CRÍTICA: FALCÃO NEGRO EM PERIGO / Mais um documentário sobre o patriotismo americano
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CRÍTICA: FALCÃO NEGRO EM PERIGO / Mais um documentário sobre o patriotismo americano


A vantagem de se assistir à “Falcão Negro em Perigo” é que a gente se convence que guerra é definitivamente uma coisa hedionda... e chata. Muito chata. Os americanos gostam de batalha e de filmes batalhentos. Mas eles compõem um dos povos mais bélicos do mundo. E nós, o que temos a ver com isso? Brasileiro é bonzinho. De guerra, só conhece a urbana do dia a dia. Já os ianques-go-home se metem até nas lutas dos outros, até (principalmente?) quando não são chamados. Tenho certeza que eles não fazem idéia de que a Somália existe. Mas em 1993 lá estavam eles pra caçar um sanguinário e garantir a paz. Equipados até os dentes, que paz, a gente sabe, se faz com armamento pesado e montes de tiros.

“Falcão” traz a marca de qualidade do produtor Brukheimer (estou sendo sarcástica; o cara só comete arrasa-quarteirões) e do diretor Ridley Scott (último filme: “Hannibal”, penúltimo: “Gladiador”). Começa com intermináveis legendas explicando a situação da Somália na época e advertindo que esta é uma trama verídica. Como é verdadeira, posso contar tudo, até o final, ueba. É o seguinte: soldados americanos são enviados para uma missão. Um helicóptero é abatido e o comandante manda uma tropa de resgate, que deverá enfrentar uma população pra lá de hostil. Resultado: 19 militares americanos mortos. Que horror, não? Ahn, nesta mesma empreitada são chacinados mil civis somalis. Sei que é um pormenor, mas o placar final é de 19 a mil. Parece placar entre judeus e palestinos. Aí entra a derradeira narração do protagonista afirmando que os americanos nunca quiseram ser heróis. Mas acontece, sabe como é. A moral da história vem resumida numa cena em que um médico diz prum soldado ferido: “Vou fazer você sofrer ainda mais. Vai doer, mas é pra te ajudar”. Esta é a síntese da intervenção americana na Somália. Detalhe: o soldado morre.

Tecnicamente, “Falcão” é perfeito. Tem quilos de cenas de ação, algumas cheias de sangue. Mas é no campo ideológico que o filme é mais eficiente. Embora os militares americanos usem capacete, há closes e mais closes deles, e eles recebem diálogos (banais). São brancos e fortes, prontos pra luta. Já os somalis não têm rosto. De soslaio, vemos que eles são negros e esquálidos. A impressão que fica é que os ianques estão lutando sozinhos. Alguém muito feio e mau atira neles, e eles revidam, ué. Enquanto isso, um comandante acompanha o confronto em vídeo. O tempo inteiro, ele cobre a boca com a mão e balança a cabeça. Notei que eu, sem querer, estava imitando seus movimentos. Às vezes eu bocejava também, ou revirava os olhos. Quando o segundo helicóptero cai, não escondi um “Ih, pronto! Vai começar tudo de novo!”. Mais bocejos.

Se você reparar bem, verá o Ewan Mcgregor servindo cafezinho, entre outros atores sem ter o que fazer. O Josh Hartnett, praticamente um veterano depois de “Pearl Harbor”, é quem tem o papelzinho maior. Há mais dois ou três coadjuvantes de “Pearl”, que, por coincidência, também é um produto Brukheimer. O que é isso, franquia? O que veremos a seguir, Josh, Bruk e cia. no Afeganistão, caçando o Bin Laden? Ou a intrépida equipe a bordo do outro avião em 11 de setembro, aquele que reagiu aos terroristas ou foi abatido pelo Pentágono, não se sabe ainda? Já sei, a equipe fantasiada de bombeiros nos escombros do World Trade Center! A lista é infinita. Estamos na terra das oportunidades, onde os heróis acontecem.

Lá pelas tantas, um soldado do bem é feito refém pelas forças do mal. O legal é que “Falcão” termina no melhor estilo “esqueceram de mim”. Quase nenhuma palavrinha sobre o refém. Em compensação, antes mesmo dos créditos finais, temos direito a um legítimo memorial. Aparecem todos os nomes dos nossos queridos 19 soldados mortos em combate. É por isso que o filme concorre a quatro Oscars, imagino. Isso e porque o Oscar tá cheio de bombas este ano. Uma a mais não faz diferença. Agora, com todo o respeito aos mortos, “Falcão” é de uma chatice monumental, né?





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