Pois é, o maior problema de “Horror em Amityville”, como de tantos outros filmes de terror, é que os personagens parecem viver num universo paralelo, sem cinema ou TV. Eles nunca viram um filme de terror. Nem imaginam o que seja uma casa mal-assombrada. Este “Amityville” de agora, pra começar, é uma refilmagem de um terror de 79 meio fraquinho, mas que gerou algumas seqüências. A história eles dizem ser real (duvido!), baseada numa série de assassinatos ocorridos em 74. Um ano depois, uma família compra a casa e as coisas não vão bem. A filhinha torna-se amiga da menina morta e passa a subir no telhado (lembrei daquela piada sobre como dar más notícias, “seu gato subiu no telhado”), ímãs de geladeira deixam mensagens hostis, e o padrasto, que até então era querido, decide ter altas conversas com um buraco no chão. Não é um bom sinal. Se ele tivesse visto “O Iluminado”, por exemplo, saberia que isolar-se da família e carregar um machado não são compatíveis com a sanidade mental. Se um menininho tivesse assistido a “O Sexto Sentido”, iria preferir fazer xixi na cama do que levantar de madrugada pra usar o banheiro. Aliás, que fixação que filme de terror tem com banheiro, né? Não dá pra olhar pra um espelho embaçado ou banheira sem adivinhar que um monstrinho vai aparecer. E eu não entendi os fantasmas de “Amityville”. Aquele um do banheiro o menino nem nota. É só pra gente. Ou melhor: os produtores sentiram que houve vários minutos de projeção sem um sustinho sequer, e aí adicionaram a cena.
Há coisas que você nem precisa ter uma longa tradição com filmes de terror pra sacar que são estúpidas. Basta um pouco de inteligência. Ou seja, se estiver saindo barulho de uma gradinha no alto, a gente não pega um banquinho e sobe lá pra ouvir melhor. Se a gente encontra caixões com o nosso nome no porão, a gente não sai por aí procurando o autor dos caixões. Por que não experimentar o caixão, ver se serve? Dá na mesma. E se alguém tenta matar crianças e cachorro, a gente não perdoa, nem que a pessoa em questão seja saradona (as espectadoras falaram muito dos abdominais do sujeito; um rapaz disse “Vou começar a cortar lenha”), ou que venha com aquela velha desculpa: “Não era eu!”. É tudo uma questão de lógica.
A esta altura você deve estar morrendo de curiosidade pra saber se eu acredito em casa mal-assombrada. Acho que, apesar de todos os filmes provarem o contrário, minha resposta é não. Mas penso que as casas têm memória. Quando meu gatinho morreu, eu fiquei vendo o fofo nos cantos onde ele costumava andar. Mas não era uma visão assustadora, e sim nostálgica. Perguntei pro maridão se ele também não tinha esses deja-vus, e ele me cortou com um “Ok, vamos nos mudar”.