GUEST POST: O FEMINISMO ME MOSTROU QUE SOU VÍTIMA CONSTANTE DA VIOLÊNCIA
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GUEST POST: O FEMINISMO ME MOSTROU QUE SOU VÍTIMA CONSTANTE DA VIOLÊNCIA


Relato da L.:

Bom, o primeiro abuso do qual me lembro foi quando eu tinha uns 3 anos. Estava na casa da minha avó e fui pra varanda fazer algo da qual eu não me lembro, meu tio-avô (hoje já falecido) estava sentado em uma cadeira e me chamou pra sentar em seu colo e eu fui. Eu estava de saia e ele começou a me acariciar por cima da calcinha, achei aquilo muito esquisito e sabia que não era certo... porém não sabia muito o que fazer, uma vez que aquilo não me causava dor, além do mais fica aquela confusão "ele é meu tio, então não me faria mal".
Só fui admitir pra mim que havia sido abusada com uns 13 anos.
No segundo abuso do qual me lembro eu tinha uns 5 ou 6 anos. Estava doente e minha mãe me levou ao pediatra. Eu estava só de calcinha e ele estava me examinando (com minha mãe na sala), mas o consultório dele era no 2o andar e a recepção era no 1o. Minha mãe desceu rapidamente pra fazer algo e nesse meio tempo ele abaixou minha calcinha e me acariciou.
Fato que relatei imediatamente à minha mãe, então ela soube que já haviam três queixas contra ele (como ele continuava exercendo?). Ela o confrontou e ele negou. Minha mãe me diz que preferiu não levar a situação adiante pra não me expor (hoje me pergunto se ela não tinha medo dos julgamentos, por ter me deixado sozinha na sala).
O 3o abuso do qual me lembro eu tinha 13 e estava na 7a série, o professor de informática cismava em ter uns contatos que  eu achava abusivos, beijo no rosto, toques que eu achava inapropriados. 
Os outros abusos foram os clássicos de todas as mulheres: passadas de mão por parte de desconhecidos nas ruas, cantadas agressivas. Ano passado um homem se masturbou ao meu lado no ônibus e me encarando ainda por cima, me senti muito indignada e impotente. E se ele me agredisse fisicamente caso eu gritasse? Ele estava bem de pé ao meu lado (eu estava sentada), de forma que o pênis dele estava próximo ao meu rosto.
Na cara de pau ele enfiou a mão por dentro da calça (daqueles materiais tipo nylon) e começou a se masturbar. O máximo que fiz foi pedir ao senhor que estava do meu lado pra trocar de lugar, expliquei a situação e o velhinho, coitado, ficou todo constrangido e indignado.
Cheguei em casa e chorei. O pior foi ter que ouvir meu namorado na época perguntando "Você gostou?". 
Esse mesmo ex-namorado inclusive já me agrediu no meio da rua, ele estava bêbado e um porre, querendo chamar atenção. Diante da minha negativa quando pediu um beijo, ele me agarrou à força de frente pra ele, eu estava com uma saia curta, e como ele é bem mais alto que eu enquanto ele me agarrava ele meio que me suspendia e assim minha saia levantava, mostrando minha bunda. Bem atrás da gente tinha um bar lotado, então eu falei "Cara, além de vc estar me machucando as pessoas estão vendo minha bunda", e ele me respondeu "foda-se". 
Tive que beijá-lo mesmo forçada e assim ele me soltou e fomos andando pra casa. Quando chegamos exatamente em frente ao bar ao qual me referi ele apontou o dedo bem no meu rosto o empurrando e falou "Nunca mais me trate do jeito como vc estava me tratando, porra!" (por eu não querer beijá-lo quando estava bêbado), todo mundo olhando, me senti um lixo. Chegando em frente de casa ele não me permitia entrar, segurava meu braço muito forte (fiquei com marcas roxas). Comecei a chorar de medo dele me bater, medo do meu pai ver e rolar uma tragédia.
Ele me chamava de ridícula, dizia que eu estava me fazendo de vítima. Só me soltou quando ameacei gritar. Entrei pro quarto e ele foi atrás de mim, quando eu disse que ele era um babaca e que eu contaria pra todo mundo o que ele havia feito ele me empurrou e eu bati contra a parede. Só aí gritei pelo meu irmão que foi pra cima dele com tudo, felizmente não rolou mais nada, ele pediu desculpas ao meu irmão e tal.
