Cotas e o preconceito dos bonzinhos
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Cotas e o preconceito dos bonzinhos


Por Paulo Moreira Leite, na coluna Vamos combinar:

A forma mais hipócrita de combater toda política pública de acesso dos brasileiros pobres às universidades consiste em dizer que os jovens de origem humilde não irão sentir-se bem em companhia de garotos de famílias abastadas, que puderam chegar lá sem auxílio de medidas do governo.


Por esse motivo, segue o raciocínio, iniciativas como cotas, pró-Uni e outras, iriam prejudicar até psicologicamente aqueles alunos que pretendem beneficiar, pois estes cidadãos se sentiriam diminuídos e inferiorizados ao lado de colegas cujas famílias frequentam universidades há várias gerações.

Vamos combinar que estamos diante de um recorde em matéria de empulhação ideológica. É possível discutir as cotas a partir de argumentos políticos, pedagógicos e assim por diante.

Mas o argumento do bonzinho é apenas arrogância fantasiada de caridade.

Num país onde a desigualdade atingiu o patamar da insania e da patologia, este raciocínio se alimenta de um desvio essencial. Consiste em considerar que um cidadão que não teve acesso a boas escolas desde o berço e encara o lado desagradável da pirâmide social logo depois de abrir os olhos é incapaz de raciocinar sobre sua condição e compreender que enfrenta dificuldades pelas quais não tem a menor responsabilidade como indivíduo mas como herdeiro de uma estrutura social desigual e injusta.

É aquela noção de quem acredita que as pessoas que se encontram nos degraus inferiores da pirâmide desconhecem a origem histórica material de suas dificuldades e, intimamente, se consideram “inferiores” aos demais. No fundo, se sentiriam culpadas por usufruir de um certo “privilégio” que os ricos, bem nascidos e instruídos podem dispensar — até porque o recebem por outros meios.

A vida real não é assim. Basta visitar escolas publicas e privadas que aplicam esses programas para descobrir que a maioria dos estudantes que se beneficiam de políticas compensatorias tem um desempenho igual ou até superior a seus colegas. Alguns dão duro como os demais. Outros batalham menos. Alguns fazem amigos. Outros encontram colegas que não querem ser amigos. É a vida de verdade, como se aprende até em filme sobre adolescentes americanos. A única pergunta relevante é saber se dentro de dez ou vinte anos o país estará melhor com cidadãos menos desiguais. Alguém tem alguma dúvida?

Mas os bonzinhos seguem fazendo sua parte para tornar o mundo pior. Numa canção inesquecível sobre a vida dos trabalhadores ingleses, John Lennon anotava: “assim que você nasce eles te fazem sentir-se pequeno…”

A mensagem dos bonzinhos é essa. Os filhos de pais pobres são tão pequenos que se sentem menores mesmo quando chegam à universidade. O melhor, então, é que sejam mantidos ao longe. Pode?




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