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GUEST POST: MEU NAMORADO NÃO QUERIA, MAS FIZ UM ABORTO
Enquanto isso, no Uruguai...
Recebi este relato da L. em agosto. Meu nome é L. e tenho 22 anos. Há um mês fiz um aborto.Me descobri grávida uma semana antes de fazer o procedimento. Uma gravidez já bastante adiantada (estava com sete semanas). Fui a um exame de rotina ao ginecologista. Nunca vou esquecer o médico me dando a noticia e minha reação -- dizer que era impossível. Afinal, eu estava fazendo um tratamento, tomava anticoncepcional, menstruei. Eu simplesmente não podia estar grávida. Mas estava. Foi como tomar um soco na cara. Só acreditei naquilo quando eu vi o exame de sangue. Eu não chorava, mal conseguia falar. Saí do consultório, já certa que não queria aquilo. Fiz o que me pareceu mais certo. Falei com R, o "pai" (por telefone pois o pai mora em outro estado). Ele, que sempre quis que eu fosse viver com ele, disse: "Ótimo. Assim você vem morar aqui comigo, eu vou praí no final de semana, falo com seus pais e você já vem pra cá. Resolvemos tudo".Foi nesse momento que comecei a chorar. Eu só consegui responder a ele que casar só me traria mais um problema. Que casar com ele não me deixaria menos grávida.Então naquele momento eu entendi que teria de fazer tudo sozinha. Pois eu não poderia abrir mão de um emprego, de uma faculdade por terminar, dos meus amigos, da minha cidade, do convívio com minha família, enfim, da minha vida, por conta de algo que eu nem sabia como podia ter acontecido, pois me precavia para que não acontecesse.Sabia que não podia falar com meus pais. Eles jamais concordariam com minha decisão, por conta da religião deles (ambos são católicos praticantes). Comuniquei a R. minha decisão. Antes de desligar o telefone na minha cara, ele disse que mandaria um dinheiro pra vagabunda que ia tirar o filho dele. No dia seguinte tinha 500 reais na minha conta e chegava na minha casa via sedex três comprimidos de Cytotec. Pra quem queria tanto uma família ele foi bem rápido em resolver o problema, não acha?Não tinha tempo nem pra pensar nele naquele momento. Num relacionamento que eu havia querido manter, e agora numa pessoa que eu detestava. Recorri a uma amiga que mora sozinha com a filha, contando a ela toda a situação e pedindo que ela me deixasse usar a casa dela. Assim como falei com outro amigo, pois tinha medo que algo pudesse dar errado e ele ajudaria no processo. Fui pra casa dela às oito horas da noite. Tomei um comprimido e introduzi dois outros pelo canal vaginal. Foram as horas mais tensas da minha vida. Eu sentia tanto medo, tanta culpa, que eu mal conseguia encarar a filha da minha amiga que brincava enquanto eu iniciava o processo. Mas eu já tinha tomado aquela decisão. Usei os procedimentos indicados por um médico (pois não podia ir até uma clínica, além de muito mais caro, eu sou alérgica a muitos medicamentos), e fiz o que eu tinha de fazer.Além de toda a tensão, há as dores. Multiplique as cólicas menstruais por três ou quatro. Eram as dores que eu sentia hora após hora, naquela madrugada. Eu só lembro da minha amiga repetindo que ia passar, que tudo ia ficar bem. Era quase dia quando senti finalmente descer. Senti dores por mais dois dias, com meus amigos do meu lado, me abraçando, me confortando, de uma maneira que eu nem tenho como agradecê-los. Fiz exames, e todo processo tinha ocorrido bem. Lola, honestamente, eu nem sei o que me fez escrever sobre isso. Nem sei se você vai ler este texto! Ao mesmo tempo que é uma experiência que eu quero esquecer, acho importante dividir com alguém que talvez transmita empatia pelo que me aconteceu. E acontece com tantas outras aqui, em todos os lugares do mundo. Não tenho medo do julgamento alheio, mas no nosso país abortar é crime. Eu sei dos motivos que são meus e me levaram a fazer isso. Não me arrependo, mas me culpo. E muito do que me fez ter força pra seguir em frente tem sido o que eu leio no seu blog. Agora mais do que nunca busco forças pra lutar para que mulheres tenham condições e estrutura (em todos os sentidos) caso elas decidam fazer um aborto. Essa é a grande questão pra mim: esse é o tipo de decisão que só cabe a quem passa pela situação. Você não concorda?Minha resposta: Concordo totalmente com você. A decisão é sua, de mais ninguém. Cabe à mulher decidir, e pronto. Pro homem é mais fácil: não vai ser ele que vai ter que carregar o bebê no ventre, talvez ter que largar o emprego e a faculdade, e isso é só o começo. Depois que nasce é a sua vida que muda completamente, não a dele. E se seu namorado respondeu tão rapidamente te chamando de vagabunda, é sinal de que você teria uma vida a dois infernal. Não se sinta mal, querida. Acontece com muitas mulheres. Na realidade, um quarto das gestantes têm aborto espontâneo, não provocado, nos primeiros 2 ou 3 meses. É muita gente. Você apenas provocou esse aborto, mas não era um ser formado, não era um bebê, não era uma criança, não era uma pessoa. Era um projeto de vida que foi interrompido. Isso não te impede de ter um filho quando for a hora certa.Lembre-se que a mulher que faz aborto no Brasil é, em média, casada, católica, já com filhos... E fico muito feliz que seus amigos te ajudaram tanto. L. responde: Nossa, Lola! Muito obrigada por sua resposta rápida! Estou muito feliz e surpresa também!Estou superando tudo isso aos poucos, tem dias que são melhores, tem dias que são piores, mas estou aprendendo a levar. Nunca quis ter filhos e nem quero. Pode ser que eu repense isso no futuro, mas nunca tive esse desejo. Meu ex-namorado ainda tenta me perturbar, ligando, mandando msgs e emails, com ameaças de contar pra todos o quanto eu não valho nada, coisa que ele não vai cumprir (acredito). A culpa é um processo que vai demorar a passar, mas um dia ela vai embora, estou certa disso.
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