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CRÍTICA: 2012 / Nem vulcões e tsunamis salvam o fim do mundo
Na minha rua isso não acontece. Fui ver 2012 sozinha, chuif, porque o maridão está disputando os Jogos Abertos de SC e não tive tempo de convocar algum amigo. O cinema estava lotado, e, ao sair, vi que os ingressos pra sessão seguinte haviam se esgotado. Talvez eu esteja exagerando, mas tinha uma fila que eu não via desde Titanic (bom, pra ser justa, poucas vezes vi o shopping tão cheio. Os comerciantes não vão poder reclamar deste natal). Mas o maridão queria ver o arrasa-quarteirão da vez, e me fez prometer que eu reveria o filme com ele quando ele voltasse. Portanto, durante a exibição, eu fiquei pensando: “Ah, zuzo bem, posso ver o troço de novo. Tô até gostando, olha só aqueles cinco prédios se chocando, deve ser ótimo rever isso. Uau, que efeitos especiais massa! Terremoto, tsunami e vulcão juntos! Sem problema, vou quebrar esse galho pro maridão”. Isso até chegar ao terço final. Aí minha atitude mudou, meu bumbum começou a ficar quadrado no assento, e eu pensei cá com os meus botões: “O quê?! Não, isso tá chato demais! Não vou aguentar um repeteco!”. Na saída, minha conclusão era que o maridão teria que me tratar muuuuito bem durante no mínimo três meses ininterruptos pra que eu aturasse um “vale a pena ver de novo”. Gente, o que é aquilo?! O que aconteceu? As críticas que li até agora não mencionam isso que ficou claríssimo pra mim: a verba do filme acaba no terço final! É sério. Ok, pode soar estranho um orçamento de 260 milhões de dólares não ir até o fim da produção, mas eu juro. As imagens mudam de definição. Não sei se é digital ou o quê, mas sabe imagem de TV? De filme chinfrim feito pra TV? É assim que ficam as imagens no terço final, intercaladas com um ou outro efeito especial do tempo em que eles tinham dinheiro. Não tô brincando não. Quer uma prova definitiva? Durante um dos clímax do filme, no final, a câmera não mostra o que acontece. Focaliza o rosto de um carinha que apareceu três vezes até então. As expressões faciais dele substituem as imagens da catástrofe. Eu não sou boba e já vi um monte de superprodução e sei que não mostrariam as reações de um coadjuvante (praticamente um figurante) se tivessem alguma imagem melhorzinha pra mostrar. Não sei se a verba acabou de fato ou se as plateias-teste reprovaram e eles tiveram que refilmar um monte de coisa, mas que na fase-destino-do-poseidon do filme entra água, isso entra. Não que uma tecnologia de ponta do começo ao fim salvaria o roteiro no terço final, porque não tem salvação. É só clichê, e qualquer um que já tenha ido ao cinema umas quatro vezes na vida pode prever tudinho que vai acontecer, quem vai viver, quem vai morrer. A única surpresa é a última cena, que não posso descrever aqui, mas que tem um viés político forte. Isso porque o diretor Roland Emmerich (dos péssimos Independence Day e Godzilla) deve gostar de política. Seu filme anterior, O Dia Depois de Amanhã, é quase panfletário (e sou grande fã de Dia). É pena que 2012 vai piorando, piorando, até deixar um gosto muito ruim. Porque a premissa é boa, e poderia render umas discussões acaloradas. O mundo vai acabar em dezembro de 2012, como já previam os maias. A crosta terrestre esquentará demais devido ao alinhamento dos planetas, e caput, adeus Terra (não confie no meu rigor científico). O governo americano sabe disso uns três anos antes, e o que faz? Nada muito útil: constrói, em parceria com a iniciativa privada e outros governos ricos (nenhum país da América Latina), uma misteriosa nave para tentar salvar uma parcela da humanidade. E vende passagens. Entendeu? Não é que seleciona os melhores da espécie nem nada. Infelizmente, o filme peca pela falta de humor, porque uma das cenas de venda tinha tudo pra ser engraçada. Um negociante de vagas na nave discute o preço com um sheik do petróleo: um bilhão. E o sheik tenta negociar, diz que tem uma família grande, e que um bilhão de dólares por pessoa é um tanto quanto salgado. E o negociante corrige: que mané dólares? Um bilhão de euros! E não sei quanto a você, mas pra mim fica estranho que alguns poucos personagens do filme façam discursos comoventes sobre como devemos salvar o máximo de gente possível... e os escolhidos são todos bilionários! Lembrei daquela fala do John quando os Beatles fizeram um concerto prum público rico (“Queria pedir um favor para a nossa última música: as pessoas nos assentos mais baratos, batam palmas. E o restante de vocês, se vocês pudessem apenas chacoalhar suas jóias..."). Parafraseando, eu pensei em: “Quem quiser entrar na nave, por favor, chacoalhe suas jóias”. E não estou revoltada só porque eu seria extinta! (se o critério de seleção fosse os melhores da espécie, eu ainda teria alguma chance... not!).Um tema legal seria discutir se o governo deveria avisar a população mundial com antecedência. Avisar pra quê, se o mundo vai acabar? Pra Lolinha poder se empaturrar de chocolate sem culpa? Não, o filme sugere que é pra que as pessoas possam se despedir de suas famílias. Daria um outro filme, né? O que aconteceria se todo mundo soubesse que o planeta tem prazo de validade pra terminar? Seria o caos, suponho. Ou seja: não daria pra anunciar. Ignorance is bliss, é isso?Como este texto tá longo demais, pra variar, continuo depois. Mas, pra terminar, você quer ouvir as más ou as boas notícias primeiro? Ok, as más: não sobra um só brasileiro pra contar a história. Nem o Antonio Ermírio. As boas? Os argentinos sumirão da face da Terra. Essa eu já devo ter contado umas 2012 vezes. O fim está próximo, irmãos.Divulgação de 2012 em estação de metrô no Rio. Melhor que o filme.
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