CRÍTICA: AMOR É CEGO / O amor é burro
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CRÍTICA: AMOR É CEGO / O amor é burro


Mais uma proibição entra na lista do que as gordinhas não devem fazer, além de não se alimentar em público (todos ficam olhando e imaginando: por isso que ela está acima do peso – ela come!), não vestir shorts, e não se importar com o que as pessoas pensam. É não ver “O Amor é Cego”. O espectador magricela olhará pra você querendo saber: “como ela se sentiu?”. Não tenho certeza se isto aconteceu comigo, este hipopótamo que vos fala. Nenhum problema em EU me chamar de hipopótamo. Se alguém mais se atrever, achato-lhe o nariz. Mas, sério, acho hipopótamos, baleias, e elefantes divinos, e se eu tiver que escolher entre beijar a Gwyneth Paltrow ou um hipopótamo, nem hesito: hipo fofinho, vem cá! Talvez os homens não compartilhem da minha opinião, mas quem liga pra eles?

Ih, se você não viu o filme, deve estar boiando. Explicarei tudinho, que a paciência é uma qualidade dos paquidermes. Esta comédia é a mais recente investida dos irmãos Farrelly, responsáveis por atirar numa arara em “Débi&Lóide”, engessar um cãozinho em “Quem Vai Ficar com Mary?”, e atropelar uma vaca em “Eu, Eu Mesmo e Irene”. Pelo menos, em “O Amor é Cego”, nenhum animal se machuca. Como adoro bichos, não vou xingar o protagonista de “Que Amor!” de anta total. Nem de burro. Digamos que ele seja um energúmeno que, apesar de ser feio como um camelo (que injustiça! Camelos são lindos), só quer namorar top models ou mulheres no mínimo um metro mais altas que ele. Este sujeito, interpretado por Jack Black (“Alta Fidelidade”), não é apenas fisicamente desagradável – ele também é vazio, estúpido e, pra piorar, detesta cachorros. Aquele típico “loser” (perdedor) ou “jerk” (babaca) que os americanos gostam de designar. Mas um guru o enfeitiça pra que ele só enxergue a beleza interior das pessoas. Então Hal (o título original é Hal Superficial) conhece uma moça obesa que, pra ele, é a cara da Gwyneth Paltrow. Seu melhor amigo tenta em vão alertá-lo. Este amigo é igualmente gordo, baixinho e antipático, e, convivendo com ele, dá pra entender direitinho por que a carreira do Jason Alexander (“Seinfeld”) não decola.

A personagem da Gwyneth, no entanto, é um poço de virtudes. Seu único defeito é pesar 120 quilos. Por ser rica e não precisar trabalhar, a meiguinha passa seus dias conversando com crianças doentes e sendo voluntária em países de terceiro mundo. Epa, não se diz mais isso, como que é, ah sim: países em desenvolvimento. Logo, há motivos pro Hal se interessar por ela, mas, por favor, alguém me explique, o que ela vê no Hal?! Beleza interior? O filme consolida o preconceito de que mulher bonita não pode ser legal e inteligente, enquanto os homens não precisam nem ser bonitos, nem inteligentes, já que, pra uma moça encalhada, qualquer asno serve. Pô! Tadinha da Gwyneth! Será que ela nunca ouviu falar no “antes só que mal acompanhada”? Se bem que “Cegueta” é cheio das boas intenções. É, na realidade, um “tearjerker” (filme pra arrancar lágrimas). Tem até moral da história, que é: “balofa, não fique triste! Você também tem chances!” De quê, de arranjar um Hal?

Como esta é uma produção farrelliana, há gente com problemas físicos. Mas os diretores não fazem rir deste pessoal. Aliás, eles não fazem rir de nada. Não sei, não entendo nada de cinema mesmo, mas sempre tive a ilusão que uma comédia deveria provocar risos. Não estava sozinha no cinema. A única parte em que alguém riu foi lá pelo meio, quando um minutinho de gags visuais inunda a tela – casal tomando milkshake, casal remando no lago, Gwyneth pulando na piscina. Ah, não se preocupe que todas essas cenas estão no trailer. Outra coisa irritante é a direção de atores. Eles atuam balançando a cabeça e levantando sobrancelhas, como se possuídos por um eterno tique nervoso.

Agora, um aviso para as volumosas. Se possível, casem-se primeiro, engordem depois. Foi o que eu fiz. O maridão também não é perfeito, mas ninguém é, com exceção do Tom Cruise. Gordinhas do mundo, uni-vos! Merecemos filme melhor!





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