GUEST POST: FUTUROS MÉDICOS FORMADOS NOS TROTES DA PUC SOROCABA
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GUEST POST: FUTUROS MÉDICOS FORMADOS NOS TROTES DA PUC SOROCABA


Trote dentro do Centro Acadêmico, no campus da PUC, onde trotes são proibidos

A C. me enviou este texto, e também algumas das fotos. É realmente estarrecedor. Sabemos que isso não acontece apenas na PUC, claro. Os trotes devem ser combatidos em todas as universidades.

O que é crime
A faculdade de medicina da PUC-SP está repleta de gente machista e o trote é péssimo (todo trote é meio imbecil, mas o de Sorocaba é dos piores). Alunos e alunas são obrigados a usar o "uniforme do calouro" ao ingressarem na faculdade (e devem usá-lo até a libertação, dia 13 de maio, alusão à libertação dos escravos). 
O uniforme é a camiseta (GG, vendida no kit calouro, 300 reais por uma camiseta custo zero para o Centro Acadêmico, de péssima qualidade e cheia de propaganda atrás), que deve ser usada com calça comprida e sapato fechado. Para as meninas, cabelo preso, tem que ser rabo de cavalo (não pode coque), além disso, nada de brincos, bijuterias ou maquiagem. Para os meninos, cabelo raspado (e não pode ficar "crescidinho", é curto mesmo). Calourx que não segue as regras à risca é hostilizado.
Embora este ano tenham dito que o uso da camiseta não é obrigatório, ele se torna obrigatório a partir do momento em que quem não usa é perseguido. Pouquíssimos calouros não a usam. Nenhum aluno vai querer cometer o "suicídio social" logo ao entrar na faculdade. Alguns alunos ingressantes fazem questão de aderir ao esquema do trote, e não só usam a camiseta, como defendem seu uso com argumentos como "iguala a gente" ou "eu consigo ver quem é calouro e me sinto mais acolhido". Absurdo! Repetem o discurso dos veteranos opressores e não param realmente para pensar que há SIM maneiras muito melhores de integrar a galera, e que reconhecer seus colegas pelo rosto é o mínimo de humanidade que se espera (ao invés de reconhecê-los apenas pelo uniforme).
Com a conivência dos professores:
aluno com cone de cachorro faz
tutoria ao lado do professor, 2013
Enfim, é um blábláblá sem fim defendendo o uso da camiseta. Só que não é só isso. Você tem que usar o cabelo preso. Você tem não pode usar brinco. Você não pode deixar a franja solta que logo aparece uma veterana para berrar com você no meio do corredor da faculdade: "Caloura. A franja. Prende agora!" 
Além das calouras não poderem se arrumar, elas também não podem ficar com veteranos, e também não é bem visto que fiquem com calouros. "Vai que ela fica com o namorado de alguém?", foi a explicação que eu ouvi. Se as calouras desrespeitam, levam bronca, e, é claro, trote: comer alho, cebola, limpar a casa de uma veterana, ser xingada (puta é sempre uma palavra muito utilizada).
As veteranas são machistas. Elas organizam o "chá das calouras" dentro do prédio do Centro Acadêmico. É uma festa onde as calouras se dividem em times, para uma gincana onde as provas são "chocar um ovo" ou "imitar sexo oral em um pepino". As calouras que topam participar tem que beber ou pinga ou "ranço" (opção "saudável" para aquelas que não bebem álcool), que é uma mistura de várias coisas como ovo, farinha, água, e ninguém sabe mais o quê. 
Calouras são fantasiadas de
cactus por veteranas
As calouras são pintadas e rolam na farinha, ficam imundas. Algumas são identificadas com plaquinhas penduradas sobre o pescoço, com dizeres como "sou puta", ou "só não sou puta porque dou de graça", "miss big mac -- a mais comida", ou algum apelido em função de alguém que a caloura tenha ficado. Muitas das calouras que participam amam. 
As calouras que são chamadas de putas repetem o xingamento a outras calouras, no ano seguinte. Aliás, toda a opressão que os calouros sofrem é para ensiná-los a serem "humildes". Mas, veja só, no ano seguinte eles poderão oprimir os recém chegados, pois serão hierarquicamente superiores, uma verdadeira lição de humildade.
Clique para ampliar e ver os calouros
nus, ao fundo, à esquerda
Falei do que acontece com as meninas, mas com os meninos não é melhor: eles apanham e vivem bêbados pela faculdade. Alguns chegam a aparecer machucados e sujos para ver aula. E, curiosamente, são estes que jamais se posicionam contra o trote. Os que mais participam e mais apanham. 
Quem questiona tudo isso é execrado. Uma vez uma amiga fez um post questionando esse "hábito" de chamar as calouras de putas, e a xingaram muito.
Recentemente, com a CPI, alunos da PUC foram intimados a depor para falar das violações aos direitos humanos na faculdade. O primeiro a depor, o Rodolfo, foi ameaçado de diversas formas pela internet. Os demais alunos depoentes também foram ameaçados de perseguição dentro dos hospitais.
Na CPI, contamos sobre o que acontece de modo geral e ainda demos depoimentos pessoais. Eu sofri uma agressão física de um aluno em uma festa ao defender uma caloura que não estava com o cabelo preso (as regras de cabelo e roupa valem também para as festas, até dia 13 de maio, quando é a libertação). Uma colega  levou várias copadas de cerveja na festa de libertação, pois ela não usou a camiseta. Outro levou um soco, logo que entrou na faculdade, pois se cansou de ficar pulando na piscina da atlética e disse que estava com frio. Outra teve que fazer as tarefas das veteranas durante o período do trote. 
Enfim, são muitos relatos e muita opressão. Recebi, no meu ano de ingresso, por inbox de facebook,  o relato de um colega: segundo ele, ele apanhou, sem roupa, caído no chão, num ensaio de bateria. Hoje ele é super blasé em relação ao assunto trote. 
Numa república, com professores.
Repare na frase escrita na parede:
"Gordas não são bem vindas"
A violência já está banalizada. A faculdade adotou algumas medidas para reduzir o problema do trote, mas não adianta pois ela não se coloca realmente contra o trote. Inclusive há professores trotistas. No meu ano de ingresso, um professor pediu a uma aluna trotista que anotasse os nomes dos alunos que não usavam camiseta. Agora, há relatos de professores que andam com a foto de um dos depoentes em seus celulares, para persegui-lo.
Pouquíssimas pessoas se solidarizam com a nossa causa. Sempre nos chamam de exagerados. Falam mal do GAP -- Grupo de Apoio ao Primeiranista, grupo que criamos para acolher os calouros dentro de uma proposta diferente de recepção, sem trote e sem violência. O grupo que organiza intercâmbios não quer fazer um evento sobre DIREITOS HUMANOS com o GAP, pois disse que ninguém irá se o evento levar o nome do GAP.
Em 2013, o GAP fez um relatório sobre o que acontece na faculdade, com ideias de melhorias. O documento foi entregue à direção e à reitoria. Foi protocolado e tudo. Vale dizer que, na CPI, a assessoria jurídica da PUC teve a cara de pau de falar que não sabia de nada e que não recebeu denúncia de trote em 2013. Ela recebeu um documento inteiro discorrendo sobre o trote. 
É isso. Precisamos sim de ajuda! E ideias também! Cansamos de ser odiados e não conseguir mudar porcaria nenhuma. Enquanto isso, a formação universitária dos médicos está péssima e sem nenhuma reflexão. Formam-se seres desumanos, preconceituosos e sádicos.




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