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GUEST POST: O ANO MAIS LONGO DA MINHA VIDA
N, que hoje tem 22 anos, me enviou este relato de um relacionamento fadado ao fracasso desde o começo.
Comparando o meu caso aos outros, o meu parece bem besta, mas não deixa de ser algo que me afetou, que machucou, e eu imagino que só não foi pior porque eu saí na hora certa. Quando eu tinha 18 anos, conheci um rapaz de 23 numa balada. Não lembro exatamente como foi que o conheci, como começamos a conversar... Eu estava muito bêbada.
Trocamos telefones e no outro dia ele me ligou. Ele ia ter que se ausentar por uma semana e depois que voltasse iriamos fazer alguma coisa. Durante essa semana, ele me ligava todo dia e falava que não parava de pensar em mim e que mal via a hora de voltar pra me encontrar de novo. Eu ria porque nunca gostei de sentimentalismo, mas gostava porque nunca tinha namorado de verdade e pensava nessa possibilidade. Quando ele voltou, marcamos de nos encontrar em um lugar da minha cidade onde tem vários bares. Eu fui com meus amigos e ele apareceu depois; foi tudo normal. No outro dia, um sábado, marcamos de nos encontrar à tarde na praia. Ele me pediu em namoro e me deu uma aliança. Achei aquilo bizarro, tínhamos acabado de nos conhecer e ele já queria algo sério. Eu não queria aceitar, mas da forma que ele falou não me restava escolha. Aceitei: eu tinha um namorado, uau.
Nessa noite fomos a mesma balada em que nos conhecemos. Meus amigos e amigas estavam todos lá, mas ele não queria que eu conversasse com ninguém, ficava toda hora me chamando, me puxando pelo braço. Meus amigos deixaram claro que não foram com a cara dele e eu disse que era só um namorinho bobo, que logo ia passar. Mesmo assim, Lola, eu percebi que estava me metendo em coisa ruim e que muita coisa ruim viria pela frente. [Nota da Lola: Meninas, quando perceberem algo assim, sigam sua intuição e terminem o relacionamento. Sério! Faça o teste]. Meus amigos são todos homossexuais e ele não gostava disso. Achava estranho, não aceitava. Não aceitava eu ter amigas lésbicas e nem amigos gays. O relacionamento foi seguindo. Muitas brigas, muito controle. Ele viajava a trabalho, então ficava duas semanas aqui e duas semanas fora. Quando ele estava fora, me ligava toda hora querendo saber o que eu ia fazer, para onde eu ia, com quem eu ia. Quando ele estava aqui era uma tortura, eu só podia ficar na casa dele, não podia ver minha mãe direito, minha família, sair com meus amigos.
No começo eu achava normal, mas com o tempo percebi que era sufocante. Ele me reprimia por minha condição social ser melhor que a dele, pela minha mãe ganhar bem, por eu morar num bairro bom, por ter estudado numa escola cara. Ele achava que eu não era digna por ser de classe média alta e que ele era melhor do que eu por ter vindo de um berço mais humilde. Falava que os amigos riam dele por namorar uma "patricinha metida a alternativa, underground".
Lembro de um dia que ele chamou minha mãe de dondoca. Fiquei com muita raiva. Logo minha mãe que sempre trabalhou para ter as coisas, que me criou sozinha sem a ajuda do meu pai, que alcançou tudo que tem sozinha, que nunca precisou de homem nenhum e que ainda trabalha -- e muito. Aliás, minha mãe nunca apoiou o relacionamento, ela achava humilhante e tinha medo que coisas ruins acontecessem. Ela não queria isso pra filha dela. Meus amigos pensavam o mesmo, eles viam como eu estava mal, isolada, triste.
Era muito complicado, eu ficava mais tempo na casa dele no que na minha casa. E eu ficava lá, querendo ir embora. Ele tinha umas ideias exageradas, queria ter um filho, queria morar comigo. Eu falava que isso podia acontecer, mas não agora, que ainda era cedo. Ele falava que tinha ser agora, fazia drama para eu morar com ele, falava que era ele ou minha mãe. A gente brigava muito. Ele falava que eu era gorda, reclamava das roupas que eu usava, da cor do meu cabelo, de tudo. Minha autoestima vivia no pé. Com o tempo, minha personalidade foi se modificando e eu comecei a ser controlada por ele. Eu não respirava mais. Eu queria ser livre, mas não conseguia. Minha maior felicidade era quando ele viajava: eu podia passar os sábados com minha família, sair e rir com meus amigos. Eu podia ser feliz. É claro que ele ligava toda hora, mas eu mentia e conseguia aproveitar um pouco. Um dia eu ia pra casa dele, mas quando eu estava no caminho ele ligou e disse que não era para eu ir. Ele estava pintando a parede e eu tenho alergia à tinta.
No outro dia ele me liga e diz que tinha uma coisa pra contar. Ele disse que tinha ficado com uma menina que viu na rua. Minha reação foi de espanto, fiz um draminha, mas no fundo não liguei, achei ótimo porque podia usar como pretexto para uma separação. Ele chorou, disse que estava arrependido. Apesar de tudo, o relacionamento continuou, mal, mas continuou. Tudo que eu queria era terminar, mas eu tinha medo, e ele era dramático e manipulador. Um dia eu disse que não aguentava mais e decidi terminar, e o chão dele caiu. Eu já tinha falado outras vezes que queria terminar, mas essa foi séria.
Ok, terminamos, mas fizemos a besteira de continuar a nos ver. Um dia decidi acabar tudo de vez. No outro dia ele me ligou com raiva, falou um monte de coisa, disse que me amava, que nunca ia esquecer de mim, que eu era a mulher da vida dele. Falou que fomos feitos um para o outro, que ia me seguir... Fiquei com medo, Lola, muito medo. Já ouvi histórias parecidas com essas, de homens obcecados que acabam matando a ex. Eu comecei a me isolar, não queria mais fazer nada. Ele me ligava todos os dias e falava que iria onde eu fosse, que faria tudo para voltar, que era capaz de tudo. Saí com meus amigos e o encontrei no local. Ele toda hora puxava meu braço, queria falar comigo, ficar comigo, queria que eu fosse pra casa dele. Eu fui forte e não caí, mais uma vez, na conversa dele. Eu estava cansada, e um amigo meu me levou até o táxi. Eu tinha que atravessar uma rua perigosa que costuma ter assaltos e atropelamentos. Um dia ele me viu com um amigo e mandou uma mensagem pro meu celular: "E aí p*ta, deu muito para aquele cara?" Eu não respondi, mas ele mandou outras e eu respondi algo do tipo "O que eu faço não é da sua conta".
Decidi, junto com minha mãe, que o melhor a fazer era deletá-lo das minhas redes sociais. Mudei também o número do celular. Deletei ele da minha vida. Mas fiquei muito tempo com medo. Um dia eu o vi com uma moça, fiquei feliz. Soube depois que ele ia ter um filho, isso me fez muito bem. Meu medo já havia passado e eu estava vivendo minha vida de novo. Eu só espero que essa moça esteja feliz e não esteja passando pelo que eu passei. [Ela provavelmente está passando pela mesma coisa, N.]
Foi só um ano, foi pouco, mas foi horrível. Foi o ano mais longo da minha vida, nunca mais namorei depois disso, tenho medo de encontrar alguém igual. Estou bem, mas temo ser controlada dessa forma de novo. Lembrar disso só me faz perceber como fui boba e idiota. Ainda bem que eu acabei cedo, se eu continuasse sabe lá o que ia acontecer.
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