GUEST POST: O GINECOLOGISTA ME FEZ PASSAR MAL
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GUEST POST: O GINECOLOGISTA ME FEZ PASSAR MAL


A T. me enviou este relato:

Esse é o primeiro e-mail que mando para você, mas já leio seu blog há mais de dois anos. Confesso -- e acho normal -- que nem sempre concordo com as opiniões expressas por você ou pelos autorxs dos guest posts, mas nunca deixo de ver a atualização do dia. Acho seu blog extremamente importante como ferramenta de disseminação de ideias e ideais, e também como veículo de informação. Não fui a primeira e nem serei a última a ler um post no seu blog e finalmente entendido e aceitado que foi vítima de algum tipo de violência. E por isso, agradeço de coração.
Bom, o meu "causo" é algo que já há tempos venho querendo escrever, mas sempre vem aquela sensação de que não foi nada, de que talvez eu tenha interpretado errado, de que perto de casos tão terríveis o meu não foi nada. Mas, lendo o post da Ligia Moreiras Sena, sobre violência obstetrícia, finalmente tomei coragem para escrever e mandar este e-mail. 
Tenho 25 anos e desde os 15 vou ao ginecologista. Fiz sexo pela primeira vez aos 17 e aos 18 realizei meu primeiro papanicolau, tudo certinho como mandam as recomendações. Como mudei de cidade algumas vezes (e também de plano de saúde), passei por diversos médicos. Todos até hoje foram homens, e sempre fui muito bem tratada, com respeito e cuidado. Até uma vez, no ano passado.
Eu estava morando em Campinas, no interior de São Paulo, e trabalhava em uma empresa que oferecia plano de saúde aos funcionários. Como eu não conhecia nenhum médico que atendesse pelo plano, pedi indicações aos outros funcionários para fazer um check-up geral. Minha chefe, então, me indicou o ginecologista dela, que era -- nas palavras dela -- "maravilhoso".
Peguei o telefone, marquei a consulta. Na época eu estava noiva (hoje sou casada), e meu então noivo veio me acompanhar ao consultório. Porém, na hora de entrar eu pedi para ele ficar na sala de espera (nunca gostei de ter outras pessoas comigo durante consultas). Entrei na sala e o médico demorou mais uns 15 minutos para me atender. Até aí, sem problemas, médicos são pessoas ocupadas, mesmo.
Assim que ele entrou, me cumprimentou e checou o formulário que eu havia preenchido ao chegar. Ao ver que eu tomava a pílula, imediatamente começou a falar sobre como este método contraceptivo era péssimo, que fazia muito mal ao corpo da mulher. Ainda achei normal, cada médico tem uma opinião diferente sobre o assunto.
Aí ele me perguntou quem era o moço que tinha ficado lá fora. Eu disse que era meu noivo, e ele me perguntou se eu o "conhecia bem". Fiquei sem entender, e comecei a dizer que tínhamos feito exame de HIV e tudo, mas ele me interrompeu. "Não, não estou falando disso. Você sabe se ele pode ter filhos?". Na hora fiquei meio chocada, mas respondi que não havia pensado nisso. Ele passou então um sermão sobre como era importante saber isso, porque caso ele não pudesse ter filhos eu deveria pensar melhor se queria mesmo me casar com ele, e se quisesse eu nem precisaria tomar a pílula (eu tomo a pílula desde os 15, porque sempre tive um fluxo muito intenso).
Logo em seguida ele começou a emendar que eu deveria colocar um DIU, que o DIU era o melhor contraceptivo, que nos países desenvolvidos ninguém mais toma pílula, só usa DIU e tal. Eu já estava com a cabeça meio zonza e já nem discutia mais.
Então chegou a hora de fazer o papanicolau. Ele me indicou a sala separada, o banheiro, e me disse para ir tirar a roupa. Entro no banheiro e -- surpresa! -- não tem nenhuma camisola daquelas que a gente põe para fazer o exame. Tive que sair do banheiro completamente nua, desfilar na frente dele e deitar na maca para ser examinada.
Ao realizar a coleta, ele me diz que estou "cheia de pus" no colo do útero, e que isso é causado pela pílula. Quando eu digo que achei estranho, porque não tive nenhum tipo de sintoma, corrimento, nada, ele diz "Ah, mas está bem machucado por aqui, quer ver?", e cutuca a parede do meu útero com o coletor. 
Foi uma dor tão forte que eu soltei um grito, aí ele diz "Viu só?" e me mostra o coletor com um pouco de sangue.
Exame encerrado, ele volta para o consultório e eu caminho para o banheiro, ainda com o útero dolorido e com pensamentos terríveis na cabeça. "Pus no útero? Isso é culpa minha! Agora posso até nunca poder ter filhos! Como fui deixar isso acontecer?"
Não sei se por causa do útero dolorido, da visão do sangue no coletor, da imagem do meu útero "cheio de pus" ou tudo junto, mas ao chegar no banheiro tive uma tontura tão forte que precisei me sentar e esperar uns minutos antes de me vestir e voltar ao consultório.
Terminada a consulta, ele me entrega um pedido de espermograma para meu noivo fazer, e não me passa nenhum exame, nenhuma receita, nada. Só uma recomendação: pare imediatamente com a pílula.
Saí da consulta tremendo, confusa, com vontade de chorar. Ainda marquei um retorno, porque até então o discurso aterrorizador dele havia me convencido.
Só fui perceber que havia sofrido uma violência com o passar do tempo, conversando com meu marido, com minha mãe, com uma amiga ginecologista que me disse para procurar outro médico (o que fiz, e ele não encontrou nada, muito menos pus, no meu útero). Mas o que me ajudou mesmo a entender a violência foi o fato de eu já seguir o seu blog há um tempo.
Por isso resolvi mandar este e-mail. Porque mesmo que eu mesma me diga que meu caso não foi assim tão grave, meu corpo inteiro estava tremendo enquanto eu o escrevia. A sensação de ser humilhada, violentada, de ter minha vontade jogada no lixo por um profissional que deveria se preocupar somente com o meu bem estar é algo que ainda me perturba.
Durante a consulta, também, enquanto ele insistia para que eu colocasse um DIU, houve um único comentário que me fez despertar um pouco do transe em que eu estava. "Já que você vai casar, eu recomendo o DIU. Se você tivesse uma vida promíscua, muitos parceiros, aí eu não recomendava, não, porque o DIU aumenta o risco de transmitir DST". E se eu fosse noiva e "promíscua"? E se eu tivesse muitos parceiros, todos com camisinha, isso ainda me deixa em um grupo de risco maior do que fazer sexo sem camisinha só com o meu marido?




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