CRÍTICA: INDIANA JONES 4 / Não quero a caveira de cristal do Indy
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CRÍTICA: INDIANA JONES 4 / Não quero a caveira de cristal do Indy


Fui ver Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal ontem, em Detroit, numa sessão quase lotada pros críticos. O entusiasmo era tangível. Um carinha foi vestido a caráter, com chapéu, calça-cáqui, e chicote. Houve aplausos dispersos quando apareceu o logo do “Lucasfilm”. Só que, lamento dizer, após a sessão não presenciei muito entusiasmo. Os críticos foram embora caladinhos. E olha que todos eles, eu inclusa, têm uma ligação sentimental com a série. A gente sabe perfeitamente que os personagens são ícones da nossa infância e adolescência. Pra mim, ver Caçadores da Arca Perdida aos 14 anos foi como se eu estivesse numa montanha russa. Foi a primeira vez na vida que o cinema me fez sentir assim. Duvido que o pessoalzinho de 14 anos de hoje vai encarar Indiana da mesma forma. Pra essa nova geração, suponho que a franquia (que obviamente será lucrativa, e haverá um quinto e provavelmente um sexto filme, mesmo sem o Harrison Ford) não vai se distinguir muito dos outros filmes atuais de ação. Meu veredito, estritamente pessoal, é que este Cristal é o pior dos quatro Indies, fácil. Mas, ainda assim, uma boa matinê.

Começando pelo que gostei: o Harrison Ford pode estar velhinho e tal, mas ainda dá um belo caldo. E é legal que o roteiro se encarregue de fazer piadinhas com a idade dele pra tirar a graça das nossas. Por exemplo, logo de cara Indy diz que antes o trabalho era mais fácil, porque ele era mais jovem. Não que ele encontre a mínima dificuldade pra derrotar um exército de inimigos. E o Shia LaBeouf, que tá bem na sua entrada de moto imitando o Marlon Brando em O Selvagem (quer dizer, não dá pra comparar a sensualidade de um Marlon com a de um Shia), pergunta a Indy: “Você deve ter o quê, uns 80 anos?”. Hum, gostei das cenas com a areia mais ou menos movediça, com as formigas gigantes, e com a caveira de cristal espantando as formigas, como o fogo fazia com as cobras em Caçadores. O duelo de espadas e o Shia se equilibrando entre dois carros estão ok, mas os macacos? Nada a ver. Talvez seja uma homenagem ao macaquinho tão encantador/traiçoeiro de Caçadores, talvez seja uma homenagem ao Tarzã. Mas tá fraco. E um dos motivos é que os símios são tão claramente gerados por computador que mal parecem reais.

Mas vou me ater aos pontos positivos agora. Gostei muito da volta da Karen Allen. Tá certo que ela não faz muita coisa nas cenas de ação além de dirigir carro e desviar de metralhadora (ela fazia mais em Caçadores), mas seus olhos brilham perto do Indy, e ela exala felicidade por estar no elenco. E eu acho ótimo que uma mulher bem mais velha (imagina, ela tem 56 anos! Já passou da época da aposentadoria pras atrizes!) possa fazer par romântico com o herói. Lembra que a gente tá em Hollywood, onde é normal prum Sean Connery namorar uma Catherine Zeta-Jones quarenta anos mais nova. Mesmo em Indy 3, pai e filho se envolviam com a mocinha/vilã (aliás, sem sombra de dúvida, a pior personagem feminina dos quatro filmes. Alguém se lembra da atriz?), que tinha mais idade pra ser namorada do River Phoenix. Se você julgar pelo poster de Cristal, vai achar que a Karen é irmã-caçula do Shia. Mas o desenho rejuvenesce o próprio Harrison uns 30 anos. No filme a Karen aparenta bastante a idade que tem, e ainda assim tá linda. Outro cuidado com as mulheres foi usar figurantes que estivessem próximas do padrão de beleza dos anos 50, quando a ação se passa (um padrão muito mais pra Marilyn Monroe que pra Keira Knightley). Logo, em Indy 4 não tem esqueletos ambulantes. Quer dizer, tem, mas acho que são de cristal.

