CRÍTICA: SEX AND THE CITY 2 / De NY ao deserto em 450 modelitos
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CRÍTICA: SEX AND THE CITY 2 / De NY ao deserto em 450 modelitos


Nossa vida é um eterno desfile de moda.

Oops, será a segunda vez consecutiva que nadarei contra a corrente, e juro que não é de propósito. Não quero ser rebelde sem causa sem nada, mas pelo jeito sou a única pessoa na Terra a ter gostado muito mais de Sex and the City 2 que do primeiro. Ok, deixe-me reformular: não gostei do primeiro (não que eu me lembre muito dele). E gostei do segundo. Ahn, não que eu me lembre muito dele tampouco, e olha que o vi faz três dias. Mas ele me agradou bem mais, por motivos difusos que tentarei expor nesta crônica.
Talvez o principal motivo seja que as expectativas estavam mais baixas. Muuuuuito mais baixas, rastejando. Quer dizer, eu, que nunca fui grande fã da série, não alimentava grandes expectativas em relação ao primeiro. Mas o resto do pessoal, sim. Era o primeiro filme, afinal, vários anos após o final da série. O que teria acontecido com as personagens? Elas casaram, tiveram filhos, progrediram no emprego, foram à falência por não repetirem jamais a roupa? E ficou toda aquela lenga lenga inútil de Carrie casar-se ou não com Big (não consigo escrever esse nome sem pensar em coisas fálicas). Desta vez, até as begônias magníficas que enfeitam meu novo jardim sabem que Sex 2 foi feito apenas pra render uma grana preta. O papo de “é uma homenagem à série e às fãs” não cola mais. (Ahn, antes que alguém me desminta, não sei se são begônias. Não faço a menor ideia. Mas são magníficas, e meu jardim é novinho em folha, so there).
Outro motivo é que eu me identifiquei muito mais com as personagens. Calma! Eu ainda tive vontade de arquitetar um atentado terrorista quando a Carrie, ao explicar que ela e o marido não ficaram com a cobertura em Manhattan mas mesmo assim têm um apê gigante com walk-in closet, usou palavras como “abrimos mão do paraíso mas guardamos um pedacinho do céu”. Vai te catá, muié! Os EUA seguem em crise! E o casalzinho yuppie não tem um apê em Manhattan, mas dois! No que deve ser o metro quadrado mais caro do mundo! E ela continua com aquela fixação patológica por sapatos! Opa, tô perdendo o fio da meada... Vou voltar ao "calma". Recuperando: apesar dessa ostentação toda que me faz passar mal, eu me identifiquei com a história de “será que vamos virar um casal chato que tem TV no quarto e come em casa?”. Ela e Big entram na rotina monótona de um casamento monogâmico após apenas dois anos. Tente vinte anos, darling. E eles também optam por não ter filhos, como eu e o maridão. Claro que eu e o maridão somos caseiros, e há poucas coisas melhores na vida que ver Aconteceu Naquela Noite abraçadinhos. E meu deus, meu sonho de consumo é poder pedir comida em casa toda noite, de restaurantes diferentes, sem me preocupar com o custo, e podendo dar gorjeta. Nisso eu fecho com o Big: quem quer sair pra farrear toda noite? Uma vez por ano já tá bom pra mim.
No entanto, é óbvio que minha vidinha não renderia uma versão pro cinema. Então as quatro amigas viajam pro Oriente Médio. E o tratamento que o filme dá a esse destino exótico é menos pior que deram ao México no último filme, ou talvez eu que tenha mais afinidades com nossos hermanos mexicanos. Num lugar fictício que não pode mais ser Dubai, porque Dubai faliu, as patricinhas de meia idade ficam deslumbradas com o luxo, e o maridão me perguntou, depois da sessão, como alguém que já é rico fica babando pra riqueza. Expliquei que, embora qualquer personagem de Sex seja riquíssima comparado com a gente, em NY elas são “apenas” classe média alta. Por exemplo, com elas não têm carro, surpreendem-se por receber uma limousine com chofer particular. E elas não são tão ricas a ponto de poder pagar 22 mil dólares por uma diária de hotel.
A mensagem que Sex passa do Oriente Médio é que o pessoal por lá é extremamente recatado sexualmente, mas que ao menos as mulheres gastam os petrodólares dos maridos para adquirir a última coleção primavera-verão das passarelas nova-iorquinas. Ninguém vai ver o que você usa por baixo da burka, mas o importante é que você gaste milhares de dólares naquela blusinha que te fará sentir bem. Só um minuto pra eu dar uma corridinha ao banheiro.
Apesar desse recado de merchandising e falta de respeito com outras culturas (eu temia o pior: que Sex reproduzisse Tailândia em Diário de Bridget Jones 2; felizmente não acontece), o filme tem um viés feminista que estava ausente do primeiro. Miranda e Charlotte batem um papo quase sincero sobre como ser mães não as completa. Outros temas dignos estão presentes: a mudança do corpo na menopausa, o costume patriarcal de adotar o sobrenome do marido, a falta de voz num mundo masculino, a importância da amizade entre mulheres. As quatro, e outras senhoras presentes, cantam “I am woman”, que fala da força feminina. E, graças a Samantha e ao público gay de Sex, que é enorme, temos um pouco de objetificação masculina. Pra cada close dos seios sem sutiã da babá, vemos um close de uma sunga bem preenchida. E Sam tem um ou outro momento divertido, como quando ela grita, no karaoke, que é uma mulher e que sua mesa está logo ali.
É pouco
? É. Mas bem mais que no primeiro. Isso não impediu que os críticos americanos odiassem o filme. O Metacritic dá média 28 (em 100!), e o Rotten Tomatoes, 17. E a média do público não é muito mais alta: 4. Mas o importante, claro, é que a do contra aqui gostou.
Só que não caio nessa de Carrie ser uma mulher diferente. Todo mundo no filme fica dizendo como ela é incomum. Quero provas. Só porque ela não tem um anel de diamante mais tradicional, e sim um diamante negro? Isso ainda entra na categoria de “diamonds are a girl's best friend”, amiga.




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