EU E O CINEMA ADORAMOS ACABAR COM O MUNDO
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EU E O CINEMA ADORAMOS ACABAR COM O MUNDO


Entendo que o fim do mundo deste ano esteja gerando muita expectativa, mas, convenhamos, tá sem graça. Primeiro que ninguém sabe me informar quando acaba essa bagaça. É agora de manhã? Preciso preparar a aula? Mais à noite? Quase no dia 22?
Segundo que o prometido apocalipse do ano passado tinha um enredo mais interessante. Eu e outras pessoas santificadas nos preparamos para sermos raptured (alçadas aos céus). E eu até cogitei comprar um kit-rapture pro Calvin (que, num exemplo flagrante de discriminação, não podia ser alçado ao paraíso apenas por ser um gato).
Se a gente for ver a decisão absurda daquele juiz que proibiu o segundo aborto de uma mulher que corre risco de vida (e nesses casos o aborto é permitido no Brasil), podemos pensar que o fim já chegou. Mas sou otimista e prefiro crer que a mulher conseguirá fazer um aborto a tempo -– para que uma gravidez não se transforme numa sentença de morte. E sou tão Pollyana que acho que a frase que melhor descreve a humanidade é uma que apareceu em algum Occupy Wall Street. Em vez do clichê “O fim está próximo”, alguém segurou uma faixa escrito “O início está próximo”. Não é lindo?
Estou trabalhando feito uma condenada, e sem data pra acabar (a menos que os maias estejam certos). Então vou comentar alguns filmes que me lembro de cabeça quando o quesito é fim de mundo.

