Pena que "O Chamado" não seja original. É um remake de um terror japonês de 98, que antes disso foi refilmado na Coréia, virou minissérie de TV e outras bossas, ou seja, fez alto sucesso. Certamente renderá continuações nos EUA. O tema promete. Começa bem fraquinho, à la "Pânico", com duas adolescentes conversando sobre o vídeo que uma delas viu uma semana atrás, e sobre o telefonema que recebeu em seguida. O problema é que odeio filme que só coloca o título no final. Quem me garante que não entrei na sessão errada? Mas tudo bem, logo a mocinha morre e "O Chamado" toma um rumo melhor. Entra em cena a heroína Naomi Watts (de "Cidade dos Sonhos", sabe, aquele do Lynch que não passou em Joinville?), uma jornalista investigativa. Pessoalmente, eu a achei meio jovem e sem sal pro papel, mas qualquer personagem que fala pro seu editor "Se você tocar numa vírgula do meu texto, eu furo o seu olho com seu lápis favorito" e o manda passear merece todo o meu respeito. Logicamente, Naomi assistirá ao vídeo sinistro, atenderá o tal telefonema, e logo logo terá motivos de sobra pra acreditar que só tem uma semana de vida.
O que me leva a uma questão filosófica. Se eu soubesse que só me restam sete dias pra bater as botinhas, sairia por aí fuçando arquivos mortos e visitando faróis no fim do mundo? Claro que não. Eu pegaria o cartão de crédito do maridão e compraria toneladas de chocolate, que seriam devidamente consumidas sem culpa. Nos intervalos da comilança, arranjaria um lugar na minha ocupada agenda pra muito sexo, que não precisaria ser necessariamente com o maridão. Adultério é pecado, eu sei, mas ninguém mais crê que eu vou pro Céu mesmo. Seria uma semana final proveitosa. Talvez eu até morresse antes, por causas chocolamentais naturais, mas ao menos morreria feliz.
Não se pode dizer o mesmo da Naomi, tadinha, que não come nada nem ninguém nos seus últimos dias. Ela ainda é mãe de um guri que a chama pelo nome, então dá pra notar que ele tem problemas. O garoto não é lá muito bom ator, mas eu fiquei com medo dele. E com medo de várias outras coisas também. Tudo que assusta tá no filme – escadas que vão a lugar algum, chiado de TV, poço desses de pedra onde não dá pra ver o fundo, árvores com poucas folhas, meninas cabeludas... Sem falar dos narizes sangrando e das fotografias borradas. Aliás, é algum tipo de profecia minhas fotografias já saírem borradas antes de eu ver o vídeo? Bom, quando um filme me faz gemer e gritar: "Não! Ai, não! Não vai lá!", é sinal que estou gostando. E senti essa reação do público também, que estava inquieto pra chuchu.
Infelizmente, há um "Momento do Arroto" no filme, bem nojento e que não deveria estar lá (fez a platéia tossir), e outro um tanto trash. E o final fez pelo menos um espectador soltar um "Não entendi". Recomendo que a gente não fique buscando explicações, já que o roteiro deve ser um queijo suíço. O que importa nesse tipo de filme é o clima. E clima "O Chamado" tem de sobra, tanto quanto "Os Outros". Por outro lado, se esta for a última sessão de cinema à qual irei na vida, preferiria que tivesse visto um clássico – algo que esse filme não é, apesar de prender a atenção do começo ao fim. Mesmo assim, vale a pena atender ao "Chamado".