Se eu fosse contar todos os abusos que sofri na vida apenas por ser mulher ficaria aqui por horas. Engraçado que nunca fiz o tipo de mulher delicada e que abaixa a cabeça, mas é extremamente difícil reagir nessas situações... inclusive por isso me sentia mais envergonhada. Apenas recentemente descobri que todos esses casos pelos quais passei tinham origem na mesma coisa, graças a esse blog inclusive.
Fico pensando em quantas mulheres não se sentem culpadas por esse tipo de coisa. Eu mesma me culpei por um tempo antes de entender. Eu pensava "não é possível que esse tanto de coisa já tenha acontecido comigo, será que eu faço alguma coisa que desperte isso nos homens?". O feminismo me fez entender que a culpa não era e não é minha. Durante muito tempo (até uns 15 anos ) fiquei com medo de homens. Eu já até namorava, mas quando minha mãe mandava eu ir à rua pra comprar algo eu detestava ir sozinha porque sabia que ia ser assediada. Entrar em birosca pra comprar refrigerante então era um pesadelo, pois esses lugares normalmente ficam abarrotados de homens bêbados.
O pior é que quando eu falava pra minha mãe "Ah não vou não, lá tem muito homem", ela me mandava parar de besteira. Mas não era besteira, ao longo da minha vida fui assediada moral e sexualmente apenas por homens. O pior é que isso me traz problemas sexuais. Comecei a namorar meu atual namorado há quatro meses e me gabava pra esse meu namorado que eu raramente negava sexo pros meus ex namorados, como se isso fosse louvável! Durante esse meu namoro com ele comecei a negar e isso começou a me angustiar. Até que percebi que não negava sexo pros meus ex namorados simplesmente porque pensava que aquilo fosse minha obrigação. Não negava, mas fazia sem vontade. E só agora que aprendi a dizer não, admiti isso pra mim.
Engraçado ver que nenhum dos meus agressores eram pessoas de todo ruins. São sujeitos considerados normais pela sociedade. Ontem vi uma estatística na qual se dizia que uma entre cada duas mulheres já sofreu agressões apenas por serem mulheres. Pensei "impossível", pois acho que duas entre duas mulheres já passaram por essas situações, elas apenas não sabem ou não admitem que foram agredidas.
O feminismo clareou minhas ideias quanto a isso tudo, me mostrou que não sou única. Serei feminista enquanto não puder sair às ruas sem ser agredida.




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A S. me mandou este relato já faz um tempinho: Eu acompanho seu blog já faz alguns anos. Com 17 anos comecei a acompanhar com mais frequência e depois com 19  a ler praticamente todos os textos e assim faço até hoje, já com 21 anos. Te admiro....

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A L. me enviou este email: Eu sempre fui muito machista, criada por uma família bem conservadora (especialmente por parte de pai), e nem sequer percebia o quão perigoso isso pode ser. Mas agora eu leio o seu blog e outros de vez em quando, tento aprender...

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S. me enviou este relato devastador: Sempre achei que o feminismo era uma coisa nata em nós mulheres. Olha que ignorância. Achava realmente que se o feminismo é a busca pela nossa liberdade e igualdade. isso seria óbvio para todas nós -- como não?Mas...

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Este relato da L. é tão terrível quanto comum. Acontece direto. Sua reação é a mesma da maior parte das vítimas de abuso.Aliás, recomendo muito, tanto para a L. como para todxs xs leitorxs, que leiam Eu Sei Por que o Pássaro Canta na Gaiola,...



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