CRÍTICAS ÀS MINHAS CRÍTICAS, E TUDO SOBRE MINHA ORIGEM “JORNALÍSTICA”
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CRÍTICAS ÀS MINHAS CRÍTICAS, E TUDO SOBRE MINHA ORIGEM “JORNALÍSTICA”


Como essa moça é parecida com a Queen Latifah! Minha crítica ao Colecionador de Ossos é tão antiga que ainda me referia a uma tal de Angelina como filha do Jon Voight.

Houve uma época em que montes de crônicas de cinema minhas eram contestadas no jornal. Bastava eu falar mal de um filme importante pra que alguém igualmente “importante”, dentro de Santa Catarina pelo menos, escrevesse uma réplica. Vocês viram semana passada, quando apontei minha crônica de Além da Linha Vermelha, e um pseudo-intelectual revidou com um texto chato que dói. É uma pena que eu não guarde todas as réplicas a críticas minhas (bom, se meu computador deu pane em 2000 e eu perdi todos os meus textos, o que dizer dos textos dos outros?). A mais mal-educada foi a do então presidente ou secretário ou alguma coisa do Sindicato de Jornalistas de SC, que odiou o que escrevi sobre Shrek (detestei o filme; você pode ler a minha crítica aqui). Ele se injuriou porque eu mencionei A Psicanálise dos Contos de Fada, e ainda disse que ninguém nunca ouviu falar desse livro. Gente, é um clássico da psicanálise! E uma leitura deliciosa pra descobrir quais padrões da sociedade estão por trás de cada conto de fadas famoso. O jornalista reclamou que eu não elogiei a técnica avançada do desenho. Como que eu não reparei nos músculos do ogro verde? (ah, eu não costumo tratar da qualidade técnica de um filme, porque isso é chover no molhado. Espera-se que uma produção de 60 milhões de dólares seja impecável!). Ele resmungou que eu devia ser uma velhinha de 80 anos pra não gostar de filme pra criança, e que na realidade eu provavelmente nem via os filmes – eu escrevia sobre eles sem vê-los e ficava no shopping, fazendo compras. O sujeito acertou em cheio, hein?! Lolinha hiper consumista! Quer dizer, senhora Lolinha pra você. Logo eu, que não compro nada em shopping! O jornalista concluiu com uma frase que lembro até hoje (faz tempo que li a réplica dele): “Corra, Lola, corra. Pra longe das páginas do Anexo”. O Anexo era (e é) o caderno cultural da Notícia, e havia nessa provocação uma certa reserva de mercado, por eu não ser jornalista. Acho que foi no tempo em que tava na moda discutir a obrigatoriedade do diploma pra jornalista (sou contra diploma até pra médico, viu?). Eu respondi à réplica agressiva do carinha com um artigo que gosto até hoje, “O Papel(ão) da Crítica” (leia aqui). Não rebato muito o que ele diz, fora minha sacanagem de citar o Kevin Spacey em Beleza Americana perguntando lascivamente pra Mena Suvari: “You like... muscles?” (você gosta de músculos?). Não resisti.

Essa última frase do jornalista nem é muito original. Um ex-editor do Anexo (já estou no quinto editor, agora editora, e acho que sempre me dei bem com todos) me contou que havia um carinha na redação que não gostava muito de mim. Isso porque era ele que escrevia sobre cinema antes de eu aparecer misteriosamente. Parênteses: como não é todo mundo que sabe como comecei a escrever pro jornal, vou contar. Em 1998, mandei por email minha crítica pichando Amistad; eles gostaram e publicaram, junto com uma resenha positiva de algum crítico do Estadão. Achei curioso que ninguém respondeu meu email, só publicaram o troço. Okay. Continuei mandando mais textos. Alguns eles publicavam, a maioria não. Alguns eles trituravam pra que coubesse num espacinho (por exemplo, veja o que se salvou do meu texto sobre Ou Tudo ou Nada. Foi tão duramente editado que não sobrou nada de mim lá. Não tenho o texto original pra comparar, mas pode apostar que era dez vezes maior). Como eles publicavam cada vez menos, parei de mandar novos textos. Um belo dia, liga pra “minha” escola de inglês o então editor do Anexo, Silvio. Ele me convida pra aparecer na redação pra “conhecer a galera”. Eu vou. Chego lá e ele, bastante tímido, pergunta: “Por que você parou de enviar suas críticas?”, e eu respondo: “Porque vocês pararam de publicar, ué”. Ele explica que não é bem assim, que é pra eu continuar mandando, imagina, e vamos ver um esquema de pagamento pra você, não podemos pagar muito, mas cobre o cinema, e talvez dê pra comprar uns livros. Bom, apesar do meu lado socialista, gosto muito de dinheiro. E o Silvio ainda emenda: “Mas quem é você? Todo mundo quer te conhecer. É tão raro aparecer alguém que escreva tão bem e não seja jornalista”. Odeio falar isso, porque é pedante repetir elogios. Soa arrogante. E não acho que eu escreva muito bem. Acima da média, tudo bem, mas convenhamos, a média é bem baixa. E isso era antes dos blogs. Hoje eu leio muita gente que escreve bem e não é jornalista (e tá cheio de jornalista que não escreve nada bem). Mas tô fugindo totalmente do assunto.

