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CRÍTICA: O ENVIADO / A culpa é do Zacarias
O slogan publicitário de "O Enviado" é "Criado pela ciência. Entregue pelo diabo". E, a gente poderia incluir, "Assistido por quem não tem mais o que fazer", que é o meu caso. Trata-se de mais um produto hollywoodiano chamando os cientistas de malucos. Desta vez o cientista em questão é o Robert De Niro, que aparece bem pouquinho, só pra clonar um guri. O menino morre num acidente aos oito anos, e seus pais, o Greg Kinnear (de "Melhor é Impossível") e Rebecca Romijn-Stamos (de "Femme Fatale"), ficam obviamente devastados. E topam ter o mesmo filho de novo. Tudo vai bem até que o clone faz oito anos. Aí ele começa a agir de modo estranho. Por exemplo, meu diálogo predileto ocorre entre o clone e o pai, em que o clone diz: “Alguma coisa bem ruim tá pra acontecer” (sem se referir especificamente ao andamento do filme) e o pai responde: “Meu filho, não vou deixar que nada de ruim aconteça contigo”, e o menino: “Não falei que ia ser comigo, burraldo”. Fiz pequenas modificações nas falas, mas você entendeu o recado. Outras linhas eloqüentes pra revelar as perturbações psicológicas do garoto acontecem quando ele questiona, "Papi, eu morri?" O Greg responde com sua cara apalermada de sempre, mas ele podia ser mais incisivo, dizendo: "Claro que não, filhinho. Só porque você deu pra ter visões sanguinolentas? É só impressão sua".
O filme não resolve se quer botar a culpa na ciência ou no demônio, e opta por uma explicação não muito convincente do tipo "A culpa é do Zacarias" (só vendo pra saber do que tô falando). As referências a suspenses melhores abundam, principalmente à "A Profecia", já que a mãe corre sérios riscos, o que fez com que eu e o maridão travássemos o seguinte diálogo. Eu: "Por que essa obsessão do filho querer matar a mãe? Geralmente eles gostam de matar o pai. O tal Complexo de Édipo". Ele: "Mas eles têm que treinar com alguém". No fundo, o elemento mais sobrenatural de toda a trama é que ainda role sexo num casamento de vinte anos. Aliás, captei duas reações mais ou menos interessantes do público: uma foi dos homens, toda vez que a Rebecca aparecia de calcinha, e a outra foi quando o menininho cospe numa professora. O quê, num filme supostamente de terror as reações deveriam ser de medo?! Não aqui.
Há em "O Enviado" duas cenas do além. Uma é de uma babá que o Greg nunca viu na vida que abre a porta pra ele e conta como ela tentou matar um garoto ruim. Pensei que no fim ela fosse dizer, "Mas então, se quiser posso cuidar do seu filho. Tenho referências". Outra é quando um sujeito está com a cabeça aberta numa igreja pegando fogo e no instante seguinte o mesmo carinha surge noutro lugar pra salvar alguém. Outro clone, suponho. Tem também uma cabaninha, local recorrente no filme, que é minúscula. Não cabe mais de uma pessoa lá. Mas lá pelas tantas um dos personagens faz um tour homérico lá dentro, sem esbarrar em ninguém, quando de repente a gente descobre que praticamente toda a população da cidadezinha tá escondida lá. O mundo pode ser pequeno, mas as cabaninhas são gigantes. E, se a gente detesta o final, que é de fato tenebroso, não precisa se preocupar. Parece que ele é apenas um dos sete que o diretor filmou. E se este foi o escolhido, tenho calafrios só de imaginar os demais.
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