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GUEST POST: BELEZA NÃO TRAZ FELICIDADE
Recebi este relato da L.:
Oi Lola, primeiramente eu gostaria de dizer que seu blog é perfeito, me considero feminista há mais ou mesmos 3 anos, e seu blog me ajudou demais a ver o quanto eu estava errada em alguns assuntos. Gostaria de contar meu relato. Já começo dizendo a que vim: beleza não traz felicidade. Eu sei de exemplos de modelos, atrizes, cantoras que mesmo sendo O padrão, estão tristes e deprimidas, mas eu sou uma mulher real, de classe média, que "consegui atingir a beleza". Pelo menos isso que me fizeram acreditar.
Bem, minha infância foi normal, era uma menina comum com amigos, até que tive um surto de crescimento, e aos 10 anos já tinha peito, cintura, 1,50 e quebrados de altura. Também espinhas, e engordei um tantinho suficiente para me desesperar, não cheguei a sofrer bullying, mas fui criticada, como se meu corpo desenvolvido fosse culpa minha, e que as cantadas nojentas que eu ouvia de homens adultos fossem culpa minha também. Eu desejava ser magra como as meninas do Rebelde (que eu assistia assiduamente). Lá as meninas magras eram AS top, tinham tudo: meninos, felicidade, riqueza. A única menina obesa da história era diariamente humilhada, e no final ela encontra a aprovação e um homem e tudo fica bem outra vez. Pulando alguns anos, agora tinha 13, meu crescimento estava estabilizado. Eu me apaixonei, normal, mas isso acabou com a minha auto-confiança até hoje: o menino não gostava de mim, me achava feia, fazia questão de falar isso sempre, mesmo os outros muitas vezes desaprovando a atitude dele comigo. Lembro-me de uma vez um menino que antes era um bully, mas tinha mudado, e ficou um menino legal e meu amigo, ele vivia me dizendo: "L., você é tão linda e inteligente, não merece sofrer assim". Mas eu não acreditava, achava que se eu fosse mais magra ele ia se apaixonar por mim, conclusão: mudei o cabelo, emagreci mais, passei a me maquiar. Consegui a aprovação de todos, menos dele, o que me destruiu na época; afinal, pra adolescente tudo é elevado a 1000. O ano acabou e ele saiu da escola e meu amor foi aos poucos diminuindo, mas as marcas ficaram. Como moda é uma coisa que eu amo, me tornei a menina mais estilosa das minhas amigas. Tinha orgulho disso, minha beleza ia desabrochando, logo do nada a patinha feia era a linda, estilosa popular, eu tava nas nuvens, tinha até seguidoras. Mas eu não estava satisfeita ainda, eu ainda era a mesma menina insegura, só que em outra casca. Fiquei extremamente autocrítica, em público vestia uma máscara de descolada, mas em casa ficava horas me olhando no espelho procurando defeitos em mim, sempre me colocava (e ainda me coloco) para baixo, sempre desisto das coisas. Nunca tive um namorado, sou virgem, não porque eu quero mas porque não consigo um homem, não que isso seja o resumo da minha vida, mas eu adoraria ter um namorado que gostasse de mim. Fico aqui e ali mas não passa disso, sou dessas meninas que quando me apaixono, não consigo dizer, fico travada perto da pessoa. Fico passiva esperando o menino chegar em mim, mas nunca dá em nada, estou até a fim de um menino desde o começo do ano, ele sempre me elogia, me chama de gata, mas não gosta de mim, e eu não consigo ser eu mesma. Eu morro de medo de passar pela humilhação que eu passei aos 13 anos, cara, eu já tenho 18 anos e já devia ter superado, mas não superei. Sempre fui meio que a líder das minhas amigas, e elas me veneram. Tenho amigas que estão no padrão como eu, até mais do que eu, e elas são mega felizes; tenho umas que não estão tão no padrão assim e são muito mais felizes do que eu, namoram, riem, transam... e eu fico lá sozinha sempre. Nunca dou o braço a torcer, minto dizendo que não namoro porque EU não quero, quero curtir a vida, entrar para a faculdade, depois pensar nisso, e elas acreditam, então me comporto como tal, vivo de aparência. Vivo escutando