Foi assim que tudo começou. Antes de voltar ao tema central, relato que é com pesar que às vezes recebo emails de leitores furiosos com algo que escrevi que sugerem que o jornal só me publica porque eu devo ter um caso com alguém importante lá. Uma vez chegou uma mensagem de uma leitora dizendo “Que bom que você passou no teste do sofá com o diretor do jornal”, ou algo assim. Fiquei indignada, porque é o tipo de coisa que ninguém diria se eu fosse homem. E é triste que isso venha de uma mulher, que não nota como esse tipo de comentário é péssimo pra todas as mulheres, inclusive ela. Sem falar que não conheço quase ninguém no jornal, e se apareço lá duas vezes por ano, é muito.

Mas enfim. O Silvio, meu segundo editor, foi com quem eu tive maior contato. Ou seja, acho que o vi pessoalmente cinco vezes. Numa dessas vezes, eu e o maridão fomos jantar na casa dele e sua mulher, que é arquiteta. E lembro que o maridão deu o maior vexame porque não se conteve e passou a xingar o FHC na frente do sogro do Silvio. Nunca vi o maridão se exaltar com política. Geralmente quem cumpre esse papel sou eu. Mas o que isso tem a ver com qualquer coisa?

Então, fechando o longo parênteses, o Silvio me contou que um dos carinhas da redação não gostava de mim, e que toda vez que chegava um texto meu, ele declamava: “Morra Lola morra!”. Ah, eu achei fofinho, e nunca consegui levar a raiva dele a sério. Quando nos encontramos na redação ou num cinema (ele vai tanto ao cinema quanto eu), sempre nos cumprimentamos cordialmente.

Opa, mas eu tava falando de réplicas aos meus artigos. Uma delas foi a da Mica, leitora minha até hoje. Ela discordou do que escrevi sobre O Colecionador de Ossos, e enviou uma resposta ao jornal, que publicou o texto (obrigada por encontrar a sua crítica, Miquinha). Ela só diz que eu extrapolei e que fui machista, infeliz, e injusta com as magras (será que chamei a Angelina de Colecionadora de Ossos?). E essa foi a réplica mais gentil que o jornal já publicou!

Lembro de uma ocasião que não rolou réplica, mas ouvi uma reclamação. Foi quando escrevi sobre À Espera de um Milagre. Eu dizia que infelizmente o grandalhão, Michael Clarke Duncan, não tinha uma grande carreira pela frente porque iria ser typecast (escalado pra fazer sempre o mesmo papel), e além disso, era (é!) negro, e Hollywood é racista (e ele tem três nomes, ó misericórdia!). O Silvio me liga e diz: “Por que todos os seus textos são tão polêmicos?! Inferno! Os negros aqui da redação acharam seu texto racista”. Eu tive que responder: “Que negros da redação?! Só tem um negro que trabalha aí!”. E prefiro não entrar em detalhes sobre algumas das colunas que este jornalista negro escreveu. Posso só dizer que nunca li nada tão racista publicado em toda a minha vida. Era sobre a rivalidade no vôlei feminino entre brasileiras e cubanas, e ele chamava as cubanas (todas negras e lindas) de macacas e crioulas, entre inúmeras outras ofensas. Isso foi antes de eu começar a colaborar com o jornal. Eu fiquei revoltada na época, ia escrever uma carta, mas a fotinho dele vinha junto dos textos, e ele era negro, e eu era mezzo branca, mezzo amarela. Fui covarde e deixei passar. Hoje não deixaria de jeito nenhum. Mas esse senhor achou que eu fui racista.

A última réplica, que eu saiba (e não é sempre que tomo conhecimento), foi sobre Madame Satã. Essa resposta eu só li anos depois, mas sabe como é, pega mal desprezar filme de arte. Todo o pessoal do circuito artístico aparentemente amou Satã e detestou a minha crônica. Ao topar comigo, um advogado conhecido meu veio de dedo em riste dizer: “Você foi desrespeituosa com o filme. Não o tratou com seriedade”. Eu disse: “E desde quando trato qualquer filme com seriedade?”.

É por essas e outras que, nas raríssimas vezes em que alguém me reconhece em Joinville e pergunta “Você é a Lola Aronovich?!”, eu dou dois passinhos pra trás antes de responder: “Depende...”.





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