De quem é a culpa pelo “pibinho”?
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De quem é a culpa pelo “pibinho”?


Por Altamiro Borges

Em 2010, último ano do segundo mandato do ex-presidente Lula, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 7,5%. Algumas mentes mais criativas batizaram este crescimento encorpado de “pibão”. Já em 2011, primeiro ano do governo Dilma, ele cresceu apenas 2,7% - conforme os dados divulgados ontem. Sem perder o humor, alguns já batizaram este baixo crescimento de “pibinho”.

Mas de quem é a culpa pelo “pibinho”? Alguns líderes tucanos e “calunistas” da mídia debitam a retração exclusivamente na conta da presidenta Dilma Rousseff. Mas eles não têm muita moral para falar sobre o assunto. Durante o reinado de FHC, o crescimento do PIB sempre foi fraco, o desemprego bateu recorde e o Brasil ficou de joelhos diante do FMI por duas vezes.

Efeitos da crise capitalista mundial

Deixando de lado as baboseiras dos neoliberais frustrados, volta a pergunta: por que o crescimento do PIB diminuiu de ritmo em 2011? Sem dúvida, a crise capitalista mundial contribuiu decisivamente para este resultado. O Brasil não é uma ilha num mundo cada vez mais interligado – ou “globalizado”. Os efeitos da atual crise se fazem sentir no Brasil, na China, no mundo inteiro.

A crise capitalista afeta as transações comerciais, prejudicando as nossas exportações, e o próprio fluxo do dinheiro, estimulando a enxurrada do “capital motel”, volátil. Além disso, as potências capitalistas jogam o ônus da sua crise para as nações periféricas. Não é para menos que a presidenta Dilma tem insistindo nas críticas à “guerra cambial”, uma jogada suja dos EUA e Europa.

Manutenção do tripé neoliberal

Os graves efeitos internacionais, porém, não redimem o governo Dilma das suas responsabilidades. Pelo contrário. Só confirmam os erros cometidos no início da sua gestão, quando o Banco Central elevou várias vezes a taxa de juros e a sua equipe promoveu drásticos corte nos investimentos públicos. Em plena crise mundial, o governo prescreveu veneno para a economia brasileira.

O “pibinho” de 2011 tem tudo a ver com a manutenção do tripé neoliberal na política macroeconômica – juros elevados, arrocho fiscal e libertinagem cambial. Esta ortodoxia foi imposta por FHC e seguida por Lula. Com a eclosão da crise mundial em 2008, que fez o PIB despencar em 2009 (menos 0,3%), o ex-presidente rompeu com alguns destes dogmas neoliberais e adotou uma política mais heterodoxa, de incentivo ao desenvolvimento do mercado interno. Isto é que explica o “pibão” de 2010.

Falta de ousadia do governo Dilma

Mais realista do que o rei, a equipe econômica de Dilma abandonou esta mudança de rota e agora sofre as conseqüências. Com o agravamento da crise na Europa e EUA, o governo até abrandou na política de juros, mas manteve a ortodoxia no câmbio – que fragiliza as exportações e incentiva as importações – e na política fiscal, com novos cortes nos investimentos públicos.

A justificativa usada para a manutenção do tripé neoliberal lembra muito o triste bordão de Margareth Thatcher de que “não há alternativas”. Os dados divulgados ontem sobre o PIB mostram exatamente o contrário. O que evitou uma retração ainda mais brusca da economia foi exatamente o mercado interno, o consumo dos brasileiros.

Com menos juros, mais investimentos e maiores restrições à libertinagem cambial, o Brasil poderia ter crescido mais. Não seria um “pibão”, mas também não precisava ser um “pibinho”. Que os dados do PIB sirvam para “abençoar” os integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central que se reúnem nesta semana para discutir a taxa básica de juros!

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