Pra você ter uma idéia, “Voando” foi filmado em 2001, mas a Miramax, seu estúdio-mãe, decidiu retardar o lançamento até 2003. Dizem que este castigo de dois anos de prateleira aconteceu por causa do 11 de Setembro, já que pegou mal fazer piadinhas sobre aviões. Mas eu não acredito. Acho que os produtores viram o resultado final e falaram: “Ish! E agora? A gente queima os rolos ou manda pro Terceiro Mundo pra recuperar o investimento?”. E o fim da história você conhece: o filme estreou em Joinville, eu fui vê-lo, e deu três minutos de projeção pro maridão começar a gritar “Piratas! Piratas!” em sinal de protesto. Aliás, o maridão também disse: “O que vou falar pros meus alunos? Eles vão querer saber se eu vi ‘Piratas’. Ah, já sei! Vou dizer que torci o pé. Irei mancando pra escola”.
Quem pode culpá-lo? “Voando” trata do emocionante desafio da Gwyneth virar comissária de bordo. Com todo respeito às aeromoças, qual a diferença entre uma comissária de bordo e uma garçonete de luxo? Quero dizer, todas as profissões são nobres, até crítica de cinema, mas será que é preciso treinamento intensivo com o Mike Myers vesgo pra se tornar uma aeromoça? O objetivo supremo da vida da Gwyneth não é a paz no mundo, nem a morte lenta do Bush, mas servir à primeira classe do vôo pra Paris. E ainda assim ela sabe que, no fundo, mais vale um marido na mão que dois aviões voando. Esse trocadilho foi triste, não? Deve ser má influência dos diálogos do filme, que contém tragédias como “Todo piloto precisa de um co-piloto”. Por falar em transações internacionais, a gente sabe que tá vendo uma porcaria americana quando a protagonista pendura um pôster da Torre Eiffel em seu quarto e no pôster, em letras garrafais, tá escrito “Paris, França”. Pra eles localizarem a Torre Eiffel, entende? Noutro momento inspirado, a cara-metade da Gwyneth lhe dá um relógio de presente, pra que ela possa dizer a hora pros passageiros, e a loira lhe dá um soquinho no braço. Nessa hora, senti uma veia estourar no meu cérebro.
Nos outros momentos, fiquei pensando em como melhorar “Voando”. Talvez se a Gwyneth se defrontasse com um passageiro psicopata que explode o avião? Mas não, o filme só se salvaria mesmo se o avião caísse nos Andes e a tripulação recorresse ao canibalismo pra sobreviver e então todos notassem que essas atrizes de hoje não têm carne aproveitável, só osso. Como isso não ocorre, os críticos americanos, que também odiaram “Voando”, culpam o brasileiro Bruno Barreto, diretor de “O Que é Isso, Companheiro?” e “Bossa Nova”, e perguntam: por que a Gwyneth topou fazer um filme desses? Ué, a Gwy faz filme ruim às pampas, vide “O Amor é Cego” e “Mais que o Acaso”. A outra questão errada é: por que fazem um filme desses? Pelamordedeus, Hollywood faz “O Professor Aloprado 2”! A pergunta que não quer calar é: como que um filme desses chega aqui? Passem “Amarelo Manga”!
Mas pra não dizer que nada em “Voando” vale a pena, quero deixar registrado que o Rob Lowe aparece durante alguns minutos. Quem? O Rob foi ídolo juvenil na década de 80, envolveu-se num escândalo sexual e se mandou pro purgatório da TV. Mas ele continua lindo. E aí houve a conversa típica de cinéfila com banana. Eu pro maridão: “Cê sabe de quem o Rob é irmão? Do Chad Lowe!”. Ele: “Ah, não brinca! Que coincidência incrível!”. Eu: “Cê não sabe quem é o Chad? O marido da Hillary Swank!”. Ele: “Ora veja! Que mundo pequeno! Quero que um raio caia na minha cabeça!”. E saiu mancando da sessão.