GUEST POST: ESTUPRO DENTRO DO ÔNIBUS. E NINGUÉM INTERVEIO
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GUEST POST: ESTUPRO DENTRO DO ÔNIBUS. E NINGUÉM INTERVEIO


A T. me enviou o relato da sua mais terrível história de horror:

Primeiro (e como todo mundo) quero te agradecer imensamente pelo blog, ele é realmente muito esclarecedor, e um espaço de acolhimento. Hoje tenho muito orgulho em dizer que sou feminista, e isso começou no teu blog. Mil vezes obrigada!
Eu lia o seu blog há poucos meses quando vivi minha maior história de horror (porque, nessa época, eu não tinha ideia que sair do metrô com o vestido gozado era necessariamente uma violência). 
Eu morava no Rio de Janeiro (onde nasci e fui criada) e estava super contente indo fazer a prova de línguas do mestrado. Peguei o ônibus às 8 da manhã e tudo corria bem, eu ia chegar na universidade a tempo. O ônibus 474 é famoso no Rio por ser bem perigoso, mas eu não tinha muitas opções, e achava que sendo de dia nada de ruim poderia acontecer. O ônibus estava relativamente cheio, em determinado ponto muita gente desceu e assim vagaram alguns lugares, inclusive um ao meu lado. 
Um homem se aproximou e me empurrou para a janela sentando-se em seguida, quando virei para reclamar ele encostou uma faca na minha barriga e eu congelei. Ele beijou meu pescoço como se realmente me  conhecesse e disse no meu ouvido "shhhh, nós vamos levantar e ir lá pra trás, e você não vai fazer nada, vai ficar quietinha", e foi isso o que eu fiz, fui com ele para o último banco do ônibus e fiquei quieta. Me lembro que eu chorava copiosamente, e quanto mais eu me desesperava, mais ele gostava. Enquanto ele me tocava, se masturbava. 
Algumas pessoas perceberam meu desespero e não fizeram NADA, me olhavam com pena, sei lá, mas ninguém fez nada. O ônibus não estava vazio, mas eu me sentia completamente abandonada enquanto era abusada. Quando ele começou a tentar tirar a minha calcinha eu fui tomada por uma revolta que eu nem sei explicar, aquele homem me revoltava e todas aquelas pessoas no ônibus também, e movida por esse sentimento passei por cima dele quase que em um pulo e me joguei pela porta traseira do ônibus, que estava aberta para que algumas pessoas descessem. 
Tremendo atravessei várias pistas movimentadas na Av. Presidente Vargas (uma das mais movimentadas da cidade), até que um guarda municipal me acudiu. Ele me levou para uma delegacia, porque eu mal conseguia explicar o que tinha acontecido. Na delegacia me deram água para que eu me acalmasse e trataram como se não fosse nada de mais o que eu tinha passado. 
E aí eu me lembrei do seu blog e gritei ali que isso estava muito errado e que eu não ia aceitar ser tratada com tamanho descaso. Acabei indo sozinha para a Delegacia da Mulher, onde fiz o BO e fui atendida com dignidade. Perdi a prova do mestrado, mas com o BO consegui o direito de fazer a mesma prova no dia seguinte, e fui aprovada. 
Essa história horrível abriu meu mundo para o feminismo, e hoje doutoranda e casada tenho muito orgulho de dizer que aqui em casa somos feministas (eu e maridão). O marido, que na época era namorado, me deu muito apoio, e junto comigo procurou por atendimento psicológico. Minha família (evangélica) preferiu fingir que nada disso tinha acontecido, e cada vez que eu tentava conversar com meus pais sobre isso eles simplesmente mudavam de assunto.

Meu comentário: É revoltante, T. Não entendo como as pessoas veem o que está acontecendo e não fazem nada. Nem que seja avisar o cobrador ou motorista, ou gritar "Ei! O que está acontecendo aí?" Às vezes é o que basta para impedir aquela agressão.
Parabéns pela sua coragem de reagir (aquilo de seguir o instinto movido pelo medo), de não aceitar descaso na delegacia, de fazer o BO e, claro, de passar no mestrado. É preciso muita força para não deixar que uma história de horror tão hedionda atrase a nossa vida.




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