CRÍTICA: SYRIANA / Proibido se divertir
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CRÍTICA: SYRIANA / Proibido se divertir


Eu adoro filme político que faz o meu anti-americanismo escorrer pelo queixo, mas sorry, periferia, não gostei de “Syriana”, que aqui recebeu um subtítulo, “a indústria do petróleo”, na vaga tentativa de elucidar alguma coisa. Com esse nome soa como um documentário, mas acredite, não é. Sabe por quê? Porque até os documentários podem entreter, mesmo tratando de temas áridos (pense no Michael Moore). Em “Syri” o diretor Stephen Gaghan, que foi roteirista de “Traffic”, parece dizer: “Olha só, gente, eu tô apresentando um tema sério, então o tratamento vai ser pesadão. Vocês estão terminantemente proibidos de ser divertir!”. Ele tenta contar umas quatro histórias ao mesmo tempo, nenhuma delas altamente interessante. A gente vê um pedacinho aqui, outro ali, aí volta no tempo, aí avança. E o espectador lá, perdidaço. Tudo é complicado de propósito. Até a morte de um menininho numa piscina é motivo pra confusão. Ele morre afogado? Tem algo na água? O maridão disse que sentiu um trouxa. Pra mim, que tenho Q.I. muito superior, a sensação foi de que peguei todos os papos pela metade.

E não deveria ser tão complicado. Aliás, em retrospecto, nem é tanto, mas que parece, parece. Não há grandes novidades: a gente já sabia que as empresas são corruptas, só ligam pra dinheiro, e têm o aval do governo. E que os americanos são os maiores gastadores do mundo, precisam de muito petróleo pra sobreviver, e não aceitam de bom grado que os árabes passem a vender o líquido precioso pros chineses, por exemplo. Pra manter seu poder no Oriente Médio, os EUA interferem nos governos, pregam a discórdia, promovem guerras e, se necessário, mandam agentes da CIA matar um ou outro sheik mais saidinho. Nada muito distinto do que fazem no resto do planeta, mas a palavra-chave lá, e na Venezuela, claro, é petróleo. Agora, vários filmes, como “Short Cuts – Cenas da Vida”, usam e abusam do estilo fragmentado, pós-moderno, pra construir um mosaico. O problema é que “Syri” corta o diálogo bem quando uma idéia ameaça se desenvolver. No começo eu até dei um desconto. Pensei, ok, esse troço tá atrapalhado, e essa certamente não é a melhor forma de apresentar personagens, mas já já o filme engrena. E no final a maior parte das situações se encaixa, sim. Mas até chegar lá, que sufoco! Vi muita gente bocejando alto, alguns deixando a sessão, outros pipocando nas poltronas. Se bem que os críticos americanos amaram “Syri”. Pode ser porque o estúdio enviou um guia pra eles explicando os personagens.

“Syri” conta com um elenco de peso: Matt Damon, Christopher Plummer, William Hurt numa aparição relâmpago, Chris Cooper no mesmo papel de sempre, Amanda Peet como a única mulher do filme. E tem o George Clooney, indicado a ator coadjuvante por esta obra (nesse tipo de espetáculo, todo mundo é coadjuvante). Isso mostra o prestígio que o cara tem, porque o papel dele é um zero. Eu também adoro o George. Lindo daquele jeito e ainda consegue dirigir um filme em branco e preto! E ele engordou 17 quilos pro papel. Mas não sei, eu também engordo um monte e ninguém me indica pro Oscar. Tudo bem, tem uma cena de tortura horrenda em que o George é vítima, mas se alguém entender como o sujeito muda tão rapidamente da água pro vinho, me explique.

Desculpe o clichê, só que é preciso mais que boas intenções e uma mensagem politicamente correta pra se fazer um bom filme. E, cá pra nós, não tenho certeza sobre a mensagem. “Syri” não é de esquerda nem de direita, é apenas cínico e arrogante. A que fica é que um agente da CIA pode ter um surto de consciência e se arrepender, enquanto um terrorista homem-bomba vai ser um cabeça-dura até o fim. Ué, os dois não sofrem o mesmo tipo de lavagem cerebral? Eu só sonho em ter um carro movido à energia solar.





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