilionário proprietário da Industrial Light & Magic, responsável por praticamente todos os efeitos especiais de Hollywood, era apenas um aluno da faculdade de cinema no final dos 60. Foi quando conheceu Francis Coppola, que imediatamente o acolheu. Na época, Coppola estava filmando um musical com Fred Astaire, sob encomenda para o estúdio, e Lucas assistia às filmagens diariamente. Coppola roubava rolos e todo o material que podia esconder num depósito, para depois poder fazer o filme que quisesse.

Peter Bogdanovich era um diretor quentíssimo no começo dos 70, com sucessos como A Última Sessão de Cinema e Lua de Papel. Pra variar, foi Roger Corman, o rei das produções B, quem lhe deu a oportunidade de rodar seu primeiro filme. Na Mira da Morte (Target) custou apenas US$ 125 mil, e Corman instruiu o jovem diretor: "Você sabe como Hitchcock filmava, não sabe? Preparava cada tomada, tinha storyboard totalmente preparado. E você sabe como Hawks filmava, não? Reescrevia o roteiro em cena, improvisava, não planejava nada. Certo? Bom, neste filme, quero que você seja Hitchcock".

Na década de 80, Bogdanovich passou a freqüentar as colunas de fofoca por sua vida pessoal. Primeiro, apaixonou-se pela coelhinha da Playboy Dorothy Stratten, que foi violentamente assassinada pelo ex-marido, um gigolô (isso está muito bem contado em Star 80, último suspiro de Bob Fosse). Depois, casou-se com a irmã dela, uma adolescente, e pagou cirurgias para que ela ficasse mais parecida com Dorothy. Hoje, após uma infindável onda de fracassos, Bogdanovich já teve sua falência decretada três vezes. Dizem que ele freqüenta festas e diz: "Lembra de mim? Eu costumava ser Peter Bogdanovich".

A maior parte das histórias sobre O Poderoso Chefão são conhecidas - como Brando enchendo a boca de Kleenex e passando graxa no cabelo para ganhar o papel de Don Corleone, os produtores não querendo aceitar Al Pacino, chamando-o de anão, essas coisas. Porém, esta é nova. Coppola ia almoçar com os pais de Martin Scorsese (diretor de Taxi Driver, Cabo do Medo, Cassino) em Nova York, e aproveitava para gravar as vozes deles, para saber qual sotaque os ítalo-americanos usavam. O Chefão ganhou três Oscars. Coppola, no discurso de agradecimento, lembrou-se de todo mundo, desde o cabeleireiro até o roteirista que escreveu apenas umas linhas, mas "esqueceu-se" de mencionar o produtor do filme, Robert Evans, a quem odiava de paixão. Em 1974, ao receber seu Oscar de diretor pela continuação, Coppola novamente agradeceu meio planeta... menos Evans.

Robert Towne (que depois tornaria-se diretor de Conspiração Tequila) originalmente redigiu Chinatown, mas quando Polanski (de O Bebê de Rosemary) assumiu o projeto, o roteiro teve de ser refeito. Os dois passaram dois meses na casa de Polanski brigando e escrevendo. Towne sempre vinha com seu cachorro, que babava nos pés de Polanski. O diretor polonês, para defender a mudança de uma cena, dava um discurso entusiasmado. Quando terminava, tudo que Towne fazia era levantar-se e anunciar, "vou levar o cachorro para um passeio". Towne, por sua vez, reclamava que Polanski chamava pré-adolescentes para sua piscina e as fotografava de biquíni.

Spielberg convidou os amigos Scorsese e Lucas para visitar o set de filmagem de Tubarão. O tubarão mecânico havia acabado de ser entregue. Lucas o inspecionou e pôs sua cabeça dentro das mandíbulas de aço, que não quiseram mais abrir. Depois de muito trabalho para soltar Lucas, os cineastas conseguiram abrir a carcaça e foram embora, certos de que tinham acabado de quebrar algo que custara um bocado de dinheiro. Sobre o tubarão, eventualmente foram construídos três exemplares mecânicos. Eram um desastre. Além das mandíbulas não fecharem, os olhos envesgavam. No terceiro dia de filmagem um dos tubarões afundou. A equipe começou a referir-se ao filme como "Flaws" (erros), ao invés do título original, "Jaws". Spielberg não estava satisfeito com o roteiro de Benchley, e chamou um jovem roteirista para reescrevê-lo. O rapaz chegou e encontrou Spielberg sentado no chão, brincando com um helicóptero a pilha, que girava em círculos. Quando começou a compartilhar suas idéias, Spielberg pediu que esperasse, enquanto colocava sua "trilha sonora para pensar", que era a música de James Bond, o 007. O roteirista pensou, "será que eu quero passar um ano com esse cara?", e foi embora. Spielberg era (é?) infantil, mas bobo jamais. Precisou tomar calmantes para sentir as reações do público em exibições-teste. Logo no início de uma delas, onde um menino é devorado pelo tubarão, um dos espectadores levantou-se, saiu correndo do cinema, vomitou e voltou para sua cadeira. Foi quando Spielberg soube que tinha um sucesso nas mãos.

Artigos meus relacionados: O Poderoso Chefão, aqui e aqui.




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