COMERCIAL DA HAVAIANAS DÁ CHINELADA NAS MULHERES
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COMERCIAL DA HAVAIANAS DÁ CHINELADA NAS MULHERES


Marcos Palmeira batucando. Veja o comercial aqui.

Mais um comercial ofensivo. Eu tinha visto uma vezinha só na TV, e agora a Leah pediu pra eu comentá-lo. Quando eu vi, nem me toquei que era propaganda de chinelo. Pensei que fosse de cerveja, porque tem todas aquelas besteiras de rodinha só com amigos e exclusão das mulheres. Acho que tem uma mulher do lado do Marcos Palmeira, mas ela mal aparece. Tem mais destaque uma moça de vestido atrás dele. Já diz muito que ela esteja de pé, fora do círculo. É essa a situação das mulheres nesses comerciais que não as têm como público-alvo. Mulher é só pra decorar ou pra que o protagonista (homem) possa reclamar dela (ainda mais se ela for esposa).
Enfim, aí aparece uma mulher totalmente fora dos padrões: de óculos, mais pra gordinha que pra magra, cabelo preso, ar professoral, longe das gostososas que a marca costuma usar. Ela surge pra interromper a festa dos homens e, do nada, diz que, com a crise, não há motivos pra ficar se divertindo e jogar conversa fora. Marcos diz “tristeza”, e um carinha emenda com o famoso samba “Tristeza... por favor vá embora...” (de Haroldo Lobo e Niltinho). Todos cantam, felizes, e a mulher se retira.
O comercial passaria em brancas nuvens se não fosse o contexto. Esse tipo de mulher não-gostosona de óculos não é nada comum na TV. Nem nos intervalos, nem na programação normal. Naquela campanha da beleza contagiante do Boticário, por exemplo, não havia nenhuma mulher parecida com ela. Porque, pelos padrões tradicionais, ela não é bonita. Então só vai aparecer pra encher o saco. O que ela fala é patético, lógico. Mesmo que a crise fosse tão terrível quanto o pessoal do “quanto pior melhor” quer fazer pintar, não seria o caso de amigos deixarem de se encontrar. E eu entendo e até concordo com a mensagem publicitária: não devemos ser pessimistas, vamos seguir vivendo, vai dar tudo certo (até porque toda e qualquer crise é péssima pro mercado, já que os consumidores diminuem o consumo). Mas me explica: por que colocar na TV fazendo papel de palhaça o tipo de moça que nunca aparece na TV? Por que não colocar uma das gostosonas? Ué, por que não colocar um homem de terno e gravata proferindo exatamente o mesmo discurso? Não pode colocar um executivo porque, quando o grupinho canta "Tristeza", não está mandando embora a crise, mas a mulher chata. Tristeza, substantivo feminino.
Não é exagero, não. Não é pegar no pé. É questão de pensar um pouco. Não sei se você lembra que, quando Silêncio dos Inocentes e Instinto Selvagem foram lançados no cinema, praticamente na mesma época (1991 e 92), houve vários protestos por parte da comunidade GLBT americana. Por quê? Porque o serial killer de Silêncio era um transsexual, e a vilã de Instinto era bissexual (aliás, praticamente todos os papéis femininos de Instinto são de bis ou lésbicas). Na ocasião, eu me recordo que achei aquelas manifestações ridículas. Ah, quer dizer que todo vilão tem que ser homem, branco, hétero? Fala sério! Para com isso!
O problema é que basta refletir alguns minutos sobre como gays, lésbicas, bissexuais e transsexuais foram retratados por Hollywood durante cem anos pra dar razão aos protestos. Não é como se essa minoria fosse sempre pintada positivamente e de repente, excepcionalmente, aparece um serial killer não-hétero. Se esse fosse o caso, duvido que alguém reclamaria. Mas existe um trocinho chamado contexto. E esse contexto mostra que os LGBT ora são vilões, ora motivo de chacota (como registra o excelente documentário The Celluloid Closet). Isso só começou a mudar um tiquinho dos anos 90 pra cá. E pode ter certeza que as manifestações tiveram influência para que mudanças acontecessem.
Raciocine comigo: se 99% dos heróis nos filmes são homens, brancos, héteros, os vilões também deveriam seguir a tendência, não? Se 99% das mulheres nos comerciais são decorativas e sem falas, é puramente ideológico colocar uma mulher que fala e não é bonita pra ser humilhada por um grupo. Ela é a típica mal-amada. Se fizesse sexo, não estaria reclamando por aí, né? Estaria era sambando atrás do Marcos, onde é seu lugar. E larga esses óculos, fia! Pruma mulher, ser vista é muito mais importante que poder ver, não sabia?
Opa, agora que fui notar, juro! Sabe de quem é a criação da peça? Da Almap/BBDO. A mesma agência do Boticário e do Doritos. Eles são consistentemente preconceituosos, é isso?
P.S.: Posso aproveitar pra dizer como o Marcos Palmeira me irrita? Não aguento seu sotaque ultra carioca. Ele parece estar fazendo um grande esforço toda vez que abre a boca.Tristeza...




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