GUEST POST: DIVERSIDADE DE PENSAMENTOS NO ATEÍSMO
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GUEST POST: DIVERSIDADE DE PENSAMENTOS NO ATEÍSMO


Robson é ateu e defensor dos direitos animais, como ele já tratou em ótimos guest posts aqui no blog e, claro, no seu próprio blog, o Consciência. Desta vez, ele faz uma ligação importante (e pouco explorada) entre ateísmo e direitos dos animais. Mas, antes, ele explica como há inúmeras correntes de pensamento entre ateus.

Encontrar pontos de convergência entre os Direitos Animais (DA) e o ateísmo é um desafio. Porque, se se considerar o ateísmo puramente como a descrença em deuses, não há nada que ligue essa mera descrença ao ideal da libertação animal. E há uma enorme diversidade de pensamentos, ideologias e convicções entre os ateus, não havendo nenhum “mandamento ateísta” que exija ou recomende o respeito aos animais não humanos.
Porém, há uma vertente ateísta, em franco crescimento hoje em dia, que, não implicando apenas o não crer em divindades, converge todo um ideário que, no final das contas, acaba tendo sim uma ligação relevante com os DA. Essa corrente é que será abordada em dois posts.
O ateísmo, desde sempre, é marcado por uma enorme diversidade de pensamentos, de ideologias, de hábitos, de identidades culturais, até mesmo de crenças espirituais. No que tange ao pensamento, há ateus otimistas, há os pessimistas, há os realistas, há os que alternam seu astral com frequência. Há aqueles que acreditam fielmente no amor, há os que não acreditam mais, há os céticos que só acreditarão no amor de namorad@ quando começarem a senti-lo... Há os que adoram dinheiro e bens materiais, há os que preferem a simplicidade, há os que só querem dinheiro com moderação...
Nas ideologias, há ateus de esquerda, de direita, de centro, de extrema-esquerda etc. Há ateus socialistas, liberais, conservadores ao molde americano, libertários de direita, libertários de esquerda, anarquistas, anarcocapitalistas, simpatizantes de regimes autoritários, e assim por diante. Tem os ateus pró-laicismo, tem aqueles que sonham em ver o Brasil se tornar um Estado confessional ateísta, tem os que são em cima do muro. Tem os que querem que a liberdade religiosa continue como está, tem os que querem a religião ser proibida por lei, tem os que desejam muito que a religião seja regulamentada por lei – ainda que isso demande uma nova assembleia constituinte no caso do Brasil...
Na Filosofia, há ateu de tudo quanto é tipo: materialista-marxiano, idealista-hegeliano, kantista, platonista, epicurista, maniqueísta, niilista, cientificista, metafísico, positivista, existencialista... Há aqueles também que acham a Filosofia uma perda de tempo.
Também mesmo em termos de espiritualidade, há uma enorme diversidade de crenças entre ateus. Há aqueles bem materialistas, que não acreditam em nada que não seja detectável pelo método científico, não creem em nada sobrenatural ou transcendente. Há também, por outro lado, os ateus que creem no sobrenatural –- por exemplo, em espíritos, em reencarnação espiritual de humanos a humanos, em hierarquia de evolução espiritual, em fantasmas, nas chamadas “ciências alternativas” etc.
Há aqueles que creem que morreu, acabou; há os que acreditam em reencarnação, uns de uma forma, outros de outra. Há os que se inspiram em religiões como o budismo e o taoísmo para delinear sua filosofia de vida, e há os que se baseiam puramente em valores irreligiosos. E assim por diante.
E, dentre os ateus, vem se destacando uma divisão cada vez mais conhecida hoje em dia: os chamados neoateus, que defendem que as religiões sejam erradicadas das sociedades modernas por tudo que suas vertentes fundamentalistas e cleros fizeram ao longo da História humana. Defendem que isso seja feito não com violência, leis draconianas ou outros atos impositivos, mas com pesados investimentos em educação laica; em divulgação do pensamento ateísta, da Ciência e da Razão; na multiplicação de debates – que muitos neoateus infelizmente tratam como batalhas argumentativas perde-ganha ao invés de como processos dialéticos de aprendizagem mútua -– entre ateus e religiosos; no incentivo à cultura secular; entre outras providências.
E outra diferença muito notável entre os ateus é a própria divisão sua entre ateus veg(etari)anos que zelam pelos Direitos Animais e ateus onívoros/carnistas que fazem pouco caso do tema, além de existirem vegetarianos que não ligam muito para os DA e onívoros interessados na questão. Há inclusive aqueles ateus que divulgam o veg(etari)anismo e os DA e também aqueles que, fazendo a contraparte conservadora, defendem a continuidade do livre consumo de alimentos de origem animal e tentam argumentar por que o veg(etari)anismo pelo animais não faria sentido.
O ateísmo ideológico
Além dos neoateus, a outra grande categoria ateísta que chama a atenção, dessa vez com menos reações discordantes e mais aceitação entre o universo ateísta, é uma que combina e unifica diversas correntes de pensamento: o ateísmo em si, o humanismo secular, o ceticismo científico, a filia à Ciência e à Razão e a defesa do Estado Laico -– chamada neste texto de ateísmo ideológico. A combinação é tão forte que alguns teóricos (Åsa Heuser e Camilo Gomes Jr são dois exemplos de ateus que defendem que o ateísmo transcende a simples não crença em deuses e inclui o humanismo secular e o ceticismo científico) hoje dão, pautados nela, uma definição ao ateísmo bem mais ampla do que a de simples ausência de crença em divindades.
De fato conseguem criar algo próximo a uma definição paralela de ateísmo, ou pelo menos uma categoria muito forte, que consiste:
a) na descrença em deuses, envolvida em ricas razões e contextos;
b) no humanismo secular, pautado em causas como a defesa dos Direitos Humanos, das liberdades individuais e da cultura de paz -– alguns o estendem ao antimilitarismo;
c) no respeito devotado à Ciência e à Razão como fundamentos do intelecto humano;
d) no ceticismo científico, oposto a crenças mitológicas, superstições e pseudociências;
e) na defesa do Estado Laico, garantidor da liberdade de crer e não crer no que quiser em termos de religião e não ser molestado pelas religiões por isso e dos direitos de minorias direta ou indiretamente prejudicadas por lobbies religiosos.
E de fato, pelo que se pode aferir quali-quantitativamente nas aglomerações de redes sociais e fóruns de internet, essa é a parcela de ateus que mais vem crescendo entre todas as ideologicamente diversas categorias ateístas. Em números e em notoriedade intelectual. Vem crescendo bastante o número de blogs e associações que, tendo muitos membros ateus, prezam pelo humanismo secular, pela divulgação da Ciência e do pensamento racionalista e pela militância pró-laicidade.
É essa categoria que tem mais a ver com os ideais abolicionistas, ainda que os Direitos Animais não sejam parte integrante dessa nova “definição estendida” de ateísmo. Para apontar as conexões entre essa categoria de ateísmo e o DA, continuo no post do sábado que vem.




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