DETESTO DESPEDIDAS. ADEUS
Geral

DETESTO DESPEDIDAS. ADEUS


Semana passada recebi o telefonema carinhoso da minha editora no jornal. Este é o texto que foi publicado ontem no jornal.
Tenho boas e más notícias pra contar. Qual você quer ouvir primeiro? Ok, a má: esta é minha última coluna no A Notícia. E agora a boa: esta é minha última coluna no A Notícia. Claro, dependendo de quem lê, a mesma notícia é boa ou má. Pra quem me considera meio diferente, anti-convencional, feminista demais, de esquerda, ateia, e várias outras coisas que sempre fui e continuarei sendo, não deixa de ser uma boa notícia que eu pare de colaborar pro jornal. Mas pra quem gostava de me ler, e principalmente pra mim, é uma péssima notícia. Eu adorava escrever aqui. Comecei em março de 1998 e de lá pra cá, quase que ininterruptamente, enviava ao menos um texto por semana pro jornal. Passei por vários editores do Anexo, e gostei de todos, sem exceção. Sempre fui muito bem tratada. Nunca fui censurada, mesmo sabendo que minha linha de pensamento está distante da linha editorial da grande imprensa. E, pelo que me consta, não fui cortada por nada que escrevi ou deixei de escrever, mas por razões orçamentárias mesmo. Também pesou que eu não moro mais em Joinville. De fato, agora em janeiro vai fazer dois anos que me mudei pra Fortaleza. O jornal era meu último vínculo com a cidade das flores, e isso me deixa triste, porque nos quinze anos que vivi aí, eu amei Joinville. E ainda amo.
Acho que lembro de tudo relacionado a minha trajetória na Notícia. Lembro da primeira crítica que enviei pro jornal, por email. Era falando horrores de Amistad, filme do Spielberg. A crítica foi publicada, e outras também, às vezes, sem que eu recebesse um email ou telefonema de resposta. Lembro quando fui à redação pela primeira vez, e o pessoal queria saber quem era essa figura misteriosa que escrevia bem sem ser jornalista. Lembro de quando eu redigia duas crônicas semanais curtinhas, fofas, pro AN Verão, que tinha um público totalmente diferente do do Anexo. Lembro do Alex, um menino de 14 anos que fez um site meio fã-clube só pra colocar minhas crônicas na internet, e da minha preocupação em estar corrompendo a juventude. Lembro da Mica, uma leitora que publicou uma resposta bem educada a minha crítica de O Colecionador de Ossos (eu odiei, ela amou); ainda nos falamos pelo Twitter; ela se tornou advogada, mora em Floripa e continua nerd. Lembro de respostas não tão educadas, como a de um sujeito do sindicato dos jornalistas que me odiou por eu ter detestado Shrek, e apostou que eu era uma velhinha de 80 anos que vivia fazendo compras em shoppings (ainda hoje isso me faz rir: eu, pão dura miserável e anti-consumista, fazendo compras em algum lugar!). Lembro de quando quase fui linchada (de verdade!) na faculdade onde cursava Pedagogia por uma crônica em que falava mal do estágio. Lembro de ter feito uma piadinha estúpida e ter ofendido o Aldo, que então era revisor. Ele nunca me perdoou, e eu tampouco. Lembro de leitoras assanhadas que queriam compartilhar o maridão! Lembro de quando passei um ano em Detroit fazendo doutorado-sanduíche, e comecei o Cartas da Lola. E pouco depois comecei o meu blog, que hoje é um dos maiores blogs feministas do Brasil. Sem a minha disciplina de escrever toda semana pro jornal, eu duvido que teria um blog hoje.
Lembro de vários leitores que conheci pessoalmente. Tinha uma época (bons tempos!) em que alguns iam até a escola de inglês onde eu dava aula pra me dar chocolate durante a páscoa. Um deles, tadinho, foi objeto de grandes especulações entre meus queridos aluninhos adolescentes: “Seu marido sabe que você tem fãs?”, perguntavam eles. E, ao mesmo tempo: “Esse leitor sabe que você é argentina? E ele ainda assim gosta de você?”.
Semanas atrás recebi este email do Rhuan, um jovem que estuda Direito em Joinville:
Muito provavelmente você não deve se lembrar de mim, afinal já faz muitos anos, e nos vimos pessoalmente apenas uma vez. Foi na seguinte situação -- você ainda morava em Joinville, e um dia foi interpelada por mim na saída do banheiro do shopping, acredito que no alto dos meus 15/16 anos, querendo saber se você era a Lola Aronovich e, para minha grata satisfação, era realmente quem eu achava, soltei alguns elogios ao seu trabalho e foi isso, cada um seguiu seu rumo, e acho que logo em seguida trocamos um ou outro email. Sou seu fã desde a época que você escrevia as crônicas de cinema no caderno Anexo do A Notícia e pode parecer bobagem, mas aquele rápido encontro no shopping foi marcante para mim, pois já era um entusiasta das suas crônicas de cinema e as recomendava para os meus amigos. Você deve estar se perguntando qual o intuito desse email, e para ser sincero, nem eu sei. Acompanhei toda sua trajetória para o ambiente virtual, o Escreva Lola Escreva, vi o leque de temas sobre os quais você escrevia aumentar, e junto aumentava meu interesse.
Foi o que você disse num post que me motivou a lhe enviar esse email - 'Eu já disse algumas vezes: escrevo pra quem gosta de mim, pra quem gosta do que escrevo, pra quem me lê. São nessas pessoas que penso quando crio um post. São pra elas que faço o blog.'
Então eu pensei, uau, sou fã da Lolinha há tantos anos, sempre acompanhei seus posts, mas nunca me manifestei nos comentários ou por algum outro meio para lhe dar feedback/suporte, e concluí que isso era muito injusto. Então gostaria que soubesse que além dos seus declarados 'fãs'/seguidores, deve haver, assim como eu, muitos outros que lhe acompanham e torcem silenciosamente por seu sucesso e vibram junto com suas conquistas.
Não se desmotive com os trolls, ameaçadores e cia, lembre-se sempre dos que gostam do seu blog quando estiver de saco cheio.
Lola, gosto MUITO do seu trabalho, e não posso negar que lá no fundinho torci para que ficasse em Joinville, para eu poder esbarrar mais vezes contigo pelas ruas daqui, haha. Fiquei um pouco órfão quando você se mudou para Fortaleza, mas ao mesmo tempo feliz por sua conquista.

