CRÍTICA: LISBELA E O PRISIONEIRO / Cinema falado
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CRÍTICA: LISBELA E O PRISIONEIRO / Cinema falado


Desta vez nem os mais preconceituosos vão arranjar desculpa pra não ver nosso mais recente produto nacional, “Lisbela e o Prisioneiro”. Pra começar, as outras opções cinematográficas são, como direi, abaixo da crítica. “Bomb Raider 2” não traz nada que você já não viu no trailer. “8 Mulheres”, que eu tive o azar de assistir em janeiro no Uruguai e que só agora invadiu o circuitão catarinense, é o típico exemplar do gênero “Só Porque Não é Americano Não Quer Dizer que Seja Bom”. Sobre o último veículo do Vin Diesel, bom, imagino que nada neste mundo compense tamanho sofrimento. Jura que tem quem prestigie ator de uma só expressão com nome de combustível? Mas “Lisbela” valeria a pena nem que estivesse competindo com outros concorrentes mais dignos de nota.

Não que a gente deva ficar com peninha desta comédia romântica e ir vê-la só por ser brasileira, como se assim a gente cumprisse com nosso dever cívico. “Lisbela” custou R$ 4,5 mi, o que deve ser gorjeta de personal trainer de produtor de Hollywood, mas que é uma grana considerável pros padrões daqui. Foi dirigido por Guel Arraes, que é, já faz tempo, o nome mais aclamado da TV. Está sendo lançado no país em grande escala, com distribuição da Globo Filmes e da Fox, em 220 salas. Ou seja, é quase uma tentativa de arrasa-quarteirão. E a história é fofinha. Nada original, mas fofinha. É sobre a Débora Falabella, uma donzela que adora cinema e que acaba se apaixonando pelo Selton Mello, um aventureiro meio cafajeste que vai de cidadezinha em cidadezinha arrebatando corações. Numa delas, ele conhece biblicamente a Virginia Cavendish, despertando a ira de seu marido, um matador de aluguel interpretado pelo Marco Nanini. Mais ou menos isso. Parece que a trama de Osman Lins foi um especial televisivo no início da década passada (a Giulia Gam fez Lisbela), que depois virou peça com a Virgínia, mulher do Guel, no papel-título.

O que “Lisbela” tem de mais gracioso, além da trilha sonora – a voz do Caetano é sempre lírica –, é a homenagem que faz ao cinema. Quem é cinéfilo sente-se compelido a aprovar o filme. Mas, apesar do quê de “A Rosa Púrpura do Cairo”, a comédia corre o risco de deseducar o público. Então eu queria esclarecer: querido espectador, só porque a Lisbela conversa animadamente no cinema, isso não quer dizer que você deve fazer o mesmo. No filme, ela comenta as sessões que assiste, mas entenda, isso é um recurso narrativo. Ia ficar estranho se ela analisasse as cenas só na saída. Pelamordedeus, o comportamento dela não justifica o de mais ninguém. Sugiro até que Lisbela vire sinônimo da galera tagarela. A partir de hoje, recomendo que a gente olhe pro grandalhão que atende o celular no meio de um filme ou que não pára de narrar os fatos pra namorada e grite, em coro: “Cala a boca, Lisbela!”.

Aliás, essa verborragia é minha maior queixa ao filme. “Lisbela” beira o exercício repentista, quase um cinema de cordel. Os atores, todos ótimos, sem exceção, gastam saliva falando demais. O único personagem mais caladão, o do Nanini, é o que se sai melhor. Tem uma hora que a Vírginia diz num sotaque pernambucano: “Tu só qué sabê di conversá”. Seria bom se o Guel tivesse entendido o recado e cortado um pouquinho os diálogos, deixando que a gente aproveitasse mais as imagens. Não é à toa que a fala mais divertida é também a mais curtinha, quando Selton Mello dispara um “de novo”.

Pode ser que esse excesso de palavras (ou o de edição) seja o que torne “Lisbela” um tanto cansativo lá pelo meio. Mas o terço final é redentor, e qualquer filme livre, leve e solto que termine com uma música cantarolando “Amor é filme e Deus é espectador” já tem todo o meu apoio. Agora, convém registrar a crítica de Cláudio Assis, diretor de “Amarelo Manga”. Ele reclama que o governador de Pernambuco foi ver a estréia de “Lisbela” em SP, mas faltou à exibição de “Amarelo” em pleno Recife. O que determina essa distinção, só o poder da Globo Filmes? Tomara que “Amarelo Manga” também passe aqui.





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