Tudo bem, a Cate Blanchett é magra que dói, mas ela encarna uma vilã meio dominatrix. Embora o maridão não tenha gostado dela, eu a achei eficiente. Gosto quando ela liquida uma formiga no meio das suas pernas, e sai um líquido gosmento. Uma alusão um tanto ejaculativa, é vero, e um tanto “olha como posso esmagar outras coisas que estiverem por aqui”, mas consistente com a personagem. O problema, pra mim, não é com a Cate em si – é com toda a trama dos soviéticos. Os russos não têm nada que fazer na história, que fica mal explicada. Sei que o roteiro pede uma classe de vilões conhecida e incontestável e, como já haviam usado nazistas, usam os soviéticos (a maior parte dos americanos acha que a Segunda Guerra foi entre EUA e União Soviética mesmo). No entanto, hoje em dia o “better red than dead” (“melhor morto que comunista”) soa datadérrimo, e quem vai entender o “I like Ike” (referência ao presidente Einsenhower)? A mesma coisa com o pânico da bomba nuclear. Em 1984, tempo de Templo da Perdição, com o Dia Seguinte e tal, ainda daria um bom subtexto. Mas hoje? Verdade que os americanos estão morrendo de vontade de bombardear o Irã, mas nem eles crêem que o país do Oriente Médio seja mesmo uma potência nuclear.

Outro defeito do filme é que, nos anteriores, os momentos falados, as explicações “científicas”, serviam não só pra alavancar a trama, como pra desenvolver os personagens. Aqui os diálogos são bem chatos, e param tudo. Quer mais um defeito? Bom, talvez eu seja a única pessoa a cometer uma heresia dessas, mas achei vários dos efeitos especiais ruins. Quando o tanque anfíbio cai nas cachoeiras, a aventura cai muito também, e não se ergue mais. Tudo aquilo se destruindo ficou vago demais. Tá, em Caçadores o cenário também entrava em convulsão, mas era diferente. Não acredito que vou dizer isso: os efeitos especiais de 1981 pareciam mais reais que os computadorizados de hoje, que deixam tudo hiper artificial. E existe pelo menos um erro grave de edição, também perto do fim. Há quatro ou cinco personagens indo de uma fase à outra, como se fosse um videogame. Até aí, tudo bem. Mas o grupinho tá parado, como se tivesse acabado de entrar no set, quando Indy grita “Vamos!”. Fica esquisitão. Ah, e já falei que o John Hurt tá totalmente desperdiçado? Mas esses erros todos são fichinha se pensarmos no mau uso da trilha sonora. Ela simplesmente não é aproveitada como deveria. Quando acompanhamos o relançamento de ET, o que emociona é a música-tema na cena em que os meninos pedalam pra lua (modo de dizer). É a música de Indy que levanta o trailer (que, convenhamos, não é grande coisa). Mas, no filme, são usados apenas aperitivos da clássica trilha do John Williams. Não cria momentum. Só no final, nos créditos, e aí já é tarde.

Isso que vou citar agora não é um julgamento, apenas uma constatação. Note que Indy 4 é bem menos violento que o segundo. O pior são as formigas gigantes, mas é tudo de mentirinha. Quase ninguém morre na frente da câmera. Bem no começo, quando os russos liquidam soldados na base americana, a câmera enfoca o Indy. Tampouco vemos nativos sendo exterminados. Compare com o coração arrancado do peito nos sacrifícios de Templo da Perdição. Não sei se você lembra que a classificação PG-13 foi criada em 1984 apenas para atender o segundo Indy. O filme era sanguinário demais pra menores de 13 anos sem supervisão dos pais e, como havia muito dinheiro por trás pra censurá-lo pra menores de 17, a organização americana que regula as indicações criou uma classificação exclusiva. De todo modo, a impressão que fica é que, perto de Indy 2, Indy 4 é uma aventura pra crianças. Estranho que, quanto mais o Harrison, o Spielberg e nós envelhecemos, mais os filmes se tornam infantis.

- E aí, Júnior? Será que você consegue levantar o torpedo em Indy 5?





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