Rhuan ficou surpreso ao saber que eu me lembrava perfeitamente dele, e não só porque ele era bonitinho (todos os leitores e leitoras que tive o prazer de conhecer são lindos, não sei o que acontece). Eu lembro porque todos que me mandaram um email, que me deram um abraço, que me presentearam com chocolate, foram e vão continuar sendo importantes pra mim. Só tenho a agradecer aos leitores, ao jornal, aos meus colegas de redação que eu raramente via, por esses quase 14 anos em que vocês me motivaram a escrever. Obrigada, de coração.




- Uuuuuuuuu... - Luis Fernando Verissimo
O Estado de S.Paulo - 01/12 Vovó, você se lembra da sua primeira vez? - Primeira vez o que, minha filha? - Que fez sexo. - Uuuuuuuu... - Faz tanto tempo assim? - Espera que eu ainda não terminei. Uuuuuuuuuu... - Foi com quem? - Um cadete. Ele ia ser...

- Guest Post: Um Homem Um Pouquinho Melhor
O T. me enviou este relato que me deixa muito feliz: Faz tempo que ensaio isso, mas sei lá, na correria do dia a dia, e na minha timidez crônica, acabei sempre deixando isso pra depois... Bem, te escrevo pra dizer um obrigado.Acompanho seu blog há...

- MatÉria De Jornal E Um Email Turururu
O caderno Anexo, do jornal A Notícia, do qual sou colaboradora desde 1998, publicou na quinta uma pequena matéria de capa sobre blogs joinvilenses, e me incluiu nessa festa. Foi assim: na manhã de quarta, uma simpática repórter ligou pra casa pra...

- Sobre CrÔnicas JurÁssicas E MudanÇa De OpiniÃo
Nem me lembrava que Impacto Profundo era com o Frodo-é-froda Encontrei e já coloquei no blog umas críticas bem antigas, dos meus primórdios mesmo. Uma é de 1998, ano que comecei a escrever pra Notícia (maior jornal de Joinville e segundo maior de...

- CrÔnicas JurÁssicas E Afundantes
Mesmo os mais luxuosos transatlânticos afundam, não afundam? Acho que tenho uns cinco leitores fiéis e jurássicos, que me lêem faz tempo, mas muita gente deve ser relativamente nova por aqui. O maridão sugeriu, e eu acatei, a idéia de uma recomendação...



Geral








.