Quem faz o jumper principal (há mais de um) é o Hayden Christensen (que eu sempre confundo com o James Franco, um ator bem superior), que está melhor aqui que em “Guerra nas Estrelas”, menos estressado, mais levinho. A gente pode reclamar que ele tá levinho demais, sem nenhuma substância. Mas considere o material. Se sua interpretação tivesse a mínima profundidade, entraria em conflito com o roteiro. O Jamie Bell (que faz um outro saltitante) eu vi recentemente em “Querida Wendy”. É o menino de “Billy Elliot”. Ele rouba todas as cenas do Hayden, mas até aí, isso não é muito difícil. A mocinha eu não sei quem é. Digamos que ela causou uma impressão. Ela franze a testa e faz umas três caretas com a boca, e às vezes sincroniza e usa os olhos também, pra maior efeito. O quê? Eu não disse que a impressão foi positiva. O Samuel L. Jackson faz o de sempre, agora com cabelo branco. Desse jeito vou começar a me identificar com a piadinha de “Extras”, em que uma figurante diz que gostou muito da sua atuação em “Matrix”. E até a Diane Lane tem uma pontinha como mãe do pulador-mor. A mãe do guri foi embora quando ele tinha 5 anos. Tudo bem, eu entendo, porque o marido (pobre Michael Rooker) era alcóolatra. Mais pra frente a gente descobre que o motivo foi outro, chamado “Pretexto para Várias Sequências, Dependendo do Sucesso do Filme”.
O mais interessante é que, assim que o Hayden descobre seu dom para teletransporte, em nenhum momento ele pensa em ajudar alguém ou salvar o planeta. Não. Ele usa seu superpoder pra se transportar da mesa da cozinha até a geladeira e, em momentos de suprema ambição, ir a Londres conhecer alguma gatinha num bar pra passar a noite. Aliás, quando o Hayden passa a dar pulinho ao invés de andar três passos até a geladeira, a gente pensa: tem que ser americano! O personagem realiza todas as fantasias masculinas juvenis – fugir de casa, roubar banco pra ter dinheiro pra tudo, viajar pelo planeta, pegar carrões. Em certos instantes “Jumper” lembra “Antes de Partir”. Ou seja, em ambas as produções, conhecer a fundo uma das sete maravilhas do mundo é comer um sanduíche em cima dela. E o que o saltitante vai fazer em Tóquio? Absolutamente nada, além de dar um recadinho pro imponente público japonês: “Olha, a gente lembrou de vocês, agora vejam o filme!”. Eu acho que deviam fazer isso com todos os países com população grande. O Hayden podia dar um pulinho no ombro do Cristo Redentor, por exemplo. Já emendava essa rota turística com a divulgação do filme.
Há uma espécie de conspiração religiosa que caça os saltitantes. Não fica claro o motivo, fora a inveja. Quero dizer, se os jumpers não fossem tão inocentes, poderiam causar o maior estrago. Dava pra deixar uma bomba em algum lugar e ir embora. Ahn, como assim, “poderiam causar”? Eles acabam com o Coliseu! Só tá lá pra ser playground de filme de ação americano, como a Muralha da China em “Tomb Raider”. Na realidade, todas as lutas entre esse pessoal mais poderosinho deveriam ocorrer em lugares desertos, cheios de areia, onde a chance d'eles quebrarem coisas é pequena (de preferência não no Egito, onde eles correm o risco de esbarrar em alguma pirâmide). Lembra do Hulk? Era melhor pra toda a humanidade quando ele estourava na base militar do deserto de Nevada. Lá ele só estragava sua bermuda. Vendo “Jumper”, a gente passa a defender a permanência dos soldados americanos no Oriente Médio. Eles podiam ficar pra sempre no deserto do Saara.
A aventura vai ficando cada vez mais tola e inútil à medida que vai adiantando. No final não tem salvação, e a platéia passou a rir das cenas mais ridículas. Minha fala favorita é quando um personagem diz pro outro: “Existem coisas que você não pode pular”. Juro que pensei que ele fosse acrescentar: “Para todas as outras, existe Mastercard”.
Será que quem quebrou o nariz da esfinge foi o saltitante?