E não deveria ser tão complicado. Aliás, em retrospecto, nem é tanto, mas que parece, parece. Não há grandes novidades: a gente já sabia que as empresas são corruptas, só ligam pra dinheiro, e têm o aval do governo. E que os americanos são os maiores gastadores do mundo, precisam de muito petróleo pra sobreviver, e não aceitam de bom grado que os árabes passem a vender o líquido precioso pros chineses, por exemplo. Pra manter seu poder no Oriente Médio, os EUA interferem nos governos, pregam a discórdia, promovem guerras e, se necessário, mandam agentes da CIA matar um ou outro sheik mais saidinho. Nada muito distinto do que fazem no resto do planeta, mas a palavra-chave lá, e na Venezuela, claro, é petróleo. Agora, vários filmes, como “Short Cuts – Cenas da Vida”, usam e abusam do estilo fragmentado, pós-moderno, pra construir um mosaico. O problema é que “Syri” corta o diálogo bem quando uma idéia ameaça se desenvolver. No começo eu até dei um desconto. Pensei, ok, esse troço tá atrapalhado, e essa certamente não é a melhor forma de apresentar personagens, mas já já o filme engrena. E no final a maior parte das situações se encaixa, sim. Mas até chegar lá, que sufoco! Vi muita gente bocejando alto, alguns deixando a sessão, outros pipocando nas poltronas. Se bem que os críticos americanos amaram “Syri”. Pode ser porque o estúdio enviou um guia pra eles explicando os personagens.
“Syri” conta com um elenco de peso: Matt Damon, Christopher Plummer, William Hurt numa aparição relâmpago, Chris Cooper no mesmo papel de sempre, Amanda Peet como a única mulher do filme. E tem o George Clooney, indicado a ator coadjuvante por esta obra (nesse tipo de espetáculo, todo mundo é coadjuvante). Isso mostra o prestígio que o cara tem, porque o papel dele é um zero. Eu também adoro o George. Lindo daquele jeito e ainda consegue dirigir um filme em branco e preto! E ele engordou 17 quilos pro papel. Mas não sei, eu também engordo um monte e ninguém me indica pro Oscar. Tudo bem, tem uma cena de tortura horrenda em que o George é vítima, mas se alguém entender como o sujeito muda tão rapidamente da água pro vinho, me explique.
Desculpe o clichê, só que é preciso mais que boas intenções e uma mensagem politicamente correta pra se fazer um bom filme. E, cá pra nós, não tenho certeza sobre a mensagem. “Syri” não é de esquerda nem de direita, é apenas cínico e arrogante. A que fica é que um agente da CIA pode ter um surto de consciência e se arrepender, enquanto um terrorista homem-bomba vai ser um cabeça-dura até o fim. Ué, os dois não sofrem o mesmo tipo de lavagem cerebral? Eu só sonho em ter um carro movido à energia solar.