delas o quão diva eu sou, queria conseguir dizer que isso é fachada e elas são muito melhores do que eu. Às vezes elas dizem que tem inveja de mim, mas eu que invejo a felicidade delas, os relacionamentos, as transas, queria conseguir me libertar e viver isso também. Certa vez conheci uma menina num show de rock, muito legal, e muito linda, ficamos amigas, ela é gorda, e uma vez ela disse que morreria para ser como eu. Aí eu falei que não era assim, que todos temos a nossa beleza, e que ela vem em vários tamanhos, ela disse que para mim é fácil falar, pois estou no padrão. Ano passado, com a correria do último ano da escola, comecei a comer demais. Meu peso normal sempre fica nos 50 kg no máximo, e tenho 1,64 de altura, mas eu cheguei aos 55 kg, fiquei desesperada. Sei que 55 kg ainda é magra, mas com minha insegurança, achava que logo estaria com 200 kg, decidi cortar TUDO que fosse calórico. Logo eu voltei ao meu peso, mas eu sentia falta das guloseimas, quando um dia catei um biscoito e coloquei na boca foi divino, mas antes de engolir veio a culpa, e eu cuspi o biscoito, até que eu fiz isso no biscoito inteiro, mastigava e cuspia. Faço isso até hoje, não chega a ser um transtorno alimentar, pois eu como normalmente, mas durante a semana compro biscoito e chocolate, mastigo e cuspo no banheiro, assim eu me mantenho magra, e fico com o prazer de comer. Eu sei que é um comportamento estranho, mas sinceramente é uma alegria para mim não precisar mais evitar os alimentos que eu amo. Lola, de verdade, eu gostaria de poder berrar a todas as mulheres do mundo que beleza não traz felicidade, que ela não faz a pessoa nem melhor nem pior do que ninguém. Charme, inteligência, bondade, auto-confiança, isso vem de dentro, e não de roupas bonitas tamanho 36. No mundo real a beleza está no espírito, a mídia diz o tempo todo que a beleza está nos cabelos lisos e na barriga sequinha, mas não está, a maioria as mulheres não têm isso e estão felizes e realizadas.
Meus comentários: L., obrigada pelo carinho, mas tome cuidado. Você fala demais em peso, e isso de comer doces e cuspi-los pode sim ser o início de um transtorno alimentar como a bulimia. Quem sou eu pra dar conselhos sobre comida pra alguém? Mas o ideal seria que você comesse os doces moderadamente, sem culpa. Não creio que alguns biscoitos por dia farão você engordar.Sei que algumas leitoras e leitores vão te criticar, porque você é muito jovem e ainda não aprendeu a lidar com a rejeição. Sabe, acho que todo mundo, sem exceção, já gostou de alguém que não lhe deu bola, ou que nem sabia que a gente existia. Faz parte das nossas experiências, ainda mais quando a gente tem 13 ou 18 anos. E claro que a rejeição mexe com a gente, mas é besteira permitir que ela nos defina. Que só porque aquele carinha não me quis, nenhum vai me querer. Sei que o que você passou aos 13 anos tá fresquinho na sua mente (afinal, foi só cinco anos atrás), mas acredite: quando você chegar aos 25, amadurecer, tiver outras experiências, esse menino que te rejeitou será apenas uma vaga memória. E quando você chegar a minha idade (47), você nem vai se lembrar que ele existiu. Ou talvez eu que tenha amnésia. Então fale com os rapazes, dê em cima daqueles que você estiver a fim, e não se preocupe tanto se vai ou não terminar em namoro. Deixe rolar. E não faça nada que você não queira. Não se deixe pressionar. Tá cheio de gente que nunca namorou e é virgem aos 18, 20, 25, 30 anos... Não tem nada de errado nisso. O ruim é travar quando você tá perto de alguém. Tente não se preocupar tanto se você vai agradar. Muitas vezes é isso que nos faz travar -- essa preocupação excessiva em saber se você está agradando, o que ele ou ela está achando de você. Tente focar em você: o que você está achando daquela pessoa, daquela interação com ela?E sobre beleza não trazer felicidade, é mais comum felicidade trazer beleza.
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