CLÁSSICOS DUVIDOSOS: IRRESISTÍVEL PAIXÃO / Levanta a mão quem quer ser a Karen
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CLÁSSICOS DUVIDOSOS: IRRESISTÍVEL PAIXÃO / Levanta a mão quem quer ser a Karen


George e Jennifer no melhor momento de suas carreiras.

Já falei que amo Irresistível Paixão (Out of Sight, 1998), mas não acabei de dizer o que queria sobre ele. Uma das coisas que eu gosto é como o filme é codificado por cores. Quando ele se passa em Miami, tudo no cenário, incluindo as roupas, é brilhante e colorido. Na prisão, o tom predominante é amarelo. Quando a ação chega em Detroit, os tons são todos azuis (sem falar que eu conheci aqueles lugares). Azul metálico, cor de carro!
Quanto à história, é interessante que Karen (Jennifer Lopez) seja uma personagem forte. Quando vemos a cena de Jack (George Clooney, meus sais) tomando banho de banheira, e Karen espiando e entrand
o devagar no banheiro, demoramos uns segundos pra sacar que trata-se de uma fantasia erótica. E, quando descobrimos, a primeira impressão é que é Jack quem está fantasiando. No sonho, ele a vê, pega a arma dela, diz “Oi” (“Hey”), e ela entra na banheira, de roupa e tudo. Mas a fantasia erótica é dela. Daí vemos que ela está no hospital, e é seu pai quem a acorda, dizendo: “Você estava falando enquanto dormia”. E ela quer saber: “O que eu disse?”. E o pai responde: “''Oi digo eu' ('hey yourself')”. Na única sequência de sexo que Karen e Jack têm pra valer, é ela quem toma a iniciativa. E é totalmente feminista o jeito que ela se desvencilha das cantadas dos rapazes no bar (como quando ela diz pra um dos carinhas, cortando-o: “Andy, francamente... Quem dá a mínima?”).
Mas, assim como em Jackie Brown, em I.P. também há um perigo constante rondando no ar contra as mulheres. Jack faz questão de declarar, no porta-malas, que nunca “forçou” nenhuma moça. No entanto, um de seus colegas de prisão (o sempre ótimo Luiz Gusman), pra se vingar de Jack, procura sua ex (Catherine Keener, de Sinédoque), uma assistente de mágico. Ainda bem que Karen está por lá pra ajudá-la, porque o criminoso não tem boas intenções. Mas a ameaça maior é de Ken (Isaiah Washington, que na vida real foi despedido de Grey's Anatomy após fazer um comentário homofóbico), que faz um estuprador. Ao tentar algo contra Karen, ele recebe o troco, e tudo que a gente pode pensar é bem-feito. Só que até ela fica com um pouco de medo dele. É detestável quando ele fala pra Karen da cachorrinha que ele tinha: “Ela era uma boa cadela, e eu dei a ela o que todas as boas cadelas querem - um osso”. Ken é um serial rapist. Sua única vontade ao invadir a casa do milionário explorador (um Albert Brooks irreconhecível) é estuprar a empregada (Nancy Allen, a vilã de Carrie, lembram?). Não há dúvida que ele é o verdadeiro vilão do filme. Felizmente, Ken acaba mal (e quem faz a irmã dele numa breve cena é Viola Davis. Como assim, quem? A que quase contracenou de igual pra igual com a Meryl Streep em Dúvida!).
Ah, e sabem como o pessoal critica o Tarantino por nos fazer rir do assassinato acidental de um rapaz negro em Pulp Fiction? Aqui acontece algo parecido, só que com um branco: White Boy, ao subir as escadas, tropeça e atira em si mesmo. A reação do público é rir muito, com razão, já que trata-se de uma cena ridícula.
I.P. é também o melhor filme do talentoso Steven Soderbergh, de Onze Homens e um Segredo, Solaris, Traffic, Erin Brokovich, e Sexo, Mentiras e Videotape. O elenco todo está fabuloso. Ainda não falei do Don Cheadle (Hotel Ruanda), o antagonista de Jack, ou de Ving Rhames (que é estuprado em Pulp Fiction), que interpreta o melhor amigo do protagonista. Nos extras do dvd, Ving diz que sabe que Elmore Leonard havia escrito o personagem pra um ator branco, mas que agora esse papel pertence a ele. E como pertence! Ving tem uma dinâmica toda especial com George. Ele é a parte sábia da dupla, que não consegue crer que seu amigo se apaixonou logo por uma policial (ao mesmo tempo, ele conversa todo dia com sua irmã evangélica, que já o dedurou uma vez). Outro que rouba as cenas é Steve Zahn (de O Sonho Não Acabou), como um ladrão medroso e tagarela. Opa! Tem também o Michael Keaton numa pontinha, fazendo o mesmo papel(ão) que em Jackie Brown.
Bom, que espectadora não adoraria ser a Karen? Ela prende e bate (em legítima defesa) nos caras, tem um pai gozador mas compreensivo, um emprego em que se realiza, e um sujeito como o George Clooney correndo atrás dela. Eu não precisaria de mais nada.




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