GUEST POST: HOMENS, APRENDAM A RESPEITAR
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GUEST POST: HOMENS, APRENDAM A RESPEITAR


Débora tem 22 anos, é secretária em SP, e me enviou seu relato:

Embora eu me considere feminista desde pequena, sou uma feminista em formação, e foi em busca de matérias sobre esse assunto que acabei caindo no seu blog. Portanto, gostaria de parabenizar não só você mas também todas as leitoras e leitores que ajudam a transformar esse blog numa importante ferramenta de aprendizado para aqueles que como eu querem se aprofundar no tema do feminismo.
Ano passado saiu o resultado de uma pesquisa elaborada pelo site Think Olga, como parte da Chega de Fiu-Fiu, uma campanha contra o assédio sexual em espaços públicos (o site acabou de lançar um mapa de locais perigosos). Os resultados infelizmente não foram uma surpresa: das 7762 participantes, 99,6% delas afirmaram que já foram assediadas. E 83% afirmaram que cantada não é algo legal.
O que me deixou revoltada é que SEMPRE tem alguém disposto a defender esses caras. Alguns homens afirmam que mulher gosta sim de receber esse tipo de “atenção”, e algumas (poucas) mulheres até confirmam.
Como números parecem não ser suficientes para conscientizar algumas pessoas desse mal que nós mulheres somos obrigadas a enfrentar dia após dia, vou relatar alguns casos de assédio que já sofri. Para mim, forçar uma mulher a toda uma situação de desconforto com um comentário de baixo calão vindo de um homem que ela nunca viu é abuso.
Já fui assediada diversas vezes, mas quatro delas ficaram pra sempre na minha memória. A primeira foi quando tinha 11 anos: eu estava voltando pra casa após comprar pão de manhã e um homem por volta dos seus 40 anos fez questão de atravessar a rua, chegar bem perto de mim, me olhar de cima a baixo e me chamar de gostosa. Eu entrei em pânico e sai correndo de volta pra padaria.
Numa outra ocasião, eu estava voltando para casa com a minha mãe. Já era noite, eu estava de moletom e gorro, e ainda sim um grupo de homens que passava de carro se achou no direito de gritar delícia. Eu e minha mãe ficamos com muita vergonha por termos sido igualadas a um pedaço de carne. Continuamos nosso trajeto, quietas, caladas.
Certa vez estava andando na rua e um carro passou por mim. Seu motorista fez questão de dar a volta na quadra, reduzir a velocidade e perguntar “Quantos anos você tem?” Continuei andando e ele disse: “Vai gatinha, dá um sorriso pra mim”. Mandei ele ir pro inferno e me deixar em paz, então ele respondeu: “se toca sua mal-comida, baianinha esquisita!”. Quer dizer que só porque eu estava andando num local público meu corpo também se tornou patrimônio público? Eu deveria escutar esse tipo de afronta e ficar calada? Como tive coragem de levantar a cabeça e responder, fui premiada com uma avalanche de ofensas de uma pessoa que nunca me viu.
No assédio mais recente, eu estava voltando do trabalho. Depois de um dia cansativo, ao sair do metrô senti uma mão batendo na minha bunda. Olhei pra trás e o indivíduo ainda fez questão de dar aquela típica piscadinha de cafajeste. Não pensei duas vezes e dei um tapa na cara dele, e qual foi sua reação? Me deu um empurrão que por pouco não me derrubou no chão. Daí começaram as ofensas: ele me chamou de puta, pistoleira etc.
A reação das pessoas a minha volta foi se afastarem e me deixarem ali sendo humilhada em público sozinha, correndo o risco de tomar uma surra de um homem que nunca vi. Comecei a xingar ele também e fui me afastando, e mesmo eu estando longe do seu campo de visão, ele continuou me xingando aos gritos.
Quando cheguei em casa chorei muito e neste momento, enquanto escrevo esse depoimento, minhas mãos estão tremendo ao lembrar esses episódios e outros que sofri mas que prefiro não comentar.
O que peço é para que os homens tentem entender que existe um universo de diferença entre humilhar, objetificar e fragilizar uma mulher e fazer um comentário do tipo “Você está muito bonita” -- mas isso para uma mulher que você conheça e tenha o mínimo de intimidade, ou para uma mulher que já demonstrou se interessar por você.
Não estou pedindo para que os homens andem com uma venda nos olhos, mas será que seria pedir demais um pouco de respeito? Chamar uma criança de gostosa não é elogio; mexer com uma mulher no meio da rua e, depois que ela demonstrar que não está a fim, passar a ofendê-la, não é nada agradável. Passar a mão numa mulher é crime. Eu e a maior parte das mulheres não nos sentimos elogiadas quando fazem isso conosco. Eu me sinto como se deixasse de ser um ser humano e me transformasse num objeto!
Lembrem-se, homens, cada vez que vocês abordam uma mulher desconhecida e tomam esse tipo de atitude, a única coisa que vocês conseguem é assustá-la. De “brinde”, vocês propagam toda uma cultura de violência contra a mulher que não afeta apenas a mulher assediada, mas também sua irmã, sua mãe, sua filha.
Homens não são animais irracionais que não sabem se controlar ao ver uma mulher. Não custa lembrar: são os homens que devem aprender a respeitar, não as mulheres a temer.




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