O Nevoeiro. Melhor filme de terror dos últimos dez anos, fácil. O mundo não chega a acabar, mas quase. Verdade que eles não estão muito preocupados com o planeta -– a situação desesperadora (o exército americano, num experimento bélico, abre as portas de uma nova dimensão, liberando montes de monstros. Pense em insetos gigantes) se restringe a uma cidadezinha, e no final parece que tudo menos a vida do protagonista terá uma solução. Filmaço.
Ensaio sobre a Cegueira. Tem o Gael Garcia Bernal, com aquela carinha de anjo, como um dos vilões mais asquerosos em tempos recentes. E uma cena de estupro coletivo que qualquer mulher que assistir ao filme vai se lembrar pra sempre. Ensaio tem uma visão hiper negativa do que seria o comportamento dos homens diante de uma tragédia. Algumas pessoas querem chamar isso de realista, mas já falei que sou uma Pollyana?
Madrugada dos Mortos. Todos os filmes de zumbi são filmes sobre o fim do mundo, né? E Madrugada deve ser o melhor da última leva. Eu prefiro muito mais que Extermínio. O remake de 2004 já começa a todo vapor, com contaminação rápida e homens matando, roubando e estuprando já nos primeiros sinais de apocalipse. Depois um bando de sobreviventes vai parar num shopping center, com direito a andar de elevador ao som de muzak. E tem uma definição fantástica pra um morto vivo: deadish.
A série de TV Walking Dead é bem bacana, não vou negar. Mas me incomoda profundamente que só na metade da terceira temporada apareça uma personagem feminina forte, capaz de se defender sozinha contra um monte de zumbi. Estou falando da Michonne. A Andrea demora um tempão pra mostrar sua autonomia. 
Não que o público da série perceba essa demora. Ele parece ocupado demais chamando a Lori de vadia porque, sabe, quando o mundo acabou e ela pensava que seu marido estivesse morto, ela e o melhor amigo dele fizeram sexo. E, pro público, isso se tornou a coisa mais imperdoável de toda a série. Eu não gostava da Lori (ela era chata e conservadora, uma das maiores incentivadoras das camisas de força de gênero na série), mas acho que ela cometeu besteiras muito maiores que transar com o Shane num contexto de fim de mundo, quando ela achava que seu marido estivesse morto. Eu já disse isso? Nunca é demais repetir.
Fim dos Tempos. Nas piores atuações de suas carreiras, Mark Wahlberg e Zooey Deschanel interpretam um casal em crise. O mundo tá lá, nas últimas, e Zooey tem dor na consciência porque cometeu adultério -– isso é, comeu sobremesa com um homem que não seu marido. Mark meio que responde: "Ah é? Ah é? Eu também fui infiel! Comprei pastilhas pra tosse com uma farmacêutica atraente, e eu nem tava com tosse!”. Enquanto isso, a plateia, catatônica, espera que as toxinas expelidas por plantas provoquem um suicídio coletivo no cinema e a livre do sofrimento.
O Dia Depois de Amanhã. Adoro este filme engajado e panfletário. Fora as cenas incríveis de congelamento (precisa fechar uma porta correndo pra não morrer congelado), tem aquele momento iluminado que faz o cinema uivar. É quando o México fecha as fronteiras pros refugiados americanos! E só as reabre depois que os EUA perdoam a dívida externa da América Latina. Muito, muito legal. O filme ainda mostra que, se a gente continuar ferrando o planeta, logo será game over pra nós. Ou melhor, pra vocês, que o meu rapture tá garantido.
O Dia Seguinte. Um clássico da minha adolescência, este filme feito pra TV em 1983 causou furor. Era uma época em que a gente morria de medo que a guerra fria e a tensão permanente entre EUA e URSS levariam a uma guerra nuclear. E o filme concretiza essa fantasia.
O Dia em que a Terra Parou. A gente tá zoando tanto com o planetinha que, se continuarmos assim, a patrulha intergalática virá aqui pra por fim a essa bagunça. E o “por fim” envolve varrer a Terra do mapa, pro bem de todo o universo (não somos uma espécie muito popular, pelo jeito). Por incrível que pareça, os efeitos especiais tanto do original quanto da refilmagem perdem para aqueles feitos por amadores em Rebobine, Por Favor. Mas pelo menos o clássico de 1951 tem um ultimato aterrorizante pra gente: “Juntem-se a nós e vivam em paz, ou sigam no seu caminho e serão eliminados”. Klaatu barada nikto, meu!
2012. Um filme quase tão marcante quanto Fim dos Tempos ou a refilmagem de O Dia em que a Terra Parou (ou seja...). Mas tem uma característica interessante (sem contar a presença do Woody Harrelson): assim que o governo americano percebe que o mundo vai mesmo acabar hoje, como previam os maias, ele constrói, junto à iniciativa privada e outros governos de países ricos (bem menos ricos depois da crise do capitalismo), uma nave que sobreviverá à catástrofe. E aí vende lugares na nave pros maiores bilionários do mundo. Preço mínimo é um bilhão de euros por cabeça. Aí a gente fica torcendo muito pra nave afundar.
Acquaria. Ninguém conhece esse filme brasileiro com Sandy e Júnior. Mas ele fala de um cenário apocalíptico em que não existe mais água e os poucos sobreviventes são Sandy, quando ela ainda era virgem, e seu irmão. Em outras palavras, o mundo não vai exatamente sofrer de superpopulação, certo?  Só incluí este filme na lista pra provar que houve uma época em que eu fazia questão de ir ao cinema todo final de semana (nem que o último filme na face da Terra fosse Acquaria), e porque esta crônica em que o maridão mais me humilha está no meu livrinho sobre cinema. Algum dia no início de 2013, se o mundo não acabar antes, vai sair a segunda edição. E aí você tem que comprar unzinho.
Guerra dos Mundos. Eu não lembro nada desse filme, então fui ler a crítica que escrevi na época. E logo no primeiro parágrafo aparece: “O Tom é lindo até coberto de cinzas de humanos decompostos”. E ele é, gente!
Melancolia. O planeta Melancolia ameaça se chocar contra a gente. Gente deprê aguarda uma conclusão. E o filme é uma beleza!


Bom, por enquanto é isso. Feliz fim do mundo, pessoal! E nada de fazer o que algumas pessoas fizeram quando o último fim se frustrou -– se matar. Supere.




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