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EDUCAR É NÃO RECORRER À VIOLÊNCIA
Faz uns seis meses, por aí, publiquei um guest post de uma moça que apanhou dos pais (de classe média alta) durante toda sua infância e juventude. Algum tempo antes, na ocasião em que Lula defendeu o fim da palmada educativa como forma de educar os filhos, escrevi dois posts sobre o assunto. Não escondo minha posição: eu nunca apanhei dos meus pais e, se tivesse filhos, procuraria educá-los da mesma forma. Bater numa criança, que é menor que a gente, que depende da nossa proteção e definitivamente não precisa da nossa violência, pra mim é pura covardia. Tenho bichinhos de estimação que eu amo de paixão, como se fossem filhos, desde 1985. E nunca, jamais, encostei a mão neles se não fosse pra dar amor e carinho. Muitas vezes eles agiram errado. Meu último cachorrinho, meu amado Hamlet, de vez em quando fazia xixi na nossa cama, e ele sabia que tinha feito algo errado, porque automaticamente se escondia (não porque batíamos nele, mas porque lhe dávamos bronca). E olha que dialogar com animais é bem mais difícil que dialogar com uma criança, que pelo menos fala a nossa língua. Aproveitando a comparação com animais (que é melhor que comparar filho com ladrões e estupradores, como foi feito nos comentários do guest post), o argumento do Leo, de que a gente nunca sabe como vai reagir à pirraça de um filho, é um ótimo argumento pra NÃO bater numa criança. Leo afirmou com outras palavras que adultos batem não pra educar, mas por causa de descontrole emocional. Ora, faça curso de controle de raiva antes de ter filho, pô. Porque essa explicação do “Nunca se sabe como vamos reagir” serve pra justificar quem espanca (e até mata) a mulher. Perdeu o controle, entende? Crime passional.Como disse a Ághata, “O que você ensina através da violência é a) noção de hierarquia, b) respeitar a lei do mais forte (manda quem pode, obedece quem tem juízo) e c) a violência não apenas é aceitável como faz parte das relações humanas (pode até ser um gesto de amor, oras!). Os argumentos a favor do uso da força são um tanto quanto emocionais, olha só: 'Se você tivesse filhos, entenderia...'/ 'Eu trabalho o dia inteiro...'/ 'Sempre apanhei dos pais e sou absolutamente normal' (Se você diz, eu acredito, ó.)/ 'Eu bato pro policial não bater depois!!'(Adoooro essa!)/ 'Se o meu filho fosse que nem o seu, um anjinho, eu não bateria! Acontece que ele não é...' (Por que será?)”. Gostei também da provocação: se bater é tão bom pra corrigir crianças, por que não permitir que professor@s, e mesmo estranh@s na rua, batam também nos seus filhos? Ah sei, é porque essas pessoas não os amam. Mas você, que bate no filho de cinta, realmente o ama . E essa é a melhor maneira que você tem de demonstrar isso. Ué, quase todo pai que bate no filho o ama. Duvido muito que haja tantos sádicos que sintam prazer em bater. Os pais do guest post sem dúvida amavam a filha que traumatizaram com tanta violência. Apesar de amá-la, eles a jogavam no chão e a puxavam pelos cabelos. Os pais que sem querer mataram a filha na porrada não queriam matá-la, apenas educá-la. Então assuma que a palavrinha chave pra desvendar esse enigma ― por que não deixar que todos sentem a mão no seu filho? ― é essa, seu. É o sentimento de posse, de achar que o filho só pertence a você e a mais ninguém, e é a única coisa que você realmente tem no mundo. Logo, você pode fazer o que quiser com ele, e ninguém deve se meter. É sua propriedade, afinal. Sinceramente, acho esse tipo de pensamento assustador. Atena também provocou: “Pelo que observo na minha família, geralmente os avós não batem nos netos (mesmo os que bateram nos filhos no passado) e têm uma paciência muito maior com estes. Que será que eles aprenderam nestes anos todos que os fizeram mudar de tática?” Ou será que é o sentimento de posse (pais certamente sentem-se mais donos de seus filhos que os avós), o poder absoluto, que corrompe absolutamente e incentiva a violência? Concordo com o que muita gente disse: não bater numa criança não tem nada a ver com não punir. Sabe, achar que quem não bate não estabelece limites é meio que dizer que quem não acredita em deus não tem valores. Nada a ver. Pros pais que não veem alternativas pra violência, só posso dizer que tenho pena de vocês. E muito, muito mais pena dos seus filhos. E digo mais: se vocês baterem nos seus filhos e eu vir ou ouvir, eu denuncio. Vocês não têm direito de ser covardes com uma criança só porque ela é sua. O que vocês achariam de alguém que bate todo dia no cachorro que vive com ele? Pode, só porque é dele? É pra educá-lo? As Supernannies de todos os países em que o programa é feito e exibido são um ótimo exemplo de que bater não educa. Todas as super babás repetem esse mantra, e ensinam a ter autoridade com os filhos sem precisar recorrer à violência. Esses programas são feitos por pedagog@s e psicólog@s. E tod@s são unânimes em dizer que bater em criança só faz mal. Mas, claro, os pais acreditam que sabem mais do que eles. E baseado em quê? Na educação retrógrada que tiveram. Revejam seus valores, pessoas. Só porque seus pais bateram em você não significa que eles estavam certos. Quem pensa que bater é a única (ou a melhor) forma de educar não deveria ter filhos. Simples assim.
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